Quando em novembro passado o chef Manuel Perestrello abriu o seu primeiro negócio a solo, estava longe de imaginar que escassos meses depois seria obrigado a fechar portas. É que as ideias estavam ainda a fervilhar, e o criativo menu que tinha criado ainda nem tinha tido tempo de brilhar.
Após meses incertos, reabriu há poucas semanas para mostrar aquilo que idealizou para o seu Boato, que fica no número 18 da rua Rodrigues Sampaio, uma paralela à Avenida da Liberdade.
A trabalhar com fornecedores portugueses mas não só, o chef apostou na matéria-prima nacional para pensar uma carta que revisita, aqui e acolá, outras culturas gastronómicas. Desta vez, quis pensar um conceito diferente, mais focado no mar, no marisco aliado a tacos, quesadillas e tártaros. Prova disso são pratos como peixinhos da horta negros, uma versão com feijão verde em tempura de tinta de choco e maionese de alho e lima (€10), o taco spicy tuna, que leva atum, siriacha, molho ponzu, alho francês (€12), as quesadillas de sapateira (€10) ou as gyozas de camarão com avelã tostada, maionese alho e limão, cebolinho e sweet chill (€9).
Continuam alguns dos pratos que resistiram à mudança da carta inicial, como o quinoto de vieiras com quinoa vermelha, pêra, queijo azul e parmesão (€16) e outros mais consensuais como o entrecôte (€32), bife do lombo com molho tradicional (€18) ou lulas grelhadas (€14). Entre as sobremesas, está a clássica mousse de chocolate com flor de sal (€4) ou a tarte de praliné gelada (€6).
Há ainda um balcão de mariscos frescos que todos os dias são selecionados pelo chef segundo a sazonalidade, onde se podem encontrar ostras, mexilhões, navalheiras ou lingueirão, a título de exemplo. "É um espaço que puxa pela descontração, pela informalidade, vamos ter jarros de margaritas a passar com frequência pelas mesas" explica, sobre o espírito mais festivo que idealizou. A esplanada, lá fora, será forrada, terá cogumelos para aquecer o espaço e mantas para quem quiser um pouco mais de aconchego.
Depois de trabalhar em gestão de empresas, Manuel Perestrello quis mudar o rumo da sua vida profissional e aos 22 anos foi estagiar para uma cozinha italiana em Portugal. "O trato com a comida, o teatro que está por detrás de um serviço, as preparações super ordenadas, tudo aquilo mexeu comigo" explica. Mudou-se depois para Barcelona onde esteve quatro anos a trabalhar e a estudar ao mesmo tempo pastelaria e cozinha. Passou por um restaurante de três estrelas Michelin, até que voltou a Lisboa e chegou às cozinhas de José Avillez. Trabalhou no Peixe em Lisboa, e depois rumou ao Algarve onde abriu o Salmora. Ei-lo hoje aos comandos do Boato, onde o sorriso de satisfação o acompanha de mesa em mesa, à medida que a noite avança.