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Está em casa e com fome o tempo todo? Saiba como evitá-lo

É bem possível que em tempos de quarentena a sua fome (ou aquilo que julga ser fome) aumente desmesuradamente. Entenda o porquê e, depois, evite sucumbir ao pecado da fome-falsa.

20 de março de 2020 | Pureza Fleming
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Quando comecei a trabalhar a partir de casa, já lá vai um par de anos, uma das coisas que me apercebi é que estar em casa revelava-se um tanto ou quanto perigoso no que respeita a fome (ou, diria antes, a vontade de comer). E porquê? Porque passar dias seguidos em casa (apesar das naturais pausas — não estava de quarentena) pode ser extremamente aborrecido. E o aborrecimento, por sua vez, pode muito bem ser uma das principais causas para a vontade de comer — que está longe de ser fome, enquanto necessidade fisiológica. Assim, tive de reaprender a conviver com a comida em casa.

Vi-me forçada a delinear hábitos saudáveis que, como em tudo na vida, após muita prática acabaram por se tornar naturais. E então essa mania de ir procurar conforto na comida em momentos de tédio, passou. "Para a maior parte das pessoas, comer não é só um ato fisiológico", assegura a nutricionista Mariana Abecasis. "Existe uma parte emocional que condiciona o apetite. Na maioria das vezes não são necessidades reais, mas a verdade é que procuramos na comida conforto e consolo". Converso com aquela nutricionista por telefone, estamos ambas em casa e distraímos-nos enquanto trabalhamos — e, caro leitor, conforme verá mais à frente, manter-se distraído é meio caminho andando para o combate a "essa" fome que o assola. Mariana Abecasis explica que, em tempos como os que estamos a presenciar, em que andamos mais ansiosos, talvez até tristes e preocupados (cada caso é um caso), este tipo de fome que em nada é uma necessidade, pode despontar. "É natural que esta fase de isolamento mexa com o sistema nervoso e emocional das pessoas, no geral. E, como estamos em casa, temos mais disponibilidade para comer. No quotidiano normal passávamos tanto tempo em correria que, muitas vezes, até nos podíamos esquecer de fazer certas refeições, já que estávamos sempre ‘muito ocupados’. Porém, em casa temos mais atenção aos nossos sentimentos. É realmente provável que se sinta mais fome nestas circunstâncias que estamos a testemunhar".

Além disso, existe uma vertente psicológica muito forte que se prende com a questão da disponibilidade dos alimentos: "Só de se saber que se pode vir a não ter acesso a certos e determinados alimentos, fica-se com mais vontade de os ter e de os consumir", adianta aquela nutricionista. Perante este cenário, como contrariar este tipo de fome "falsa" e como assegurar uma quarentena saudável, física e psicologicamente? Mariana Abecasis aconselha.

 

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  1. Antes de mais, nesta fase é importante racionar as coisas de forma inteligente, programar as refeições. Por exemplo, utilizar primeiro os alimentos que se estragam com maior facilidade e consumir mais para a frente aqueles que apresentam uma validade mais alargada.

  2. É essencial prosseguir com alguma estrutura alimentar, ou seja, continuar a fazer refeições definidas em vez de se ir petiscando, ininterruptamente, ao longo do dia. O acto de petiscar faz com que a nossa cabeça perca a noção daquilo que realmente ingeriu — ou não.

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  3. Manter as refeições, ainda que não seja necessário que se façam todas — pequeno-almoço, meio da manhã, almoço, lanche, jantar… Até se pode reduzir o número de refeições, mas as que escolhermos fazer deverão ser facilmente identificadas pela nossa cabeça como refeições.

  4. Dentro do possível, deveremos munirmos-nos de alimentos de boa qualidade e evitar ter tentações em casa, pois é possível e provável que o aborrecimento nos leve a desejar alimentos nocivos.

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  5. Se possível, manter o hábito da sopa, já que esta ajuda a regular o apetite. Começar sempre o almoço e o jantar com um prato de sopa pode fazer muita diferença no controle da gula.

  6. Nunca esquecer os líquidos! Sem rotinas pode acontecer esquecermos-nos de ingerir líquidos. A hidratação é importante (mesmo numa perspectiva de infeção). As pessoas com mais dificuldades em beber água podem fazer o seguinte: ao pequeno-almoço enchem um bule grande de uma infusão a gosto e vão bebendo ao longo do dia — o facto de se tratar de uma bebida com sabor auxilia a combater o apetite e a gula.

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  7. Manter algum exercício — dentro do que é possível fazer-se em casa. Uma energia demasiada concentrada não é uma energia real. É fundamental que se equiparem os nossos cansaços físico e psicológico. O exercício ajuda a canalizar o stress de outra forma e assim não nos desforrarmos na comida.

  8. Arranjar um calendário (nunca de forma rígida) com tarefas que nos entretenham ao longo do dia: arrumar aquela divisão da casa que andamos a adiar há tanto tempo, por exemplo. Mantermos-nos úteis ajuda a que o apetite fique mais estável.

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  9. Optar por lanchinhos benéficos para o controlo do apetite. Em vez de atacar os hidratos de carbono mais simples e as farinhas refinadas, escolha snacks mais ricos em fibra e conjugue-os com uma proteína: por exemplo, aveia com iogurte proteico, umas tostinhas integrais com um ovo cozido ou ainda frutas mais ricas em fibras, como o kiwi ou a manga, com duas ou três colheres de cottage por cima.

  10. Por fim, tentar não ficar muitas horas sem comer e mantenha as refeições estruturadas.

 Se ainda assim a sua pseudo-fome subsistir, telefone a um amigo, partilhe, dance, cante, e acima de tudo distraia-se. Não vai querer acabar a quarentena sem o vírus, mas com mais dez quilos em cima, vai?

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