Prazeres / Sabores

LAB by Sergi Arola: quem provou, provavelmente nunca esquece

O LAB de Arola, no Penha Longa, tem uma nova carta que percorre o país gastronómico. De norte a sul, a volta a Portugal mais saborosa que já provámos.

Foto: DR
15 de maio de 2024 | Bruno Lobo
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Foi há quase 20 anos que Sergi Arola aterrou em Lisboa para abrir o Arola, no Penha Longa. Ainda hoje somos recebidos com uma fotografia tirada nessa altura, o chef duas décadas mais novo, posando ao lado de um velho camião, na Praça da Ribeira, rodeado por caixotes. "Foi antes das obras", recorda-se. "Não sou só eu quem está diferente, nessa altura a Ribeira ainda nem era um mercado, mas uma praça", explica com a nostalgia própria de um catalão apaixonado por este país.

Quando chegou era já uma estrela em Espanha, com um percurso cimentado nas cozinhas de Ferran Adrià e Pierre Gagnaire, antes de se lançar a solo e conquistar o reconhecimento do guia mais famoso do mundo. As tatuagens, a atitude rock’n’roll e o estilo bad boy ajudaram a cimentar essa fama, mas quem tivesse entrado numa das suas cozinhas percebia rapidamente o contraste entre esse look e a atmosfera calma e tranquila que reinava – nos antípodas das cozinhas de gritos.

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Ainda hoje, no Penha Longa, mesmo depois de terem acrescentado o mais ambicioso LAB ao Arola, o registo é o mesmo, porque esta cultura foi muito bem passada ao chef executivo, Vladimir Veiga, que faz as vezes de Sergi quando está em Espanha ou no Chile, onde passa mais tempo agora.

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Os dois mostram uma enorme cumplicidade e um método de trabalho único. Quando Arola pretende criar um novo prato, desenha-o num caderno, já empratado e com os ingredientes discriminados, e envia esse desenho para que Vladimir o prepare. "É assim que nascem os pratos do LAB.

"Não as posso tirar da carta, se não matavam-me"

Quem já provou uma das suas Molejas dificilmente se esqueceu do prato. Essa parte do vitelo "que é melhor nem perguntar de onde vem" tem um sabor inacreditável nas suas mãos, e por isso mesmo, com variações e declinações, nunca saem da carta. São a sua assinatura, e desta vez surgem acompanhadas por um molho Vindaloo, que é indiano, como todos sabemos, mas muito português também, porque tem por base a nossa vinha-d’alhos.

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Quando o chef brinca que não pode tirar as molejas da carta "se não matavam-me", apercebemo-nos que não se refere apenas aos portugueses que regressam, mas a muitos estrangeiros que voltam ao país, ao hotel e aos pratos que lhes ficaram na memória. "São as Molejas e a carne Mirandesa. Impossível", e neste novo menu, ainda a vamos provar de duas formas, primeiro num fumeiro e depois acompanhada por um arroz de cabidela e tempura de foie-gras… mas talvez seja melhor não nos perdemos, porque o jantar tem os seus momentos, e melhor será começar pelo princípio…

Um jantar, duas experiências

Entrando no Pavilhão de Golfe do Penha Longa, onde ficam localizados os dois restaurantes de Sergi Arola, descobrimos a velha foto na Praça da Ribeira e podemos optar entre o Arola, de cozinha mais descontraída e um conceito de tapas mediterrânicas, ou o LAB, de fine dining. Foi o nosso caso, e por isso somos conduzidos por uma escadaria em caracol até ao piso superior. Na realidade o restaurante fica no piso térreo, mas a experiência começa aqui em cima, numa grande sala com janela aberta para o verde da várzea de Sintra e uma pequena cozinha onde é possível acompanhar o trabalho dos mestres. Será um momento mais informal, e intimista, sem barreiras, próprio até para trocar impressões ou fazer perguntas. Muito inspirado numa lógica de tapeo, típico da gastronomia espanhola, mas com um cunho totalmente nacional. Aliás, a grande mesa tem um mapa de Portugal gravado a todo o comprimento, onde as tapas vão sendo colocadas segundo a origem. "Nós sabemos de onde vêm a sandes de leitão ou a carne mirandesa, mas os turistas que nos visitam não sabem", explica o chef Vladimir, com Arola a acrescentar, ao som de um fado: "queremos ter esse papel de embaixadores da gastronomia portuguesa".

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E assim começamos a nossa experiência, de sul para norte, com um "fóssil de caldeirada", um pequeno pastel que precisa de ser "desenterrado" e que revela todo o sabor de uma caldeirada de gambas. Seguimos para umas "migas de espargos e enchidos", uma "sandes de leitão" onde a pele crocante faz de pão e a "carne Mirandesa em fumeiro", finalizando ainda com um pequeno salto aos Açores, para um "tártaro de ananás e cavaco", numa experiência fumegante que faz lembrar as furnas.

Novidade na carta, estas pequenas entradas revelam uma criatividade, originalidade, e sabores que não nos importávamos de repetir já de seguida, se não soubéssemos que estamos apenas no início e que ainda há muito para provar lá em baixo…

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No restaurante esperam-nos três menus: a Horta do Chef, vegetariano, Pela Serra Dentro, com maior ligação à serra de Sintra, e Pela Serra Fora, que nos leva numa viagem um pouco mais longa em distância e número de pratos. Os preços variam entre os 154 e os 186 euros, sem acompanhamento de vinho – mas quem o escolher terá uma surpresa, porque há muita sabedoria e originalidade também do lado dos sommeliers. De qualquer forma, a cave guarda mais de 550 vinhos, pelo que não faltarão opções à carta.

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Os três menus não repetem um prato, e será no Pela Serra Fora, que podemos experimentar as Molejas com vindaloo, assim como um Robalo do mar, prato totalmente novo, acompanhado por alho francês, uma nage de chalota e Chablis, decorado como se fosse um pano típico de Cabo Verde. Lindo. O Serra Dentro guarda, por sua vez, a exclusividade de um Carabineiro muito fresco, com baunilha de São Tomé, beterraba e laranja. Outro clássico revisitado, com a adição da cabeça do carabineiro com uma salada de funcho no interior. E a famosa carne Mirandesa, que agora surge com uma guarnição de arroz de cabidela e uma tempura de Foie Gras a acompanhar.

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Para além das tapas nacionais, comuns a todos, o Serra Dentro oferece quatro pratos, sendo um deles sobremesa (tal como o Horta do Chef), e o Pela Serra Fora seis pratos, com duas sobremesas. Neste caso temos também uma estreia e outra revisitada. A estreia será a Framboesa com yuzo, iogurte e algodão doce. A repetente a Sardinha Viajante, mas que, com café, chocolate, queijo de cabra, cardamomo e caramelo salgado, está tão diferente que quase parece totalmente nova. Acima de tudo, são ambas propostas "estupidamente" boas.

O certo é que cerca de 90% da carta acaba por ser completamente nova, e mesmo aos clássicos de sempre foram-lhes acrescentadas novas camadas e sabores. O LAB é, definitivamente, um grande laboratório de ideias gastronómicas e leva-nos agora numa viagem pelos sabores únicos de Portugal, com um toque naturalmente ibérico, mas também já uns retoques crioulos pela mão de Vladimir. A estrela Michelin que conserva há mais de oito anos começa a parecer curta.

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