Aceitamos que o estatuto seja discutível: fancy, como tudo, é um conceito que pode ser visto de várias maneiras. Mas ao entrarmos na Real Nunes Marisqueira, e ao dar de caras com a sua imponente decoração estilo Art Déco, esta mostra-nos que estamos perante um investimento de bom gosto e requinte. O chão foi feito por medida, tem várias cores que nos remetem para este período artístico. Os dourados, a luz, os efeitos luminosos, tudo isto foi imaginado por Miguel Correia, arquiteto que assinou o projeto de arquitetura, enquanto Paulo Nunes, arquiteto de formação, operacionalizou.Os aquários são tão grandes - e estão tão carregados -, e as montras de marisco são tão variadas de marisco do dia, que, de repente, parece que estamos num mostruário, na lota, e não no restaurante. "Parti da ideia original do Miguel e da Vanda e desenhei tudo de raiz: do chão, às colunas, dos frisos aos candeeiros, incluindo o Neptuno e a Sereia junto ao aquário, peças únicas, que foram realizadas por artistas portugueses ao longo de vários meses", esclarece Paulo Duque.
Estamos na nova morada da Real Nunes Marisqueira (na rua Bartolomeu Dias, no Restelo), desde há uns meses para cá, pois antes estava uns números ao lado, onde abriu originalmente em 2001. Os mentores são Vanda e Miguel Nunes: Miguel trabalhava no restaurante dos pais quando teve a ideia de ter o seu próprio projeto. "A localização apareceu através de um amigo, que me apresentou o local onde ia ser construído o prédio e tinha a área que eu pretendia. A escolha pelo mundo do marisco foi por gosto pessoal e por achar que se podia desenvolver e fazer coisas novas no mundo das marisqueiras", recorda, à MUST. "Achámos que tínhamos de fazer uma decoração que fosse impactante e decidimos seguir as linhas da arte deco pela sua intemporalidade e assim surgiu o atual Nunes".
Há agora espaço para 200 pessoas, sala privada, balcão numa espécie de bar, e mesas recatadas - a acústica foi trabalhada de forma a que, mesmo que encha, as conversas não sejam ouvidas de mesa para mesa, e o barulho não se torne insuportável. "Desde o início que a aposta foi em ter produtos de primeira qualidade, e em grande variedade, conta, daí que hoje encontremos este espaço com o dobro de lugares para sentar." Miguel percebeu que era preciso mudar, que ao fim de nove anos a marisqueira precisava de uma remodelação. "Em 2010 quando eu e a Vanda fomos pais pela primeira vez e a Vanda deixou a área em que trabalhava, passámos a ser os dois a levar o barco em frente. Quando o antigo Nunes começou a tornar-se pequeno, decidimos procurar um espaço novo com outras condições, depois de ver muitos espaços, quase todos no centro de Lisboa, e surge este local com excelentes áreas. Decidimos que era o sítio, também peça proximidade do antigo". Esteve longos anos em obra, oito, na verdade, até que finalmente abriu em setembro de 2022.
No dia em que chegamos, uma casual terça-feira, estão já várias mesas ocupadas e ainda nem são 13h. A quantidade de funcionários que circulam entre mesas mostram-nos um serviço atento e sem demoras. A primeira coisa a chegar à mesa são uma espécie de tostadas com tomate (pan tomaca), deliciosas, por sinal, a acompanhar com presunto. Depois, claro, e sem surpresas, ostras - as que vieram eram da Ria Formosa, mas podem ser de outros sítios, o critério é que sejam frescas. Depois, uma surpresa, camarão de Quarteira, excepcionalmente grande e mais saboroso que o "comum". Acabado de chegar à carta está o sashimi de lavagante. "Queremos inovar e marcar a diferença ao vapor e à grelha, juntamos o forno, a brasa, a fritura, a conserva, o refogado ou simplesmente o cru", garante Miguel Nunes. O lavagante, quando chega à mesa, ainda pulsa.
O prato que se seguiu pode dividir opiniões, mas o certo é que se mantém na carta e é um pedido comum de Roger Schmidt, conta-nos Márcio, um dos funcionários mais antigos e um dos mais conhecedores da casa. Spaghettoni de Lavagante, para os mais excêntricos, que não se importam do sabor forte do tomate aliado ao lavagante. E para sobremesa, claro, pregos de lavagante, mas também de lombo e de barriga de atum com abacate. Uma opção para os corajosos, mas que não desilude, caso ainda exista barriga para tal.
Pela Real Nunes Marisqueira passam, com frequência, rosto famosos - nacionais e internacionais. "Já passou pelo Nunes muita gente ligada à política, artes, desporto e moda. Para nós, portugueses, talvez os mais famosos tenham sido o Cristiano Ronaldo e o Presidente Marcelo." Muitos internacionais também, como o Francis Staub dono da Staub e proprietário da antiga Les Halles em Nova Iorque (onde Anthony Bourdain foi chef durante vários anos) e que agora se chama La Brasserie. "Ele esteve cá, pediu um linguado e fez questão de dizer - ‘foi o melhor linguado que comi em toda a minha vida. Comida excelente, espaço maravilhoso’, antes de sair quis tirar uma foto com o Manuel Costa, um dos nossos chefes que está connosco desde o início." O proprietário recorda uma história que exemplifica a relação que a marisqueira tem com os clientes. "Talvez a mais engraçada tenha sido a do prato a que hoje chamamos lagosta à basca. O Sá Pinto queria comer uma lagosta como comia em Espanha com ovos e batata frita e eu disse-lhe - ‘vais á cozinha e explicas ao chef Costa como queres, hoje em dia é um dos pratos mais emblemáticos.’"
"Trabalhamos há mais de duas décadas com o melhor produto e temos uma excelente relação com os nossos fornecedores, que nos entregam diariamente o produto da melhor qualidade" garante Miguel Nunes. "Temos um enorme respeito pelo mar e por tudo aquilo que ele nos dá. Depois investimos num serviço de primeira, onde todos os pormenores fazem parte da equação", remata.
Onde? Rua Bartolomeu Dias, nº172 E, Lisboa Quando? De Terça a Domingo das 12h às 24h Encerra à segunda Reservas 213 019 899