Prazeres / Sabores

SOI. Cada dentada, uma surpresa

No coração do Cais do Sodré, fomos levados numa viagem vibrante pelos sabores intensos da street food asiática, com a assinatura criativa do chef Maurício Vale. Inspirado nas ruas da Tailândia, cada prato é uma surpresa que mistura autenticidade, irreverência e memória.

Foto: DR
14 de abril de 2025 | Safiya Ayoob
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Lisboa é uma cidade que se tem vindo a tornar cada vez mais rica em experiências gastronómicas. Mas há espaços que conseguem destacar-se não só pela comida, como também por toda a vivência que proporcionam. O SOI, no coração do Cais do Sodré, é um desses lugares. Inspirado pela vibrante street food asiática, apresenta-se como sendo muito mais do que um restaurante: é uma viagem sensorial ao sudeste asiático, com paragens improváveis, sabores ousados e um ambiente que pulsa com energia jovem e cosmopolita. E, de facto, em cada dentada há uma surpresa.

Aberto desde agosto de 2017, o SOI nasceu da vontade de Maurício Vale de captar o espírito das ruas da Tailândia. Aos 19 anos, o chef percorreu o país durante quase um ano, um percurso iniciático que moldou profundamente a sua visão da cozinha. "A carta é desenhada tendo em conta a viagem que fiz à Tailândia, com a ideia de trazer toda aquela street food à vida", contou-nos, com um entusiasmo ainda vivo. Mas, como faz questão de frisar, esta é a sua interpretação daquilo que viveu. "Não é possível fazer a mesma coisa. Eu digo desde o primeiro dia: isto é a minha visão, esta é a minha interpretação da comida."

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A cozinha do SOI tem essa assinatura pessoal: pratos que evocam tradições, sim, mas com um toque criativo, visual e descontraído. "Os produtos usados nestes pratos são muito comerciais, então tento dar um grande foco à parte criativa, na apresentação do prato."

Essa criatividade está bem presente no menu, dividido em seis categorias principais - To Share, Salad, Buns, Sides, Curry e Wok — além da carta de sobremesas e de uma seleção especial de pratos que mudam mensalmente, disponíveis de abril a julho, no que é apresentado como uma verdadeira "street trip" gastronómica. Durante quatro meses, Maurício Vale propõe dois snacks por mês, cada um inspirado numa das cidades tailandesas que mais o marcaram na sua juventude: Chiang Rai, Chiang Mai, Banguecoque e Phuket.

A nossa experiência começou com um dos pratos dessa viagem temporal e geográfica: o Gaeng Hung Lay, uma sugestão de abril inspirada em Chiang Rai, que combina mexilhão cozinhado com caril Singapura, aromáticos e brioche torrado. Um prato cheio de camadas e intensidade, como um postal sensorial do norte montanhoso da Tailândia, onde os sabores fermentados ganham protagonismo. "Esses starters que tenho agora foram inspirados nas cidades que mais me marcaram na Tailândia", explicou o chef. "Este menu foodtrip, que são duas sugestões por quatro meses, permite-me voltar um pouco atrás, ver o que me influenciou."

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Seguiram-se mais surpresas no prato, como o Mumbai Street Panipuri, entrada que mistura creme de fruta exótica com pickle de mexilhão e pancetta fumada uma fusão improvável, mas surpreendentemente harmoniosa e deliciosa. Os Buns são um capítulo à parte: o Satay Shrimp Bao, com camarão frito em tempura de tom yum e molho panang, e o Pakora Bao, feito com tempura de legumes, geleia de chili e tamarindo, foram ambos explosões de sabor e textura.

Nos Currys, a viagem prosseguiu por trilhos ricos e reconfortantes: o Thai Panang Curry with White Tiger Shrimp destacou-se pelo equilíbrio entre o doce do leite de coco e o crocante do amendoim torrado, enquanto o Choo Chee Curry with Creaker Tempura surpreendeu com lichias e corvina em tempura, numa mistura de frescura e calor difícil de esquecer — e ambos incrivelmente saborosos e ricos.

E para terminar? Um verdadeiro final feliz, o Soi Loco, sobremesa que junta crumble, fruta exótica, gelado de yuzo e coco com uma ganache de Toblerone. Um doce que, à semelhança do resto do menu, tem tanto de irreverente como de delicioso.

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Mas o SOI é mais do que o que vem no prato. É também ambiente  descontraído, acolhedor, com música ao vivo e uma energia contagiante. Num jantar de quinta-feira, encontrámos a casa cheia, o que só reforça a ideia de que o restaurante encontrou o seu lugar no coração dos lisboetas e dos curiosos pela street food asiática feita com alma.

No fundo, o que Maurício Vale criou no SOI é uma ponte entre mundos. "Trazer toda aquela autenticidade da gastronomia asiática, mas num ambiente mais descontraído", foi o que nos disse. E conseguiu. É uma cozinha de memórias e de emoções, que se renova constantemente, mas que nunca perde o norte - ou, neste caso, o sudeste. Cada prato é uma história. Cada dentada, uma surpresa.

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