A primavera tem muitas coisas boas. Dias mais longos, mais quentes e, para acompanhar, novas ementas, mais frescas e descontraídas, pensadas especificamente para os meses de maior calor. O Dona Maria, restaurante do hotel The Lodge, em Vila Nova de Gaia, não é excepção. Como todos os motivos são bons para rumar a Norte, foi isso mesmo que fizemos. Passámos uma noite no hotel e almoçámos com vista para o rio Douro e para a lindíssima cidade do Porto, num dia particularmente quente e soalheiro. Fomos para conhecer a nova ementa, mas foi uma inovação recém introduzida pelo chef João Vieira que nos deixou de cara à banda.
Quem nunca saiu de um restaurante tão satisfeito com o que acabou de comer que foi invadido por uma vontade de levar tupperwares para casa com refeições para mais umas semanas? E a vontade é tão mais avassaladora quanto mais longe de casa se está, afinal, ao restaurante da esquina podemos voltar sempre que quisermos. E quando as iguarias estão a mais de 300 quilómetros de distância? Pois é, sentimos aquela pontada no coração: "tão cedo não volto a provar esta maravilha…" Foi para que quem visita o Dona Maria não seja acometido por este sentimento que o chef pôs mãos à obra e criou conservas. Isso mesmo. Mas tire os tradicionais enlatados da cabeça que não tem nada a ver com isso. Acredite que se não tivéssemos visto o chef a abrir a lata de lulas recheadas, nunca acreditaríamos que não eram acabadas de fazer. Para além de lulas, há atum, carapau, cavala, mexilhão, sardinha, choco e bochechas de bacalhau. E são, mesmo, as melhores conservas que alguma vez comeu na sua vida. Pode comprá-las para trazer para casa ou comê-las no restaurante, como petisco ou refeição leve, em cujo caso a conserva que escolher virá acompanhada de salada e uma tosta grelhada, e custa 15 euros.
A cozinha do Dona Maria é baseada na gastronomia tradicional portuguesa, com acento tónico na partilha, um valor muito importante para o chef João Vieira. Aqui dá-se grande importância aos almoços de domingo, especialmente pensados para que as pessoas se sintam em casa, com aquele tipo de comida de conforto servida, tradicionalmente, pelas nossas mães e avós – o nome do restaurante, Dona Maria, pretende também ser uma homenagem às grandes cozinheiras das nossas vidas. O exemplo de um desses pratos de de domingo é o delicioso Bacalhau à Braga, um bacalhau gratinado com couve, cenoura, ovo e azeitonas, e que é, muito provavelmente, o melhor que já comemos – shhh, não digam nada à mãe da jornalista, ou lá se vai o jantar de Natal.
Mas ainda a propósito de bacalhau, antes que este gratinado chegasse à mesa, tivémos oportunidade de provar a tosta de bacalhau fresco com grão-de-bico, carpaccio fino de orelha de porco, pezinhos de coentrada e tapenade de azeitona em pão de massa mãe bio, e que custa 14 euros. Se a orelha de porco o assusta, ponha à borda do prato e coma o resto porque vale mesmo a pena.
Para quem não prescinde de um bom prato de carne, a sugestão do chef no lindo dia de primavera em que o visitámos recaiu sobre as costeletas de cordeiro de leite albardadas com arroz de feijão catarino e couve repolho. As costeletas são panadas, mas antes são passadas por molho bechamel, o que lhes dá uma cremosidade inesperada. Custam 29 euros.
Outra das grandes linhas orientadoras da equipa do Dona Maria é a inovação ou, talvez seja melhor dizer a invenção e o engenho. É que aqui, as sobremesas não são meros trabalhos de doçaria e pastelaria, mas também de marcenaria. Sim, isso mesmo – madeira, pregos, martelos, serrotes, folha de ouro e ferragens. Se há coisa que não falta num restaurante e hotel que têm que tem o vinho como mote, é caixas de vinho. Por que não, então, usá-las para apresentar as sobremesas?
É o caso, por exemplo, de "A Caixa que Virou Canteiro", um creme de cheesecake com notas de caramelo e baunilha, coberto com terra negra e flores – uma opção que vai maravilhar as pessoas de todas as idades, mas, certamente, os mais pequenos. Ou ainda de "A Garrafa de Vinho Dona Maria", que vai deixar os comensais a coçar a cabeça e a pensar qual dos seus companheiros alambazados terá pedido mais uma garrafa de vinho quando a sobremesa já vinha a caminho. Só que a sobremesa – um cremoso de manga e chocolate branco com esfera de vinho do Porto e crocante de baunilha – está lá dentro da garrafa, escondida, a fazer lembrar aquelas garrafas que têm um minúsculo barquinho dentro. É preciso ver para crer.
Onde? Rua Serpa Pinto, 60; 4400-307 V. N. Gaia – Porto Quando? pequeno-almoço das 7h às 10h30 (todos os dias, incluindo fins de semana e feriados); almoço das 12h30 às 15h de segunda a sexta e das 13h às 15h ao fim-de-semana e feriados; jantar das 19h30 às 22h Reservas: 220 157 542 ou no site.