Não restam grandes dúvidas de que os rosés estão cada vez mais na moda. Vistos até há pouco tempo como uma espécie de tinto de verão, têm vindo calmamente a saltar nas escolhas dos especialistas e dos críticos, assim como nas prateleiras das melhores garrafeiras nacionais. Claro que existe ainda um certo estigma contra rosés de qualidade, e quem resista em pagar mais por algo que consideram um subproduto, mas a verdade é que produzir um bom rosé, tal como um bom tinto, exige tempo, dedicação e investimento sério (em barricas novas de carvalho francês, por exemplo), e isso deve ter repercussão no preço final.
Evidentemente que nem todos os grandes rosés custam caro, tal como existem muitos outros nomes que merecem um lugar à mesa para além destes quatro que trazemos, mas, por uma razão ou por outra, estes foram os rosés que mais prazer nos deram este ano.
Caementa Rosé 2022
Um rosé de cor muito suave, mas que se apresenta firme e estruturado na boca. Suaves são também as notas de fruta, frescas, num vinho marcado pela mineralidade e boa acidez. A história do Caementa é muito recente, e começa apenas na vindima de 2021, quando foi pela primeira vez engarrafada uma parcela de Tinta Roriz, plantada em altitude e solo granítico, na Taboadella. Mais marcante ainda para marcar o caráter do vinho, a decisão de fazer a vinificação em tulipas de cimento (daí o nome caementa, que significa cimento em latim), o que permitiu revelar melhor o terroir único desta extraordinária quinta do Dão. Os excelentes resultados da experiência ditaram então que a vindima de 2022 chegasse até nós, não sem antes passar por mais um estágio em barricas de carvalho francês, só para afinar melhor o equilíbrio entre a acidez e textura. Um rosé perfeito para o verão.
São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2022
A Winemaker’s Collection é um projeto da Sogevinus, que aposta na experimentação de castas nascidas e criadas em diferentes micro terroirs do Douro. Para este Rosé a escolha recaiu na Tinto Cão, uma das castas mais emblemáticas e antigas do Douro. Uma escolha interessante, porque apesar de ter película grossa e, portanto, tintureira, é uma casta que dá origem a vinhos com aromas muito frescos, a frutas e vegetais, taninos sedosos e acidez bem equilibrada. Ou seja, criaram um rosé "estupidamente" elegante e muito gastronómico, perfeito para acompanhar desde marisco e peixes a carnes (mais brancas), e queijos de média intensidade – tudo o que liga bem com o clima. Para evitar marcar o vinho com demasiada cor, foi feita uma prensagem muito suave dos cachos, resultando então num rosé de cor muito suave e apelativa.
Phenomena Rosé 2022
Curiosamente, numa lista tão pequena, temos dois vinhos do mesmo enólogo: Jorge Alves. O primeiro, o Caementa, resultado da sua colaboração com o grupo Amorim, no Dão, e o segundo, este Phenomena, de um projeto a dois com Celso Alves (enólogo das Caves Transmontanas), a Quanta Terra.
A Quanta Terra é um projeto "boutique" que produz vinhos extraordinários, onde este Phenomena Rosé 2022 não destoa. Trata-se de um monovarietal, produzido a partir de Pinot Noir, plantada em Alijó. Uma raridade no planalto, mas que demonstra bem o motivo de ser uma casta tão querida internacionalmente – não deixando de estar marcado pela alma do Douro. Este Colheita de 22 resulta ainda de uma vindima prematura, para preservar melhor a frescura e acidez, e teve uma fermentação parcial (50%) em barricas de carvalho francês. É um vinho vibrante e sofisticado, capaz de proporcionar muito prazer à mesa. Não se pode pedir mais.
Adega de Favaios Nat Ensaio R – Rosé
Mais curioso ainda, esta última escolha tem mão de Celso Pereira (com Miguel Ferreira e Filipe Carvalho), que além das Caves da Montanha e da Quanta Terra colabora, também, com a Adega de Favaios.
Temos aqui um Pét-Nat – do francês Pétillant Naturel – que revela bem a capacidade da Cooperativa de se adaptar a novas tendências de consumo, e a um apetite evidente por vinhos mais naturais. Ligeiramente gaseificado − por ter sido engarrafado antes de completar a fermentação alcoólica, que assim termina dentro da garrafa, mantendo o CO2 final aprisionado – este Nat R apresenta-se bem cremoso e vivo na boca. Elaborado com Touriga Franca e Moscatel Galego Roxo, plantadas em cotas de altitude, entre os 600 e 700 metros, revela uma forte intensidade de aromas, sobretudo florais, e boa acidez. A cor rosa, aqui, tende mais para o alaranjado, assim como apresenta alguma turbidez, resultado do processo fermentativo, mas não se preocupe com isso (nem com a carica), porque a qualidade está muito para lá do (simpático) preço.