No verão de 2017, as equipas de enologia e viticultura da Quinta dos Carvalhais andavam atarefadas com a chegada iminente da vindima, mas andavam sobretudo atentas a uma pequena parcela de vinha que os deixava cada dia mais entusiasmados. "Brincávamos, dizendo que parecíamos abelhas à volta de um campo de flores" conta-nos a enóloga da Quinta dos Carvalhais, Beatriz Cabral de Almeida, recordando esse ano.
"Pensávamos que ia realmente dar uma coisa especial. E a verdade é que deu" afirma em seguida, apontando ainda a casta - Alfrocheiro - como mais um motivo para a atração. "É uma casta à qual damos especial atenção, por ter características únicas para fazer vinhos diferentes. É leve e suave, com concentração também, mas nada que se equipare à Tinta Roriz ou à Touriga Nacional."
E assim chegámos à vindima, feita "no momento perfeito de equilíbrio entre fruta, frescura e estrutura". A Parcela foi vinificada por separado e o mosto transferido para uma pequena cuba que reservam para projetos especiais. E tinham passado menos de duas semanas quando, a 15 de outubro de 2017, a tragédia se abateu sobre o país e sobre a vinha. Os terríveis incêndios que devastaram a região não pouparam os Carvalhais e em poucos minutos o fogo devastou parte da floresta ex-libris da quinta, e destruiu perto de 28 hectares de vinha. Encruzado, Tinta Roriz e Touriga Nacional perderam-se para sempre, porque mesmo nos casos em que o fogo não arrasou completamente a vinha, as plantas deixaram de responder da mesma maneira, e também essas tiveram de ser replantadas.
Toda a equipa percebeu imediatamente que esta tinha sido a última vez que tinham conseguido tirar uva daquela vinha", e que por isso sentiam a obrigação de fazer alguma coisa especial. Até porque a Quinta dos Carvalhais já produziu outros Alfrocheiros antes, nomeadamente em 2012 e 2015, mas estes feitos com uma combinação de uvas de diferentes talhões porque, como explica Beatriz Cabral de Almeida, "mesmo nos varietais (vinhos de uma só casta) preferimos fazer um blend de vinhas, porque temos mais a ganhar se juntarmos características diferentes… Neste caso não foi assim, não íamos precisar de ir buscar nada, porque aquela vinha já tinha tudo."
O Parcela 45 "é um vinho mágico" explica-nos agora. "É muito fresco e delicado na boca." Não é um vinho muito concentrado, pois a ideia era deixar as uvas revelar todas as suas nuances. E tem os taninos muito bem equilibrados com a acidez. "Parece um perfume", acrescenta, onde se sentem bem "os aromas da floresta e da resina, a hortelã que nasce no meio da vinha." Termina longo e harmonioso vai casar muito bem com o peru de Natal. Não tanto com o bacalhau cozido, esse vamos deixar para os brancos gastronómicos, como o Reserva Branco desta mesma Quinta, mas para o peru é excelente. Um convite para derrotar a pandemia à mesa.