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Diploma ou aptidões? O que importa para os empregos do futuro

De acordo com um estudo feito nos EUA, 93% dos freelancers com uma licenciatura afirmou que as formações em que participaram já no mercado de trabalho foram mais úteis do que a universidade.

Foto: IMDb
18 de março de 2020 | Vitória Amaral
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O ritmo acelerado da inovação tecnológica e socioeconómica está a transformar as indústrias, mudando também as competências de que os trabalhadores necessitam e encurtando, ao longo deste processo, a vida útil daquelas até à data adquiridas pelos mesmos. Nos setores em maior mutação como, por exemplo, a robótica, em vez de substituir completamente as categorias profissionais, a reestruturação do setor tende a substituir tarefas específicas anteriormente executadas, libertando os trabalhadores para se focarem em diferentes objetivos e aprenderem rapidamente as competências básicas da sua nova função.  

O estudo, intitulado Freelancing in America, realizado em 2018 mas apenas publicado na passada quarta-feira, revelou que os freelancers (atualmente o segmento que cresce com maior velocidade dentro do mercado de trabalho) dão mais valor à aquisição contínua e infinda de competências: dos 6 001 trabalhadores norte-americanos com diploma universitário que foram questionados, 93% diz que as formações feitas no trabalho foram mais úteis do que o conhecimento adquirido na universidade, enquanto 79% afirmaram que a universidade foi de facto útil para o seu emprego atual. Destes, 70% eram freelancers a tempo inteiro que afirmaram ter participado em formações profissionais nos últimos seis meses, comparado a apenas 49% de quem trabalha a tempo inteiro fora do freelancing.

Este é o quinto estudo conduzido pelas empresas Edelman Intelligence, a Upwork e a organização Freelancers Union. As novas conclusões apontam para algo mais abrangente do que o mercado de trabalho, consequência da mudança tecnológica dos últimos anos.

De um ponto de vista geral, os diplomas ainda são vistos como carimbos de competência garantida. Tendem a criar uma sensação de segurança, perpetuando a ilusão de que o trabalho- e o conhecimento que requer- é estático, o que nos dias que correm não é. Um relatório do World Economic Forum (WEF) realizado em 2016 revelou que "em muitas indústrias e países, as ocupações ou especialidades mais procuradas não existiam há 10 ou 5 anos, e o ritmo de mudança só tende a acelerar".

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Essa mesma mudança veio para ficar. Segundo a WEF, 65% das crianças que hoje entram na escola primária vão acabar em empregos que ainda não existem. Estas novidades não são exclusivamente académicas, basta olhar para os nossos pais e avós que tiveram, em média, um emprego durante toda a vida, enquanto a tendência atual é de passar por vários ao longo da vida. As previsões da WEF apontam mesmo para que se tenham vários trabalhos em simultâneo.

E as empresas estão e entrar na onda. No ano passado, a PwC iniciou um programa piloto que permitia a pessoas com o ensino secundário trabalhar como contabilistas e consultores em gestão. Igualmente, o site de emprego Glassdoor publicou uma lista de 15 empresas que não pedem um diploma, que incluía gigantes da tecnologia como a Apple, IBM ou a Google. O site ainda afirmou que "há cada vez mais empresas que oferecem empregos bem pagos para quem prosseguiu estudos alternativos ou tem apenas o diploma do secundário".

No entanto, a universidade está longe de ser um desperdício de tempo e dinheiro. A diferença é que cada vez mais se está a tornar num mercado direcionado para as capacidades, e nenhuma universidade poderá isolar os seus estudantes da imprevisibilidade que o progresso tecnológico nos traz. Com ou sem diploma, a mentalidade de que o processo de aprendizagem nunca termina é algo a considerar.

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