Em plena pandemia do novo coronavírus, a mudança climática ainda exige atenção global, razão pela qual um movimento verde domina o mundo dos vinhos e destilados.
Sabia que a bioluminescência sintética de bactérias pode tornar a iluminação vinícola mais sustentável? Ou que os destiladores podem usar energia solar para fabricar vodca a partir de ar e água? Essas são algumas das coisas surpreendentes que aprendi num fórum sobre vinho e mudanças climáticas na Vinexpo Paris em fevereiro, antes do distanciamento social se tornar um modo de vida e as viagens aéreas serem coisa do passado.
No Fórum Solos Vivos, que durou três dias, patrocinado pela gigante do sector, a Moët Hennessy, sentamo-nos num imenso espaço cercado por paredes de cortiça reciclável, bebemos vinho e ouvimos cientistas internacionais ligados ao clima, enólogos e consultores ambientais a discutir o futuro da multimilionária indústria vinícola.
Naturalmente, foi também uma forma das marcas de bebidas de luxo exibiram as suas credenciais eco-conscientes, que são bastante mais extensas do que me tinha apercebido. Philippe Schaus, Chief Executive Officer, anunciou que todas as vinhas que a Moët Hennessy tem em Champagne estarão livres de herbicidas até ao fim de 2020. Isto não e brincadeira uma vez que as suas marcas produzem milhões de garrafas de Champagne (mesmo que outras casas, como a Roederer, que produz a marca Cristal, esteja à frente na viticultura orgânica e biodinâmica). A Moët Hennessy vai ainda investir 20 milhões de euros num novo centro de pesquisa de sustentabilidade para explorar um pouco de tudo, desde reciclagem de água à diminuição das emissões de carbono.
A biodiversidade é importante
No centro da nova agricultura está o "solo vivo", rico em matéria orgânica para reter nutrientes e água e com diversidade microbiana para proteger videiras contra pragas e doenças, em vez de depender de pesticidas e herbicidas químicos. Aumentar a matéria orgânica em 1% também pode mais do que dobrar a capacidade de água do solo.
Promover a biodiversidade é essencial para alcançar esse objetivo. Nicolas Blain, da Reforest’Action em França, destacou: "A floresta é o futuro", porque as florestas abrigam 80% da biodiversidade terrestre do mundo. É por isso que o Château Anthonic, em Bordeaux, está a investir em agrossilvicultura, plantando árvores entre as videiras, como foi feito no passado.
Repensar as embalagens
A próxima vez que pensar em comprar uma garrafa de vinho muito pesada, pense novamente. A embalagem de vidro e o transporte de garrafas representam cerca de dois terços da pegada de carbono do setor de vinho. A Systembolaget, a rede de lojas de bebidas do governo da Suécia, incentiva os produtores a usarem embalagens sustentáveis, de acordo com o gerente de compras da rede, Johan Lund. Mais de 50% das vendas são para vinhos de pacote, muito melhores para o meio ambiente sob a perspectiva de peso e do carbono usado no transporte, embora o impacto da introdução de mais revestimentos plásticos no lugar de vidro reciclável levante outras questões.
Até as marcas de luxo estão a tornar-se eco-conscientes. Embora várias marcas de Champanhe sejam vendidas em pesadas caixas de cartão ou madeira, a Ruinart Maison vai apresentar um novo packaging amigo do ambiente mais para o final do ano. Nove vezes mais leve do que uma caixa XPTO, é feito em papel reciclado, moldado e texturizado que envolve a garrafa como se fosse um elegante e estiloso casaco.
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Transformar emissões de carbono
Um painel que apresentou maneiras criativas de captar emissões de dióxido de carbono e transformá-las em produtos utilizáveis surpreendeu todos. Uma garrafa de vodca da Air Co. (US$ 65, cerca de €60), produzida em Brooklyn, Nova Iorque, absorve tanto dióxido de carbono da atmosfera quanto oito árvores totalmente desenvolvidas, cerca de 450 gramas. A empresa diz que o uso de energia solar nas suas máquinas de captação de carbono faz da Air Co. a primeira destilaria de carbono negativo do mundo. A empresa é finalista do NRG Cosia Carbon Xprize, um prémio de 20 milhões de dólares, cerca de 18 milhões de euros, explicou Nikki Batchelor, diretora de operações e impacto do prémio.
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É essencial poupar água
As vinhas precisam de menos água do que outros cultivos, mas a água é escassa em muitas regiões vitícolas e as coisas vão piorar, avisou Hervé Birnie-Scott, diretor da Terrazas de los Andes e da Cheval des Andes, na Argentina. "No futuro, talvez tenhamos de deixar de ter vinhas e adegas em áreas históricas onde a água se tornou escassa," disse. Israel foi pioneiro na irrigação gota a gota, que permite uma rega lenta das raízes das plantas, explicou Naty Barak, diretora de sustentabilidade da Orbia, uma empresa sediada no México que inclui uma unidade especializada em agricultura de precisão – vinda exactamente de Israel. Monitores e sensores digitais vão permitir que se consuma ainda menos água e vai tornar-se comum o aproveitamento de águas residuais.
Como disse Schaus na sua introdução ao fórum: "Tudo tem de mudar para que nada mude."