Um extenso estudo conduzido na Suécia e publicado a 13 de dezembro surpreendeu ao revelar um paradoxo intrigante: pessoas diagnosticadas com hipocondria – um medo excessivo de doenças graves – têm uma probabilidade significativamente maior de morrer mais cedo em comparação com aquelas que não são hípervigilantes em relação à saúde.
O estudo, divulgado na revista JAMA Psychiatry, examinou a vida de suecos diagnosticados com hipocondria, uma fobia a doenças que continua a dividir os cientistas. Surpreendentemente, aqueles diagnosticados com a condição apresentaram uma probabilidade maior, 84%, de morrer de várias doenças, com ênfase em problemas cardíacos, sanguíneos, pulmonares e suicídio.
O investigador David Mataix-Cols, professor de neurociência e psiquiatria no Instituto Karolinska de Estocolmo, expressou a surpresa em relação à descoberta paradoxal. "Estas pessoas preocupam-se tanto com a saúde e a morte e, apesar disso mesmo, acabam por ter um risco maior de morte", disse em entrevista ao The Washington Post.
O estudo, que analisou dados do censo sueco e bancos de saúde de 1997 a 2020, confirma ainda que a hipocondria pode afetar significativamente a qualidade de vida. Além do risco de mortalidade, os hipocondríacos tendem a ser pessoas com menos habilitações em comparação com aqueles sem a condição.
Mataix-Cols levantou ainda a preocupação de que a hipocondria seja subdiagnosticada, o que poderia aumentar ainda mais os riscos de morte quando os casos não diagnosticados são considerados. "Há talvez uma tendência para relativizar as preocupações dos hipocondríacos sobre a sua saúde como sendo inventadas", continuou o cientista.
O stress crónico é também apontado como um possível fator contribuinte para a expectativa de vida reduzida dos hipocondríacos, levando a comportamentos de automedicação com álcool e drogas. Além disso, alguns pacientes podem evitar a ajuda médica devido ao medo de um diagnóstico grave.
Embora as descobertas sugiram uma ligação entre a hipocondria e um maior risco de morte, Mataix-Cols enfatiza que há tratamentos eficazes disponíveis. Terapias cognitivo-comportamentais e medicamentos antidepressivos são recomendados, mas o investigador destaca que a maioria das pessoas afetadas não recebe esses tratamentos.
Mataix-Cols espera que mais atenção e recursos sejam direcionados ao cuidado das pessoas com hipocondria, incentivando uma abordagem mais ampla e eficaz para o tratamento dessa condição. "Temos bons tratamentos", diz o especialista, "e a maioria das pessoas não os recebe".