O Hexagon nasce nas Vinhas de Algeruz, em parcelas selecionadas, com uvas colhidas à mão e escolhidas a dedo. Pisa a pé e estágio nas melhores barricas de carvalho francês que se podem encontrar. Tudo a preceito para criar aquele que é, seguramente, o melhor vinho da José Maria da Fonseca – fora dos moscatéis, pelo menos.
A primeira edição tem data de 2000, e chega agora ao mercado a colheita de 2017, que será a oitava versão – algo explicado pelo facto de o Hexagon nascer apenas em anos em que todas as castas se alinham. E são muitas: Touriga Nacional, Syrah, Trincadeira, Tinto Cão, Touriga Francesa e Tannat. Seis castas, daí o nome.
"Sempre quis fazer coisas diferentes, que dessem que falar, bem ou mal", explica Domingos Soares Franco, o enólogo. E, na viragem do século, tinha uma ideia muito precisa do vinho que queria criar: "com mais frescura do que extração. E menos concentração." Um perfil que hoje não espantará ninguém, mas que em 2000 ia completamente contra a corrente. Restava-lhe, então, descobrir a fórmula, "fazer como fazem os chefs. Já sabem que sabores e texturas querem colocar no prato, só precisam de descobrir como."
A receita nem começou com seis castas. Inicialmente, idealizou o vinho com oito – estas, mais o Aragonez (Tinta Roriz, no Douro) e o Castelão. A única certeza, recorda-se, "é que a Touriga Francesa tinha de entrar, porque para mim é a melhor casta nacional." Infelizmente, "por mais voltas que desse" não lhe saía nada. "Eram demasiadas variáveis", e decidiu tirar o Castelão. "Ficaram sete e continuava a não funcionar." Tirou o Aragonez e foi então que "as coisas começaram a fazer sentido". Não imediatamente. Ainda "fiz e refiz o vinho muitas vezes," mas estava encontrada a fórmula.
A Touriga Francesa "aporta longevidade ao vinho." A Tannat e o Tinto Cão "prolongam o vinho na boca", e Domingos queria muito que o Hexagon tivesse essa característica "de perdurar na boca." A Syrah dá-lhe "mais volume" e a Trincadeira "mais equilíbrio." Até hoje, as castas permanecem as mesmas e "hão de continuar a ser", mas as percentagens vão variando consoante os anos de colheita.
A fórmula fica depois a estagiar em barricas novas de carvalho francês da Taransaud, "que consideramos serem o melhor dos carvalhos franceses," por um período entre oito e 12 meses, consoante os anos. Doze no primeiro, oito neste último.
De lá para cá saíram mais sete colheitas: em 2005, 2007, 2008, 2009, 2014, 2015 e agora 2017. Desta lista salta imediatamente à vista a ausência de 2011, tido como um ano extraordinário em todo o país. "Um daqueles que só acontecem uma vez em 50", afirma. "Infelizmente, não gostei do Tinto Cão. As outras castas estavam ótimas, e se calhar podia ter feito utilizando meio por cento apenas de Tinto Cão, mas isso seria desvirtuar o vinho, e isso não fazemos." Um bom exemplo da exigência (e da honestidade) com que a José Maria da Fonseca encara o Hexagon.
Outra das características que Domingos Soares Franco sempre pretendeu para o Hexagon foi que perdurasse no tempo. "Algo para beber daqui por 20 anos, no seu apogeu." E durante a apresentação foi possível (com)provar isso mesmo, nas colheitas de 2000 e 2007. Com o original a mostrar todos os pergaminhos: frescura, corpo e complexidade, assim como uns taninos muito suaves e um final interminável. 2007 será tudo isto, e um pouco mais frutado. No entanto, ainda não parece ter chegado ao nível do 2000, o que diz muito sobre a longevidade com que foram desenhados. Já 2017 está bem vivo e cheio de potência, mas não descontrolada. É um vinho com sete anos de estágio em garrafa e está bem equilibrado e elegante. É certo que os taninos ainda podem e vão arredondar com o tempo, mas o presente já é muito risonho.
Durante a apresentação, foi ainda possível experimentar o Pasmados Garrafeira 2015. Um branco em que a aposta foi, mais uma vez, para a longevidade. "É um branco feito de propósito para envelhecer, não um branco que envelheceu porque ninguém lhe pegou", brinca Domingos Soares Franco, aproveitando para enfatizar as diferenças para um vinho que passou mais tempo em barrica e o resto em garrafa, guardado em cave − à espera do momento ideal para sair.
Um branco com uma cor dourada que enfatiza a idade, mas com aromas e boca muito agradáveis e interessantes. Harmonioso, e com boa acidez, mostrando que ainda tem muita vida pela frente. E um preço bastante simpático para um vinho com estas características.