Uma esplanada espaçosa mas acolhedora convida-nos a entrar no Jardim do Sr. Lisboa, o novo restaurante na rua de São Bento, em frente à Assembleia da República. Ao contrário do que acontece na Cozinha - o primeiro restaurante de Pedro de Sousa, proprietário, na rua de São José - os protagonistas aqui são os vegetais, apresentados de formas inesperadas. Embora este não se trate de um restaurante vegetariano ou vegan, foi pensado para ser uma ode à Natureza e a todos os elementos que a compõem, destacando os vegetais.
A ideia já pairava no ar, mas foi numa viagem à Dinamarca que Pedro de Sousa, chef executivo, e Francisco Breyner, a mente por trás de tudo, aproveitaram o conhecimento de Riccardo Canella, que trabalhou ao lado de René Redzepi, chef do Noma, considerado o melhor restaurante do mundo no ranking The World’s 50 Best. Em menos de um ano, o Jardim abria as suas portas aos olhares curiosos e a quem procurasse uma experiência gastronómica longe da azáfama da cidade. Tudo foi pensado ao pormenor, da loiça, criada por marcas como Studioneves ou pela artesã Inês Prats, à decoração interior, com destaque para a grande árvore no centro da sala. Da decoração ao menu, tudo evoca o verde.
"Não somos de por rótulos ou de seguir as massas, e hoje em dia o que sentimos é que somos todos orgânicos, que trabalhamos com fornecedores locais", começa por dizer Pedro de Sousa. "Nós aqui abominamos um bocadinho essas terminologias. Não queremos ser só mais um restaurante a dizer que trabalhamos com produtores pequenos e produtos sazonais, porque isso não nos representa, não faz parte da nossa essência, mesmo que acabemos por - de uma forma mais idônea - fazê-lo, mas também de uma forma muito consciente", maximizando, ao mesmo tempo, o potencial dos legumes. A carta foi pensada consoante a sazonalidade dos produtos, provenientes maioritariamente de produtores locais e orgânicos e, por isso, está destinada a sofrer alterações ao longo das estações.
De todas as iguarias com que nos deliciámos durante um belo almoço, com vista para o papel de parede floral do restaurante, destacamos quatro, começando com um prato pensado na partilha, o "Confronto do mar ao jardim" (€6,5), flatbread de kombu, mexilhões, tomate de coração de boi semi-desidratado e flores do Jardim. Além do nome cativante, este é um prato cheio de simbolismo, pois é servido numa loiça de vidro transparente recheado de areia, beatas e outras coisas que não pertencem no areal. "Espera-se que em 2020 haja mais lixo no mar do que peixe, e embora a ideia não é deixar de ter peixe ou carne nos nossos menus, queremos consciencializar as pessoas", afirma o chef executivo, acrescentando que é urgente haver uma mudança de mentalidade de forma de estar, começando por não deixar lixo nas praias.
Como pratos principais, é imperativo mencionar o "Esta flor não se cheia, frita-se" (€9), composto por couve-flor frita com chili lactofermentado. Definitivamente um dos preferidos do almoço, perfeito para quem aprecia asas de frango fritas, mas dispensa o frango. E ainda o "Do café lá de casa" (€9), cogumelos ostra feitos no carvão com borras de café, uma textura "quase carne" que faz lembrar os churrascos de verão.
As sobremesas não ficam esquecidas na carta (nem no bar, com cocktails, cervejas artesanais, sumos e kombuchas caseiras). Para os mais doceiros, haverá sempre o famoso pastel de nata da Cozinha do Sr. Lisboa, sob a forma de creme de pastel de nata, molho de canela e gelado de café (€8). Mas para quem não tem medo de arriscar, e não é fã de finais extremamente doces, sugerimos o "Cuidado que o figo pica" (€6,5), uma pavlova de maçã verde e catos. Sim, uma suculenta do deserto numa sobremesa. Quem diria.
Quanto à harmonização, Diogo Frade é o sommelier responsável pela carta dos vinhos, composta por 70% de vinhos naturais, portugueses e internacionais.