Laurent Fortin não é apenas o diretor geral do Château Dauzac, em Margaux, uma propriedade classificada como Grand Cru Classé desde 1855. É também o Cônsul Honorário da Ucrânia em Bordéus, e foi nessas duas qualidades que se lembrou de unir o mundo do vinho em apoio ao povo ucraniano. Para tal contactou a iDealwine, uma leiloeira europeia de vinhos online, a maior, e lançou um apelo aos colegas viticultores, para se juntarem a ele num leilão especial − a acontecer a partir de 30 de março e durante 10 dias – no qual a totalidade dos lucros reverte a favor da Ukraine Amitié, uma associação humanitária em Bordéus, criada para enviar medicamentos para a população que ficou no país ou está nos centros de refugiados.
As primeiras respostas não tardaram e "recebemos vinhos de todas as regiões de França. Da Borgonha, do Rhône, da Provence e de Bordéus, claro, mesmo de Premier Crus Classé, como o Château Lafite", disse. De qualquer forma, Laurent Fortin continua a aceitar vinhos para o leilão até ao dia 21 de março, na esperança de aumentar o espólio e valor alcançado.
Em Londres, está já a decorrer um leilão semelhante – e vai continuar até ao dia 20. Chama-se The All Hart Auction e conta com 50 nomes muito fortes do panorama vínico mundial. Falamos do famosíssimo champanhe Louis Roederer Cristal (numa vertical com 6 garrafas de 2006, 2009 e 2013), ou os Borgonha Domaine Meo-Camuzet e Domaine Dujac. Vinhos que custam na casa dos três e quatro dígitos.
Além dos franceses, encontramos também nomes importantes vindos de Itália, especialmente Barolos e Nebbiolo d'Alba. A estimativa inicial é que atinjam os 100 mil euros, com 100% dos fundos a reverter para a Cruz Vermelha, para a UNICEF, para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (CNUR ou UNHCR), e para a ONG Save the Children.
Este leilão é organizado pela Crurated, uma comunidade privada de vinhos em Inglaterra, mas desta vez os não membros estão igualmente convidados participar, bastando para isso criar uma conta Explorer (grátis).
Tal como os outros vinhos vendidos na plataforma, cada garrafa terá um NFT associado, garante não só da autenticidade como da história de cada garrafa, anteriores proprietários e todo o tipo de informação relevante. Sempre que for revendida, esse token vai acompanhá-la de um cliente para o outro, porque muitos destes vinhos são vistos como investimento, não para consumo.
A presença neste leilão é um motivo de orgulho para as casas envolvidas, e particularmente para Jean-Nicolas e Nathalie Méo, da Méo Camuzet: "Temos uma ligação especial com a Ucrânia há mais de 20 anos", dizem-nos. "Temos vindo a apoiar jovens dançarinos de Lviv, e as suas famílias, e já ajudámos a angariar fundos para o hospital pediátrico na cidade. Recebemos jovens ucranianos em estágios de verão, e muitos deles estão agora em idade de combaterem, pelo que estamos apavorados com os que lhes pode acontecer. Esperamos, por isso, que estes vinhos especiais que aqui doámos possam de certa forma aliviar as necessidades de alguns dos cidadãos indefesos.". É o objetivo.