Prazeres / Sabores

Quatro vinhos e as suas histórias: Brancos que espelham o Douro, um palhete de Lisboa e um açoriano do Pico

Tradicionalmente o mês de todas as vindimas, setembro marca o culminar de um trabalho que começa logo após a “lavagem dos cestos”. Além da família e dos amigos, é neste período que surgem algumas equipas sazonais para ajudar à festa.

Foto: DR
05 de setembro de 2024 | Augusto Freitas de Sousa
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Vinha do Borrajo Branco 2022 

O produtor e enólogo Paulo Coutinho plantou a vinha em 2016 em terrenos pertencentes à família onde está um pequeno casebre que é reproduzido no rótulo deste vinho. O responsável prefere não o diferenciar do vinho tinto, nem da forma como são tradicionalmente produzidos, uma vez que o produz como se fosse um tinto.  

Paulo Coutinho quer minimizar as intervenções durante a fermentação e evitar adições externas, pelo que o fermenta com a película e faz a maceração. Reconhece que a principal dificuldade, especialmente ao usar leveduras indígenas, "é a facilidade com que ocorre a fermentação malolática, o que pode reduzir a acidez natural do vinho. O branco é feito com as três castas existentes na Vinha do Borrajo: Viosinho, Gouveio e Encruzado, esta última por ser uma das que mais admira "pela sua longevidade" e que julga "ser um belo complemento às duas durienses".

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O produtor sugere o consumo um pouco acima da temperatura normal de brancos, acima dos 10ºC. e, por considerar que o vinho é "bastante gastronómico", tem a convicção que "surpreenderá durante uma refeição, seja com peixe, seja com carne". 

O preço recomendado de 33 euros é justificado, não pela quantidade produzida, "mas sim pelo investimento em vinha e que é o dobro de custo por hectare no Douro". Paulo refere que o branco se pode harmonizar "de imediato com a nossa gastronomia da costa", mas acrescenta que "terá um belo envelhecimento em garrafa para depois casar muito bem com algo que normalmente está associado a vinhos tintos". 

O produtor e enólogo salienta que o Vinha do Borrajo não é um branco típico por "evidenciar aromas mais láticos". O responsável garante que o vinho é destinado "aos consumidores que procuram um branco sério, sem serem atacados com notas de madeira". Paulo Coutinho conclui que "a alta altitude desta vinha faz-se notar na acidez e mineralidade" num branco do limite da região duriense, "a tocar a serra de Miguel Torga, a serra da Senhora da Azinheira". 

Monumental Tarelo Branco 2018 

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O consultor Cláudio Martins sublinha que este branco "é um exemplo do renascimento da viticultura nos Açores". Refere que a região, historicamente reconhecida por seus vinhos, "viu um declínio na produção, há algumas décadas, mas os esforços recentes de produtores resilientes e enólogos aventureiros, têm revitalizado a tradição".  

Com uma produção de apenas 1000 garrafas, o responsável explica que a produção do Tarelo – expressão açoriana que significa juízo – "envolve técnicas tradicionais, com colheita manual e fermentação em cubas de inox", sendo que a maior dificuldade na produção "é a adaptação ao clima insular, que pode ser imprevisível, e as características do solo vulcânico que exigem cuidados especiais na viticultura". 

O consultor aponta a escolha da casta Arinto dos Açores pela "sua adaptabilidade ao terroir açoriano e pelas suas características únicas que proporcionam frescura e mineralidade ao vinho". Além disso, acrescenta, "a variedade é conhecida por sua acidez equilibrada e salinidade".

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Cláudio Martins recomenda entre 8°C. e 10°C. para o servir, mas "pode ser apreciado sozinho, ou combinar muito bem com pratos de peixe grelhado, mariscos ou saladas frescas". Um exemplo, refere, "seria um ceviche de peixe branco, que complementa a acidez do vinho". 

