A Figueira dos Amores, famosa árvore envolta na lenda de Pedro e Inês, um dos romances mais trágicos da história de Portugal, acaba de ganhar o segundo lugar no concurso europeu Tree of the Year, que, este ano, tinha 15 árvores a concurso. Localizada junto à Fonte dos Amores, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, esta árvore centenária da espécie ficus macrophylla, conhecida como figueira-da-baía-de-Moreton ou figueira-australiana, recebeu 43.427 votos e foi suplantada apenas pela árvore carinhosamente chamada Heart of the Dalkowskie Hills, ou o Coração das Colinas Dalkowskie, uma faia situada no parque natural das Colinas Dalkowskie, na Polónia, e que recebeu 147.553 votos, ficando em primeiro lugar.
Nativa da Austrália, a ficus macrophylla é uma árvore de grande porte, com raízes aéreas que se estendem e criam suportes adicionais para os seus ramos. Reza a lenda que a Figueira dos Amores terá nascido a partir de uma estaca que Inês de Castro enterrou no chão, tornando-se assim um símbolo do amor proibido entre ela e o infante D. Pedro. Mas não é verdade até porque a árvore não é sequer contemporânea dos dois amantes, uma vez que só foi introduzida em Portugal no século XIX. Acredita-se que tenha sido plantada pelo botânico Luís de Carvalho e Mello, então diretor do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. A associação com a lenda de Pedro e Inês veio depois, tendo-se então tornado um símbolo do amor eterno.
A ficus macrophylla não tem raízes diretamente no solo e tem uma particulariedade algo desconcertante que faz com que seja também conhecida como figueira-estranguladora. No seu habitat natural, cresce inicialmente sobre outra árvore, lançando raízes que, ao alcançarem o solo, a tornam autónoma e acabam por estrangular o hospedeiro. Os seus ramos tocam a terra e regeneram-se, o que faz dela um símbolo de resistência e eternidade. Não deixa de ser curioso que uma árvore com estas características tenha sido plantada justamente aqui, na Quinta das Lágrimas, famosa pelos seus jardins românticos e pelo canal onde, segundo a lenda, correram as lágrimas e o sangue de Inês de Castro após o seu assassinato, tingindo a pedra de vermelho para sempre – uma ocorrência que tem, certamente, uma explicação mais científica e menos romântica.
O concurso Tree of the Year teve origem em 2011 e, desde então, celebra anualmente árvores com histórias significativas, promovendo a consciencialização para a preservação do património natural. A edição de 2025 contou com a participação de 15 árvores emblemáticas de diferentes países, com a votação a decorrer online entre 3 e 24 de fevereiro de 2025.