O telefone toca. O número não lhe é estranho. Desconfia que talvez seja daquela empresa para a qual concorreu, recentemente, para um novo cargo. Confirma-se, é mesmo dessa empresa. Querem marcar uma entrevista. À alegria sentida, os nervos que, sem dó nem piedade, resolvem tomar conta do momento deixando o contentamento para segundo plano. Afinal, ainda nada está ganho e há uma entrevista pela frente. Não faz a mínima ideia de como será a pessoa que o vai entrevistar (quem ligou foi a secretária), mas tem uma semana pela frente para se preparar. Preparação essa que promete fazer toda a diferença.
Antes da entrevista
No livro Ask a Manager: Clueless Colleagues, Lunch-Stealing Bosses, and the Rest of Your Life at Work (2018), Alison Green cede algumas orientações (que ela própria diz serem " the ultimate guide") de como se preparar para este momento — de forma a que se apresente confiante e pronto para dar respostas sólidas, porém elegantes, a qualquer uma das questões colocadas.
- Comece por passar algum tempo no site da empresa. Leia tudo o que puder acerca da mesma. O objetivo não passa, naturalmente, por conhecer a empresa, mas sim de tentar entender como é que esta se vê a si mesma. Conheça os valores pelo qual esta se rege e, acima de tudo, o que a difere da concorrência. Dessa maneira poderá demonstrar como se encontra tão dentro dos parâmetros que esta defende — e como isso faz de si um candidato ideal. Afinal, great minds think alike.
- Mergulhe a fundo na função para a qual concorre. Analise cada linha da descrição do cargo a que se propõe. Para cada uma das responsabilidades exigidas, bem como das qualificações solicitadas, tenha exemplos concretos relativos ao seu passado profissional que possa apresentar e que demonstrem, de forma clara, como pode ser um forte candidato — como por exemplo, uma altura em que tenha enfrentado um desafio específico e de como foi particularmente bem sucedido nesse caso.
- Escreva cada uma das questões que muito provavelmente serão abordadas e pratique as respostas em voz alta, as vezes que forem necessárias. Será uma aposta segura que faça perguntas tais como: por que é que está a ponderar deixar o seu emprego atual? O que é que o atraiu neste cargo e o que é que o levou a candidatar-se? Quais são os seus pontos fortes e fracos? Que experiência tem (preencha com as principais responsabilidades do trabalho)?
- Tente entender quais as questões cujas respostas o deixam mais nervoso. Muitas vezes, quando se teme que um determinado tópico surja numa entrevista (por exemplo, uma demissão no passado ou mesmo qual o salário que se procura), é comum que não se prepare essas repostas. O que não é positivo pois, se elas surgirem — e é provável que surjam —, o que irá acontecer é que os nervos levarão a melhor e o resultado pode ser catastrófico para a entrevista (uma má resposta pode arruinar três boas respostas). Assim, é importante que trabalhe até naqueles tópicos que não desejava enfrentar e que os prepare tão bem quanto todos os restantes.
- Por fim, mentalize-se que preparou a entrevista da melhor maneira possível e relaxe. Se ainda assim os nervos levaram a sua avante, lembre-se que se foi chamado para a entrevista, é porque o empregador o considera apto para o cargo — não existe outro motivo para estar ali.
Durante a entrevista
A preparação foi feita. Sabe exactamente que respostas terá de dar a cada uma das questões que, muito provavelmente, serão feitas. Mas o interesse também é seu e, perante isso, enquanto candidato a uma empresa, também há perguntas que gostaria de levantar — e que só lhe ficará bem colocá-las. Em conversa com a Must, Soledade Carvalho Duarte, Managing Partner da Invesco Transearch, menciona quais são as interrogações que não pode deixar passar.
- Depois de entender a empresa e a sua cultura — trabalho que deverá ter realizado previamente — mostre interesse em saber quais as fronteiras e os limites da função para a qual está a concorrer.
- Que equipa vai ter? A quem reportará? E quem vão ser os seus pares? Qual a dimensão da equipa? Estas são questões que não vêm nas entrelinhas do anúncio ao qual respondeu, mas que lhe interessa saber.
- Quais são os principais obstáculos e dificuldades que a organização tem de ultrapassar — a curto, médio e longo prazo? Qual a visão e o sonho daquela empresa?
- Este cargo para o qual se propõe, é uma substituição ou é um lugar novo? Se é uma substituição por que é que esta surgiu? A pessoa saiu para outro projecto interno ou externo? A pessoa que lá estava anteriormente falhou? Se sim, por que é que falhou?
- Naquela organização, quais são as métricas do sucesso? Do que é que se está à espera da pessoa que vai ficar com aquele cargo? Quando alguém vai desempenhar uma determinada função, como é que vai sabendo, no seu dia a dia, se está ou não a cumprir com as expetativas? Há feedback? Senão houver, existirá algum outro conjunto de informações definido a priori que auxilie o novo empregado a acrescentar valor à nova função
O que não fazer
PUB
- Não entre em pormenores da sua vida pessoal. De acordo com o estudo da JDP, mais de metade dos candidatos a um emprego (59%) são questionados acerca da sua vida pessoal e 37% das mulheres são questionadas sobre os seus planos de virem a ter filhos, apesar de tal questão ser ilegal. As perguntas da entrevista sobre os pais ou estado civil — bem como raça, religião, orientação sexual, idade ou deficiência — não são permitidas sob as leis da igualdade de oportunidades de emprego.
- Não se torne muito íntimo do entrevistador. Mesmo que tenha a sorte de ter uma boa "química" com este, não deixe que a conversa se torne demasiado à vontade. Lembre-se que não está a falar com os seus amigos, por isso não descure as suas palavras e o tom da conversa. À vontade não é à vontadinha — muito menos numa entrevista de emprego.
- Nunca perca a sua confiança, mesmo quando os nervos resolvem atrapalhar num determinado momento. Lembre-se que se está ali é porque o consideram. Não baixe os braços e mantenha sempre o contacto visual direto.