Os trabalhadores raramente detiveram tanto poder. Pela primeira vez desde que começou a haver registos, existe menos do que um desempregado à procura de emprego por vaga de trabalho. Aos gestores com falta de mão de obra poucas opções restam senão estarem recetivos às exigências de trabalho remoto, aumentos salariais e até aos apelos por semanas de quatro dias.
Mas agora o pêndulo está a começar a pender a favor dos patrões. Receios da recessão que se avizinha estão a desgastar os nervos dos gestores em contratação: as ofertas de emprego nos site de carreiras Indeed já começaram a rarear nas últimas semanas e as conversas de despedimentos mais do que duplicaram nos últimos três meses na página da Glassdoor, na internet.
Na melhor das hipóteses, uma recessão significa que os empregadores simplesmente congelam os salários – embora isto venha a doer, numa altura em que a inflação atingiu o pico mais alto dos últimos 40 anos, ao atingir os 9,1%. No pior cenário, poderá significar ciclos de lay-offs e taxas mais elevadas de desemprego.
Mas há uma mão-cheia de indústrias que são menos sensíveis à saúde generalizada da economia – e em que os negócios continuam a correr como de costume, mesmo em caso de recessão. O Telegraph revela quais são as melhores indústrias para se encontrar um emprego à prova de recessão e como garantir um deles para si.
Victoria McLean, da consultora de carreiras CityCV, afirmou que os empregos na área dos cuidados de saúde estão bastante bem protegidos contra as recessões. "Iremos sempre precisar de médicos, enfermeiros e prestadores de cuidados de saúde", disse ela.
Jack Kennedy, do Indeed, sublinhou os cuidados pessoais como uma indústria-chave para quem procura emprego e quer ter estabilidade. Um escassez de trabalhadores neste setor significa que os salários estão a subir muito rapidamente. O Indeed descobriu que as indústrias de cuidados pessoais e de saúde ao domicílio registaram um aumento salarial anual de 9,2% em abril, acima do valor da inflação.
Na maioria dos casos, para se tornar uma prestador de cuidados pessoais ou de saúde implica completar uma aprendizagem ou bacharelato, tais como um certificado de primeiro nível em especialização em Saúde e Cuidados Sociais ou um diploma de nível 2 em Prestação de Cuidados.
McLean também salientou a Educação como uma área que se mantém relativamente imune à recessão. Ser professor exige igualmente qualificações específicas. Uma das vias mais comuns [no Reino Unido] é a Formação Inicial de Professor ou Programa de Treino, que é um curso de bacharelato que leva três ou quatro anos a tirar.
Se já tiver um bacharelato noutro curso diferente, pode fazer uma pós-graduação de qualificação como professor, ou tirar o certificado de pós-graduação em Educação (PGCE) ou o diploma de licenciatura profissional em Educação (PGDE), que demora nove meses.
Kennedy destacou ainda os empregos nos serviços de emergência e de manutenção, como sendo dos que se mantêm relativamente à prova de recessão.
"Os trabalhadores de segurança e utilidade públicas são sempre necessários. Os empregos nestes setores tendem a ser menos voláteis, mesmo considerando o impacto de possíveis cortes governamentais nas despesas."
Lauren Thomas, da Glassdoor, acrescentou que a procura era especialmente grande por eletricistas e canalizadores devido à escassez de trabalhadores qualificados. "Aptidões técnicas altamente especializadas ajudam a escudar os empregados das recessões", disse ela. Ambas as profissões exigem um curso ou certificação de uma escola, instituto ou formação profissional.
Nos serviços de emergência, tais como os departamentos de polícia e bombeiros, quem procura emprego terá, de igual modo, de ter um curso universitário, de um instituto superior ou uma formação profissional. A polícia oferece dois programas de licenciatura formais: trabalhar no sentido de obter um posto como agente da polícia de ronda de bairro ou como detetive. Ambos levam dois anos a completar.
Muitos "empregos à prova de recessão" requerem aptidões altamente especializadas, mas também há outros com nível de iniciado, que são fiáveis durante as crises económicas. Kennedy apontou o caso dos empregados do setor do retalho, em supermercados.
"Repor produtos nas prateleiras e trabalhar em lojas que prestam serviços essenciais à população local proporciona o desempenho de postos de trabalho com alguns dos níveis de segurança no emprego mais elevados que há", disse ele.
Não há requisitos fixos para os trabalhadores de supermercados, embora alguns empregadores possam exigir o secundário completo, com Matemática e Inglês obrigatórios [no Reino Unido]. Ter experiência prévia no setor do retalho também irá ajudar as candidaturas.
McLean avisou que a chamada "Grande Demissão" poderá agora estar a chegar ao fim, à medida que o ambiente de incerteza económica foi tornando os empregadores mais hesitantes no que toca a novas contratações de pessoal sem qualificações.
Contudo, a responsável alertou que não era demasiado tarde para os trabalhadores procurarem uma mudança. "Apesar da iminente crise económica, este atual sopesar da oferta e procura [de trabalho] não acontece muitas vezes. Se estiverem dispostos a correr o risco, e se forem rápidos a mexer-se, podem sair a ganhar", disse ela.
"Cerca de 85% dos cargos são ocupados através de redes de contactos e não pelos canais tradicionais. Construam uma rede de contactos com pessoas da carreira que estão a considerar seguir, quer seja em eventos ou online, tais como no LinkedIn. Procurem formações gratuitas ou subsidiadas ou descubram oportunidades de voluntariado. É também importante ter em consideração as aptidões (skills) e experiência que já tenham que podem ser úteis na vossa nova carreira e propagandeiem-nas."