Foi, provavelmente, o parto mais difícil em 70 anos de história, e tudo começou no final do ano passado: a 20ª edição do Barca Velha estava prestes a ser lançada no mercado. Um vinho que o enólogo, Luís Sottomayor, classificou como "um leão". Eis senão quando a sua equipa se apercebeu de um problema de arrolhamento que poderia vir a colocar em causa a qualidade do vinho. Talvez não amanhã, mas daqui por 20, 30 ou 40 anos - e um dos segredos do Barca Velha é precisamente a sua longevidade.
Avintes, we have a problem! As campainhas soaram na sede da Sogrape, cuja decisão acabou por ser salomónica: o vinho de 2011 não sai para o mercado até se trocarem todas as rolhas e se aguardar o tempo suficiente até se perceber se o problema provocou - ou não - algum dano na qualidade do vinho. A decisão levou inclusivamente Fernando da Cunha Guedes, o presidente da empresa, a comentar que "entre todos os Barca-Velha, e por todos os episódios que o seu lançamento encerra, 2011 é o maior símbolo de uma busca apaixonada pela perfeição".
De facto, não há outro vinho assim no nosso país. Em quase 70 anos foram lançadas apenas 20 edições, já contando com esta. Os outros anos ou foram despromovidos à categoria de Reserva Especial (17 edições) ou nem sequer viram a luz do dia. E durante todo esse tempo a decisão coube exclusivamente a três enólogos, num processo de enorme continuidade.
Entretanto, já se passaram cinco meses desde o rearrolhamento, e o vinho estagiou tempo suficiente para Luís Sottomayor poder afirmar com certezas de que o processo "não comprometeu nem alterou a qualidade e complexidade do vinho." Pelo contrário, vai beneficiar "no sentido em que tão cedo não precisará de ser rearrolhado. Portanto poderá ser guardado por mais 30 anos sem qualquer problema", acrescentou ainda em declarações à MUST.
Passaram exatamente 10 anos, desde que uma vindima excecional na Quinta da Leda, no Douro, em 2011, deu origem a este vinho que podemos finalmente provar. Pode ler aqui todas as nossas impressões sobre este Barca Velha, mas fica já uma certeza: trata-se de uma verdadeira homenagem à arte de saber esperar. Uma edição que faz pleno jus à história do mais mítico dos vinhos nacionais.