"Honey I’m home!" é aquela frase que ao, longo dos últimos tempos, não se ouve em casa nenhuma de família espalhada por esse mundo fora — salvo raras excepções em que um dos membros, por alguma razão, ainda tem de ir trabalhar. Em pleno período de confinamento ou até de quarentena, por motivos de Covid-19, tantos os "honeys" como as "honeys" estão, permanentemente, em casa. Deixou de haver aquelas oito horas de distanciamento (pelo menos) entre o casal. Aquele intervalo — que é basicamente o dia todo —, em que cada um tem a sua vidas: os seus trabalhos, os seus almoços com os amigos, as suas atividades… longe um do outro.
E se se costuma dizer que a rotina pode dar cabo de muitas relações, o que dizer de uma que obriga as pessoas a estarem confinados ao mesmo espaço físico, 24/7? A vida não é um Big Brother, mas o que este tipo de programa nos mostrou é que não é nada incomum que as pessoas se irritem (para não dizer mais) quando ficam presas num só lugar por um período prolongado. O distanciamento social em conjunto, imposto pela covid-19, não é um modelo confiável para aquele que seria um ideal de se viver junto e, portanto, não significa necessariamente que perante o possível e provável desespero, o casal coloque de imediato a hipótese de separação em cima da mesa. "Estar com alguém 24 horas por dia, sete dias por semana pode, sem dúvida, trazer à superfície o pior, até mesmo nos melhores relacionamentos… E terminar um relacionamento durante uma crise ou sob pressão pode, não só aumentar o stress geral, como também ser injusto para o casal", explica a terapeuta de casal Lesli Doares ao site Bustle. "É fulcral conseguir separar o que é realmente um problema do que é apenas uma consequência do casal passar muito tempo junto", remata.
A terapeuta de casal Catarina Mexia sublinha esta ideia: "Há uma regra a reter nesta altura que é a de não se tomar decisões importantes numa altura de crise! Esta é uma situação profundamente stressante, que tem um grande potencial para gerar e agravar situações de conflito. Se a separação já era algo que considerava, aproveite este tempo para fazer um diário em que registe como está a ser o seu dia-a-dia, as emoções que experimenta, como está no processo, os seus desejos e as suas esperanças, o que é que você não quer que aconteça e o que é que você acha que seria a sua vida após um divórcio. Este exercício va ajudá-lo a manter as suas emoções sob controle e a permitir um sentimento de esperança no futuro".
De facto, enfrentar uma relação "complicada" na área claustrofóbica que se pode tornar a própria casa não é uma tarefa fácil de se lidar e muito menos de se digerir. Catarina Mexia confirma: "Dificilmente se lida com uma situação destas…" E deixa alguns conselhos que visam ajudar um casal em apuros: "É importante que se procure organizar as tarefas domésticas e os deveres parentais separadamente de tal modo que cada um possa ter um tempo de pausa e não coincidam nas mesmas. Esta situação diminui a probabilidade de conflito e protege as crianças da exposição ao mesmo. É igualmente essencial que cada um cuide de si mesmo. Que encontre maneiras de se conectar com os amigos por telefone. Que tire um tempo para desacelerar e para respirar". Aquela terapeuta sublinha que, em casos extremos, é essencial que se procure a ajuda de um profissional, não só na área da saúde mental, mas também da mediação familiar: "Tal pode ajudar a que se faça uma melhor gestão das emoções e confere ainda uma maior capacidade de resistência à frustração de se lidar com uma situação de confinamento com um parceiro que já não é a nossa escolha", refere.