Prazeres / Sabores

Dois tintos raros, da Quinta Nova, prestam o melhor tributo ao Douro

Nascidos nas vinhas mais antigas de Tinta Roriz e Touriga Nacional do Douro, e com um bom toque de vinha centenária, estes tintos afirmam-se entre as grandes referências da região.

Foto: Francisco Nogueira
21 de novembro de 2022 | Bruno Lobo
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Devo confessar que gosto do nome destes vinhos: Vinha Centenária Referência P28/P21 e Referência P29/P21. Almas mais poéticas dirão que lhes falta fantasia, como será o caso do Mirabillis desta mesma Quinta Nova, mas Parcela 28, Parcela 29 e Parcela 21 rementem-nos imediatamente para uma origem, o microterroir - e ainda deixam uma pergunta no ar: porquê, especificamente, estas parcelas? A Quinta Nova tem 41 no total, o que faz com que estas sejam especiais? Aí reside, basicamente, o segredo destes dois vinhos.

Já ouviu certamente falar da Quinta Nova, de seu nome completo Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Em 1999 passou para as mãos da família Amorim e desde então são muitos os vinhos que ganharam fama, caso dos Mirabilis que já referimos, dos Reservas, do Unoaked, do Rosé ou dos Grainha. É uma das propriedades mais antigas do Douro, está na primeira demarcação do Marquês de Pombal e, até, na cultura popular, com a célebre canção infantil As pombinhas da Catrina. A adega remonta a 1764, continuando a cumprir a sua função, e a casa senhorial ao ano seguinte, acolhendo agora um hotel de charme.

Foto: Francisco Nogueira

Foi entre 1979 e 1981 que a Quinta acolheu um projeto pioneiro do Centro de Estudos Vitivinícolas do Douro para fazer os primeiros ensaios de plantação monovarietal na região. O Centro escolheu a Quinta Nova para plantar três castas, Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca, nas parcelas com as melhores exposições solares, reservando assim a P29 para a Touriga Nacional, e a P28 para a Tinta Roriz (A Touriga Franca ainda lá está, mas sem planos para fazer um monocasta). São vinhas com quase 45 anos, e as mais antigas do Douro nestas castas, por isso mesmo são tratadas com especial cuidado pela equipa de viticultura liderada por Ana Mota.

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Já a Parcela 21 – que responde por cerca de 25% em cada um destes lotes - é um tesouro ainda maior. Uma vinha com uma idade superior a 100 anos, plantada em terraços e com todas as castas que se plantavam na altura. Ao todo deverão ser mais de 80, mas destacamos a Donzelinho Tinto, que representa cerca de 8% do encepamento total, e os cerca de 3% de castas brancas. Terá sido das primeiras vinhas plantadas depois da devastação da filoxera e resiste até hoje, como testemunho da resiliência desses tempos. Apesar da produção baixíssima, pouco mais de 400 gramas por planta, traz uma complexidade e uma concentração incrível aos vinhos e que a Quinta Nova usa, também, para produzir os Porto Vintage.

Tudo o que sai destas vinhas só pode ser ou muito bom ou extraordinário, como aconteceu nesta colheita de 2019. Foi um bom ano em termos climáticos, como se comprova pelas variadas declarações de Vintage nos Porto, e o enólogo Jorge Alves cita com graça um ditado francês "Août fait le moût", ou seja, "agosto faz o mosto", porque de facto choveu dois ou três dias a meio do mês, e essa humidade extra no solo "permitiu fazer vinhos mais frescos, mais elegantes e mais puros, até, aromaticamente", conclui.

Foto: Francisco Nogueira

Apesar destas similaridades, os dois vinhos são bastante diferentes entre si e é perfeitamente possível perceber as características de cada casta. A Touriga Nacional mais delicada e sedosa, com fruta elegante, e a Roriz mais fechada aromaticamente, mas com uma estrutura muito firme e uma elevada concentração. Um case study daquilo que a Roriz pode ser, se tivermos a matéria-prima certa.

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Quinta Nova Vinha Centenária Ref P28/P21 e ref P29/P21 - 2019

Estagiaram ambos 12 meses em barricas de carvalho francês novo e tiveram um pouco mais de tempo de garrafa do que é normal antes de serem lançados para o mercado. Produção de 3.500 garrafas por referência. €90 cada.

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