Prazeres / Sabores

Quatro vinhos e as suas histórias. Um espumante do Dão, um rosado duriense, dois tintos que vêm das mesas do Alentejo e do Douro

Vindimas concluídas em outubro já com os cestos lavados. Há quem aproveite para descansar um pouco depois de um mês de agitação nas vinhas e adegas, mas a natureza não permite grandes folgas. É preciso preparar o terreno para as chuvas e atender a outras culturas.

Foto: DR
04 de outubro de 2024 | Augusto Freitas de Sousa
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Respectus Brut Nature Millésime 2019 

Os produtores deste espumante, Boas Quintas, referem que só é produzido em anos excecionais. Duarte Fernandes, da casa vinícola que está sediada no Dão, garante que o vinho é "o resultado da simbiose perfeita entre clima, solo, vinha e enólogo, que enobrece o respeito pela casta Encruzado e pela região". O responsável refere que "a seleção das melhores uvas e a identificação do ponto ótimo de colheita são o ponto de partida para toda esta etapa onde é necessário identificar a acidez perfeita para o processo de espumantização". 

Este Respectus, com enologia de Nuno Cancela de Abreu, é feito com as uvas inteiras prensadas diretamente, sendo que 20% do mosto fermentou em barrica e os restantes 80% em cubas de inox a uma temperatura de 14ºC. Em janeiro de 2020, o vinho foi engarrafado para dar início à segunda fermentação e estagiou um pouco mais de quatro anos em contacto com as leveduras, antes do dégorgement (abertura da garrafa para eliminar os sedimentos) que ocorreu no final do mês de março de 2024. A casta Encruzado foi a escolhida pelo seu potencial na região.

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Duarte Fernandes sugere uma temperatura entre os 10 e os 12ºC. para o consumo e, como o classifica de gastronómico, refere "acompanhar perfeitamente pratos de carnes brancas, cogumelos, frutos secos, peixe no forno, cabrito, leitão, bem como pratos mais complexos". 

O responsável salienta que o preço, que ronda os 50 euros, "teve como base a qualidade da matéria-prima e todo o tempo de estágio". O espumante lançado cinco anos após a colheita, pode degustado de imediato, mas Duarte está convencido que "terá bastante potencial de guarda".  

Para o responsável, o consumidor alvo "é o conhecedor de espumantes e champanhes mais estruturados e complexos, obviamente das casas históricas". Duarte Fernandes, que herdou a responsabilidade de continuar o legado de três gerações, conclui que o Respectus 2019 "apresenta reflexos de amarelo-dourado que lembram a luz do sol".  

Costa Boal Homenagem by António Boal Rosé 2023 

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O produtor António Costa Boal conta que "a abertura de uma vaga nos vinhos "Homenagem" levou a que se sentisse a necessidade de enquadrar um rosé nesta gama". O vinho já estava nos planos há algum tempo, mas que ainda não tinham encontrado a parcela ideal.  

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Este rosé, com enologia de Paulo Nunes, que provém de uma vinha velha, é feito de acordo com o método tradicional, parecido com o processo dos vinhos brancos, mas com um tempo de maceração inicial mais alargado para maior extração aromática. No processo de estágio, o responsável acrescenta que "a fermentação em barrica sofreu uma análise sensorial mais meticulosa para que não se sobreponha à fruta típica dos rosés do Douro". O vinho foi elaborado com castas tradicionais da região, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz de uma vinha plantada em 1965.

Para o produtor, a temperatura ideal para o servir ronda os 10 a 12º C. e garante "que se bebe bem sozinho ou a acompanhar uma refeição. Por exemplo, refere, "harmoniza muito bem com massas, carnes brancas e peixes grelhados". A casa, que indica que se pode guardar o rosé durante os próximos quatro a cinco anos, justifica o preço de 80 euros com base na qualidade e nos custos de produção associados, desde a colheita até ao momento da comercialização.

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António Boal salienta que "sendo um vinho com mais extração fenólica e algum estágio em madeira, a mistura de aromas e texturas sobressaem para que seja um vinho único no momento da degustação". Relativamente ao destinatário, o responsável elege "todos os consumidores que procurem produtos de excelência do Douro". António Costa Boal conclui que "o terroir tem uma influência enorme", desde logo, pela "altitude das vinhas a 550 metros, pela acidez, pela mineralidade e pela concentração aromática". 