O consultor refere que o preço que ronda os 80 euros do Monumental Tarelo foi determinado pela sua "exclusividade e qualidade, refletindo o trabalho artesanal e a produção limitada". Cláudio Martins garante que "poderá ser consumido de imediato, até porque já tem alguns anos em garrafa, embora tenha um enorme potencial para ser guardado e consumido daqui a 15 ou 20 anos". Refere que este vinho "foi produzido com a intenção de resgatar a tradição vitivinícola da região e atrair apreciadores que valorizam vinhos de terroir e produção limitada". O responsável conclui que o território dos Açores, com seu solo vulcânico e clima marítimo, "influencia significativamente o perfil do vinho, conferindo-lhe uma mineralidade distinta e frescor, que são características marcantes dos vinhos da região". 

Adega Mãe Palhete 

Este palhete, que mistura castas tintas e brancas, surge, para o enólogo Diogo Lopes, "em linha com a tendência de recuperação de um perfil tradicional, também na região de Lisboa, que faz regressar tintos de menor graduação, com grande frescura e elegância". 

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O responsável explica que o vinho se destaca pela co-fermentação conjunta das castas durante cinco dias, "seguida de prensagem e final de fermentação em cubas de inox". O perfil do vinho, acrescenta, "é muito definido pelo tempo de colheita, assegurando a níveis de acidez e baixo volume pretendidos". O palhete é feito de Castelão, Pinot Noir e Fernão Pires que o enólogo justifica pelo "carácter de grande elegância das tintas e pela identidade e carga aromática do branco que é Fernão Pires".

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Sugere-se que o vinho se sirva a 14ºC. ou 15ºC. e, segundo o responsável, "tem uma grande versatilidade para um brinde ou para a mesa, sobretudo para aperitivos, ou mesmo peixes ou carnes pouco condimentados". O preço de cerca de nove euros é fundamentado pelo enólogo como "um vinho especial, com um processo particular, mas com a casa a procurar ao máximo democratizar a sua experiência de provas". Diogo Lopes diz que "é um vinho para beber no imediato, mas será muito curioso observar a sua evolução ao fim de alguns anos, porque tem uma frescura e acidez que lhe asseguram potencial para isso". 

O palhete, em linha com alguns tintos que a Adega Mãe lançou, como o Tinto Atlântico, é apontado como "uma forte tendência no mercado de procura de vinhos com este perfil de frescura e elegância, que permitam experiências de consumo, sobretudo no tempo mais quente, que os vinhos de perfil mais clássico não permitem". 

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Por último, o enólogo refere que a região de Lisboa, graças ao terroir de influência atlântica, "tem um potencial extraordinário para a produção de vinhos com este perfil, como aliás no passado".  

Pessegueiro Reserva Branco 2023 

O enólogo João Nicolau de Almeida explica que o branco foi produzido desde 2020, o que mostra quatro anos de história "que representam as parcelas de vinha e comprovam a sua essência, mantendo sempre o seu perfil". O responsável aponta as vinhas localizadas em diferentes altitudes, "desde 150 a 350m, viradas a Norte em Ervedosa do Douro, terroir do Cima Corgo". Refere que "as uvas são transportadas em caixas de 22 Kg até à adega e ficam 12 horas em câmara frigorífica, parcialmente esmagadas e prensadas em prensa vertical, com leve maceração pré-fermentativa". Conclui que "a fermentação natural com leveduras indígenas ocorre na totalidade do lote em pipos usados de 600 litros antes de estagiar seis meses em madeira sobre borras finas".

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Elaborado com as castas Rabigato e Folgazão, Nicolau de Almeida garante que a primeira "transmite frescura e precisão, enquanto a segunda "imprime untuosidade".O enólogo refere que a temperatura ideal para o servir é entre 10 a 12 graus, sendo que "acompanha bem todo o tipo de pratos de peixe e pratos de carnes grelhadas, além de ser muito bom sozinho". 

Com um preço de 18 euros, o branco pode ser apreciado neste momento, mas, segundo o responsável, "tem um excelente potencial de guarda". Acrescenta que a ideia é procurar "consumidores que procuram vinhos com identidade própria e caracterizados pela elegância, frescura, acidez e harmonia". 

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