Uma garrafa de Coca-Cola devolvida à procedência, uma epopeia cheia de emoções e um desfecho feliz depois de momentos dramáticos. Foi desta forma, tal como no filme de 1980 a que pedimos o título emprestado, que a tribo lusitana ultrapassou a fase de grupos do Euro 2020. Num jogo de absoluta loucura, entre Portugal e França, numa reedição da final do torneio de há cinco anos, os portugueses voltaram a dar-se bem com o rival gaulês e, com um empate certo, qualificaram-se para os oitavos de final do torneio de que são campeões em título.
Frente a França, Fernando Santos mudou o 11 inicial, com as desejadas inclusões de João Moutinho e de Renato Sanches e, com a preciosa ajuda de Cristiano Ronaldo, sempre inspirado a converter grandes penalidades, esteve a ganhar (no primeiro lugar do Grupo F), a perder (eliminada do torneio) e, finalmente, a empatar a dois golos. Em consequência disso, ‘CR7’ igualou o melhor marcador do mundo por seleções, um iraniano chamado Ali Daei que é conhecido apenas nos eixos Elvas-Lisboa e Faro-Bragança.
Se, ao contrário de Margarida Rebelo Pinto, os portugueses acreditarem em coincidências, a seleção está no bom caminho. O humilde terceiro lugar nacional ditou um confronto com a Bélgica, onde jogam Hazard, Witsel, Lukaku, Kevin De Bruyne entre outros ‘craques’. Com um registo perfeito de nove pontos durante a fase de grupos, sete golos marcados e apenas um sofrido, os belgas estão entre as equipas mais fortes do torneio e são o adversário ideal para impedir que o meio-campo português adormeça em jogo.
À mesma hora, em Munique, a Alemanha empatava com a Hungria. Após a polémica entre a federação alemã, que pretendia iluminar o Allianz Arena com as cores do arco-íris em apoio à comunidade LGBTI, e a UEFA, que o impediu, os germânicos atiraram os húngaros para o último lugar do grupo. Viktor Orbán, que aprovou recentemente uma lei discriminatória da comunidade LGBTI – Portugal, que preside ao Conselho da UE, manteve-se neutro –, cancelou a deslocação a Munique e esquivou-se a assistir ao agridoce empate magiar ao vivo. Com o segundo lugar garantido, os alemães terão como próximo adversário a Inglaterra, em Wembley, na partida provavelmente mais apelativa dos ‘oitavos.’ O último encontro entre as duas seleções remonta a 2016, numa reedição da final do Mundial de 1966, que os ingleses venceram, também em solo britânico, por 4-2.
Entre as 24 equipas que iniciaram o torneio apenas Itália fez melhor do que os belgas, terminando o Grupo A com três vitórias, sete golos marcados e nenhum consentido, após uma vitória na última ronda por 1-0 frente ao País de Gales. Num grupo que contava ainda com os também apurados País de Gales e Suíça e uma Turquia demasiado perdulária para seguir em frente, os italianos limitaram-se a passear a sua classe dentro do campo. Já fora dele, foi o treinador Roberto Mancini, blazer dobrado, mãos nos bolsos, fato de corte irrepreensível e postura de Senador romano quem garantiu o prémio de ícone de estilo do torneio. Na próxima fase, os italianos terão pela frente a equipa austríaca, que se qualificou no segundo lugar do seu grupo, com seis pontos, resultado de duas humildes vitórias contra a Macedónia do Norte e a Ucrânia. Ainda que com apenas três pontos, os eslavos apuraram-se e vão enfrentar a Suécia.
No campeonato dos ‘pequenos’, os oitavos de final reservam-nos um País de Gales x Dinamarca ao passo que os ‘grandes’ Países Baixos enfrentam a República Checa, a Espanha joga com a Croácia e os irredutíveis gauleses com os suíços.
Numa flash interview com galões parlamentares, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, apelou a uma "deslocação massiva" (sic) de portugueses a Sevilha neste domingo, 27, para a partida com a Bélgica. A segunda figura do Estado falava certamente para os habitantes de Elvas, Faro ou Bragança. Com a área metropolitana de Lisboa em lockdown, valha-nos o futebol na TV.