Um dos investimentos mais importantes da Elevation Partners, antiga empresa de capital de risco de Marc Bodnick, foi apostar 210 milhões de dólares no Facebook antes de a empresa abrir capital. Mais de uma década depois, Bodnick tenta criar uma rede social sem as falhas que o Facebook e outras plataformas passaram a ter.
Na última quinta-feira, o antigo dono da empresa de capital de risco e executivo na área da tecnologia - cuja cunhada é Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook - revelou formalmente o Telepath, um serviço com base em interesses que visa promover conversas online. A rede, que inicialmente estará disponível apenas por convite, tenta incutir padrões rígidos de conteúdo desde o início, incluindo uma regra contra a desinformação e o discurso de ódio. Os utilizadores têm de usar a sua identidade real e fornecer um número de telefone válido para se inscrever. "Seja gentil" é a primeira regra do site. "Não estamos muito focados na forma de uso do TikTok, em que as pessoas partilham vídeos, ou em pessoas que partilham imagens", disse Bodnick, cofundador do Telepath. "Estamos realmente focados em promover conversas mais longas, que envolvam as pessoas que partilham o mesmo interesse e as aliguem a outras que provavelmente não conheciam antes." Bodnick disse que o Telepath deseja limitar as contas a pessoas reais, ou seja, sem empresas ou editoras.
Bodnick inspirou-se nos primeiros dias da Internet, quando plataformas como o Facebook ajudavam usuários a conhecerem pessoas e a partilharem ideias sem se preocuparem tanto com a animosidade, o discurso de ódio ou a desinformação. "Foi um alagar de horizontes", disse sobre entrar no Facebook. Mas Bodnick acredita que há muitas pessoas como ele que estão a "abandonar as plataformas tradicionais", e que gostariam de um lugar para encontrar estranhos novamente e ter discussões sérias online. O Telepath permite que usuários acompanhem temas, como jogos de computador, humor político e mudanças climáticas, e que assim contribuam para discussões em grupo sobre estes assuntos.
É claro que os fundadores do Telepath encaram o site como uma alternativa a serviços como o Facebook e o Twitter, mesmo que não o digam explicitamente. "O início da Internet era um lugar realmente bom para [ter conversas], mas as redes sociais existentes já não servem esse propósito", escreveu o CEO Richard Henry num blogue.
"Elas promovem a crueldade ao recompensar o conflito e a hostilidade, distribuem desinformação rapidamente e promovem a polarização por meio de algoritmos."
Bodnick e Henry não são os primeiros empresários a sonhar com uma rede social mais agradável, confiável e mais limpa. Os que vieram antes do Telepath - sites como Path, Google Plus, Ello e Secret - não conseguiram ganhar muita força. O maior ativo do Facebook continua a ser a sua rede de utilizadores, que agora totaliza mais de 3 mil milhões de pessoas por mês. Apesar dos desafios do Facebook nos últimos anos em relação à confiança dos consumidores, ainda existe a sensação de que a maioria das pessoas continua a usar a rede social, o que atrai outras pessoas a permanecer por perto.
Os primeiros usuários do Telepath reúnem grandes nomes dos sectores da tecnologia e capital de risco, incluindo o diretor do Instagram, Adam Mosseri, o cofundador do Spotify, Daniel Ek, Bill Gurley, sócio da Benchmark, e o escritor e produtor de Hollywood Brian Koppelman. É comum que os primeiros aplicativos de consumo atraiam um grande público de Sillicon Valley, embora isso raramente se traduza para o mainstream.
Bodnick diz que as pessoas que desejam ter discussões aprofundadas não se limitam a cidades como Nova Iorque e São Francisco. "Eu gostaria de pensar que podemos tornar-nos realmente grandes", disse, mas acrescentou: "Não precisamos ser uma das maiores redes sociais do mundo para construir algo valioso."