Marquês de Borba Colheita Tinto 2023 

A marca que dá origem a este vinho é uma das mais emblemáticas do produtor João Portugal Ramos. O enólogo João Maria Portugal Ramos recorda que "o nome surge da feliz coincidência das vinhas e adega estarem localizadas na sub-região de Borba, e de um tio ter o título nobiliárquico Marquês de Borba, criado em 1811". 

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O tinto é feito com as uvas desengaçadas, esmagadas e arrefecidas. Após uma maceração pré-fermentativa, uma parte das uvas é fermentada em lagares de mármore (com pisa mecânica) e as restantes em cubas de inox, com controlo de temperatura. Após a fermentação alcoólica, segue-se o estágio de seis meses em meias pipas de carvalho francês e americano. Para o enólogo, o maior desafio diz respeito à consistência deste vinho que já se tornou um clássico". João Maria refere que "apesar das enormes alterações climáticas, que tornam as colheitas cada vez mais imprevisíveis, todos os esforços da equipa de viticultura e enologia estão direcionados para a consistência".

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O responsável esclarece que "tal como o sal e a pimenta, neste blend a equipa de enologia encontra o perfeito casamento de castas autóctones e castas estrangeiras", ou seja, Alicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira, Touriga Nacional, Petit Verdot e Merlot.  

João Maria Portugal Ramos refere que a temperatura ideal de consumo "é entre os 15 e os 17ºC. e com "um pairing perfeito nos pratos de caça ou carnes vermelhas". O preço recomendado de 7,5 euros é fundamentado pela "marca autêntica e genuína da região do Alentejo, através de um produto de muita qualidade a um preço justo". O enólogo recomenda que o Marquês de Borba Colheita tinto deverá ser consumido jovem, até cinco anos após o engarrafamento.

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Relativamente à região, João Maria salienta que no caso do vinho Marquês de Borba, tal como de outros vinhos produzidos na sub-região de Borba, "as uvas beneficiam da frescura que a altitude lhes confere, com vinhas plantadas a cerca de 400 m". O que o leva a dizer que é "algo atípico quando se pensa em vinhos alentejanos". 

Muros de São Luiz Tinto 2022 

O enólogo Ricardo Macedo conta que este vinho tem a sua origem na Quinta de São Luiz, no concelho de Tabuaço, no Douro, onde todos os anos os muros que sustentam as vinhas são pintados de branco. O responsável explica que os muros contam a história de "uma região feita de trabalho árduo, mas também de muita criatividade e onde a recompensa é colhida em cada garrafa, criando memórias duradouras à volta de uma mesa". Acrescenta que "esta gama nasce em homenagem a todos os heróis desconhecidos que ao longo de tempos imemoráveis pintaram os muros da quinta, sublinhando a paisagem". 

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O responsável refere que vinificação se iniciou com desengace total das uvas, seguindo-se o esmagamento. A fermentação decorreu em cubas de inox, durante aproximadamente 10 dias, a uma temperatura controlada de 25ºC. Para o enólogo, o mais difícil neste lançamento foi desenvolver um vinho que fosse acessível, e que, ao mesmo tempo, "se mantivesse fiel à qualidade e estilo de vinhos da marca São Luiz". 

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As castas do Muros de São Luiz são a Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Barroca e Tinta Roriz, esta última que, no entender de Ricardo Macedo "não poderia faltar neste vinho, já que é uma tradicional do concelho de Tabuaço, sendo mesmo uma referência na zona".  

O responsável aponta uma temperatura entre os 14 e 16ºC. para servir o vinho, que poderá ser bebido sozinho, "mas também acompanhando carnes, especialmente vermelhas, e alguns pratos de peixes mais complexos". O preço de 5,69 euros foi decidido de acordo com um segmento onde a marca ainda não estava presente. O enólogo menciona que é um vinho para beber brevemente, "mas alguns meses em garrafa poderão torná-lo ainda mais complexo".  

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Ricardo Macedo refere que a colheita de uvas foi realizada numa quota mais alta das vinhas, cuja altitude varia entre os 250 e os 600 metros, "e as uvas não apanham tanto calor, para garantir um vinho menos alcoólico e mais fresco, com boa acidez natural e estrutura". 

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