A espera (finalmente) terminou. Numa cerimónia que teve lugar esta terça-feira, 25 de fevereiro, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, um emblemático edifício neoclássico situado na zona histórica da cidade, foram divulgados os novos premiados pelo Guia Michelin Portugal. Entre as personalidades em evidência, esteve Marlene Vieira. Com o seu restaurante homónimo, no qual disponibiliza dois menus — um de nove (115€) e outro de 12 (150€) momentos — que retratam a mesa nacional, a sazonalidade dos produtos e a identidade da chef e da sua equipa, Marlene tornou-se na segunda mulher portuguesa a conquistar uma estrela Michelin. O espaço, que abriu em abril de 2022 na Doca do Jardim do Tabaco, junto ao Terminal de Cruzeiros de Lisboa, é já conhecido por privilegiar o marisco e o peixe.
A portuense não foi, contudo, a única a fazer história na segunda edição, exclusivamente dedicada ao território português, da gala. Também Rita Magro (Porto, Blind), junto com Vítor Matos, ganhou uma estrela. É assim a terceira mulher a integrar o guia. Maria Alice Marto foi a primeira a conseguir este feito, em 1993, com o Tia Alice, em Fátima. Conservou o título durante três anos.
As outras estreias
Com oito adições, o grupo de restaurantes com uma estrela Michelin ("cozinha de grande nível, compensa parar") passa de 31 para 38 elementos. Além do Marlene, e do Blind, juntaram-se o Grenache (Philippe Gelfi, Lisboa), o Oculto (Vila do Conde, Ivo Rocha / Vítor Matos), o Palatial (Braga, Rui Filipe), o Vinha (Vila Nova de Gaia, Jonathan Seiller / Henrique Sá Pessoa), o YOSO (Lisboa, Habner Gomes) e o Arkhe (Lisboa, João Ricardo Alves). Este último vem fazer companhia ao Encanto (Lisboa, José Avillez), que em 2022 se tornou no primeiro projeto 100% vegetariano, em território nacional, a conseguir a distinção. Pela sua preocupação com a sustentabilidade, que se reflete na adoção de medidas e fórmulas que procuram cuidar do meio ambiente, o Encanto logrou uma Estrela Verde.
As desilusões
Mas não foram só alegrias que se viveram no decorrer da cerimónia, que contou com a apresentação de Marta Leite Castro. Para o 100 Maneiras (Lisboa), de Ljubomir Stanisic, a noite foi de céu limpo devido à perda do astro conquistado em 2020.
Quase cem anos depois da atribuição das primeiras estrelas a casas lusitanas — o guia de 1929 distinguiu os restaurantes Santa Luzia e Hotel Mesquita, em Viana do Castelo e Famalicão, respetivamente —, Portugal continua sem alcançar a distinção máxima de três estrelas ("uma cozinha única, justifica a viagem"). Contrariando os mais otimistas, espaços como o Belcanto (Lisboa, José Avillez), a Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira, Rui Paula), o Ocean (Alporchinhos, Hans Neuner) e o The Yeatman (Vila Nova de Gaia, Ricardo Costa) não subiram de patamar e ficaram-se pelas duas estrelas ("cozinha excelente, vale a pena o desvio"). O mesmo aconteceu com o Vila Joya (Albufeira, Dieter Koschina), o Il Gallo d'Oro (Funchal, Benoît Sinthon), o Alma (Lisboa, Henrique Sá Pessoa) e o Antiqvvm (Porto, Vítor Matos).
Os prémios especiais
Ainda que a entrega das estrelas fosse a mais antecipada, a atribuição dos três prémios especiais não passou despercebida. Enquanto José Diogo Costa, do restaurante William, no Funchal, foi reconhecido como Jovem Chef, Nelson Barreiros, do Ocean, em Porches, recebeu a distinção de Serviço de Sala. Já Marc Pinto, do Fifty Seconds, em Lisboa, levou para casa o Prémio Sommelier.
Os novos recomendados
Aos 116 espaços já recomendados, juntaram-se mais 35. Entre estes, "destaca-se, especialmente, a presença de inúmeros restaurantes de inspiração asiática, que evidenciam o gosto crescente dos portugueses, e da clientela internacional, pela cozinha oriental, em muitos casos numa fusão com a local", nota a organização. É o caso do Avista Ásia, no Funchal, do Izakaya, em Cascais, do Omakase RI, em Lisboa, do Kaigi e do Tokkotai, ambos no Porto.
No que diz respeito aos Bib Gourmand, entregues por reconhecerem a melhor relação qualidade/preço, este ano foram apresentadas cinco novidades: Canalha e Pigmeu, em Lisboa, Contradição, em Bragança, OMA, no Porto, e Terruja, em Alvados.
O balanço final
Feitas as contas, o Guia Michelin Portugal conta agora com mais de 120 restaurantes nacionais — 38 dos quais com uma estrela e oito com duas. Recomendados há 116, enquanto os Bib Gourmand ficam pelos 28. Com estrelas verdes, há seis. Estes resultados são fruto de um ano inteiro de trabalho da equipa internacional, composta pelos inspetores secretos do grupo Michelin, que percorreu Portugal continental e insular de ponta a ponta, sempre à procura das melhores experiências gastronómicas que o País tem para oferecer.
Entregues as distinções, seguiu-se um jantar, para cerca de 500 convidados, preparado por nove reconhecidos chefs do Porto e da região Norte. Rui Paula, Ricardo Costa e Vítor Matos coordenaram a equipa que conta ainda com António Loureiro (A Cozinha, Guimarães), Vasco Coelho Santos (Euskalduna Studio, Porto), Óscar Geadas (G Pousada, Bragança), Julien Montbabut (Le Monument, Porto), Pedro Lemos (Pedro Lemos, Porto) e Arnaldo Azevedo (Vila Foz, Porto). Trata-se de um grupo "de maestros que reinventam as tradições locais, redefinem tendências com técnicas inovadoras e enaltecem o valor dos produtos da região", assinala o guia. Enguia fumada com kvass de beterraba esteve entre os pratos mais aguardados do menu especial.
O Guia Michelin, criado no início do século XX para ajudar os viajantes nas suas deslocações, é hoje considerado uma referência mundial na qualificação de restaurantes. Está presente em 40 países.
DUAS ESTRELAS MICHELIN
UMA ESTRELA MICHELIN
BIB GOURMAND
ESTRELAS VERDES
RESTAURANTES RECOMENDADOS
Porto e Norte
Centro
Alentejo, Algarve e Madeira