No que toca a casas de banho públicas, os japoneses não desapontam. De tal forma que serviram de inspiração para o filme Perfect Days do realizador alemão Wim Wenders, que conta a história de Hirayama, um homem com a incumbência pouco glamorosa de limpar sanitas. E, no entanto, fá-lo em casas de banho públicas que são pequenas maravilhas arquitetónicas. O filme de Wenders pôs diante dos olhos do mundo ocidental, o Tokyo Toilet Project: um projecto com o objetivo de renovar 17 casas de banho públicas em Shibuya, no distrito de Tóquio, e para o qual foram convidados 16 designers e arquitetos de todo o mundo. São todas diferentes e constituem um inusitado e refrescante roteiro.
A Nippon Foundation, organização por detrás desta iniciativa, teve como objetivo melhorar a imagem negativa das casas de banho públicas, algo que os japoneses resumem com a expressão "quatro Ks": kusai (mal-cheirosas), kurai (escuras), kowai (assustadoras) e kitanai (sujas). Uma descrição com a qual é difícil discutir, independentemente do país em que se viva.
Muitas mulheres e crianças, em particular, relatavam ter medo de entrar numa casa de banho pública, principalmente à noite, por não conseguirem ver de fora se está alguém lá dentro ou se está a ocorrer alguma atividade ilícita, e não conseguirem ver de dentro se alguém as esperava cá fora. Esse foi o mote para uma das primeiras renovações. As casas de banho públicas dos parques Haru-no-Ogawa e Yoyogi Fukamachi – as únicas que são semelhantes entre si, ambas desenhadas por Shigeru Ban – que são completamente transparentes vistas de fora, se estiverem livres e só ficam opacas quando alguém entra e tranca a porta. E, no entanto, a opacidade é só para quem está a ver de fora. Quem está dentro, continua a ver para fora com grande clareza.
Mas não são todas assim. Algumas parecem pequenos templos ou casinhas típicas das zonas rurais. Outras assemelham-se a estruturas futuristas com um toque de nave espacial. Outras ainda fazem lembrar edifícios industriais, como silos. Algumas têm um aspeto mais naturalista, com uma estrutura que dá a ideia de cogumelos. Há até uma casa de banho contactless, ou seja, completamente ativada por comandos de voz, criada a pensar no facto de a maioria das pessoas usar uma inconveniente mistura de cotovelo, anca e mão enrolada em papel higiénico para evitar tocar na porta, na tranca, na tampa da sanita e no botão do autoclismo.
Em todos os projetos de renovação houve uma preocupação em ter espaços cheios de luz natural e bem iluminados à noite, por dentro e por fora, e que a sua estrutura estivesse em harmonia com o meio envolvente. A Nippon Foundation diz que houve, ainda, um esforço de inclusão para que estas casas de banho pudessem ser usadas "por toda a gente", como forma de "avançar rumo a uma sociedade que abraça a diversidade".