Na adega da Quinta Nova produz-se vinho desde 1764. A data ainda lá está, sobre o brasão, na mesma fachada que viu passar tantos carros de bois carregados de pipas, a caminho dos barcos rabelos. Mesmo sendo a região demarcada mais antiga do mundo, o Douro não tem muitos edifícios com este peso histórico, por isso é com evidente orgulho que Ana Mota afirma que nesta última renovação "não mexemos numa única parede, porta ou janela [da velha adega]", embora a diretora de Viticultura do grupo Amorim não possa dizer o mesmo sobre o telhado, por onde entraram as enormes cubas de cimento que agora dominam o espaço, e que Luisa Amorim acredita serem "fundamentais para enfrentar os desafios climáticos no Douro".
As cubas impõem-se pelas suas paredes curvadas e pela disposição em patamares, replicando com impressionante impacto os socalcos que fazem do Douro um património único de toda a humanidade. "A ideia surgiu com naturalidade", explica a presidente executiva, "e como forma de homenagem à história da região". O projeto foi assinado pelo arquiteto Arnaldo Barbosa, que já tinha desenhado a primeira renovação há cerca de 20 anos, após a compra da quinta pela família Amorim e, ao todo, temos 32 cubas com capacidades que vão dos 1200 aos 13 200 litros. "Não existem duas cubas iguais", explica o enólogo Jorge Alves, o que representa um desafio: "As cubas de cimento não são inertes e as diferentes dimensões vão ter impacto sobre o vinho", mas também será uma oportunidade: "abre todo um leque de possibilidades", conclui. Apesar de não serem as mesmas cubas que o grupo instalou na adega da Taboadella, no Dão, as equipas de enologia conhecem bem as suas vantagens, sobretudo ao nível da micro oxigenação dos vinhos, mais controlada, sem a "paragem" do inox, mas em menor escala do que na madeira. Todos os vinhos, brancos ou tintos vão passar por aqui e o próprio Unoaked, cuja característica era apenas estagiar em inox, vai passar a fazê-lo também nestas cubas, o que trará outra complexidade.
Ainda assim, nem a madeira nem o inox foram abandonados, e a renovação passou também por duas novas zonas de barricas onde muitos dos vinhos vão continuar o seu estágio. Uma para brancos e outra para tintos, aqui apostando sobretudo em formatos maiores, como foudres de 1200 litros, que permitem obter vinhos "menos marcados pela madeira e mais suaves". Adjacente ao velho edifício, temos ainda a zona das cubas de inox, onde o investimento passou também pela adoção do sistema Wine Grid, uma tecnologia nacional que permite acompanhar, em tempo real, todos os parâmetros importantes da maturação em cada uma das cubas.
"Já não faz sentido interpretar a enologia como fazíamos há 10 anos", explica Luisa Amorim. "[Com as alterações climáticas] temos de assumir que todas as vindimas serão atípicas", e este sistema com "diferentes materiais de estágio, versatilidade de tamanhos e capacidade sobredimensionada vai permitir aproveitar os pontos de maturação certos, em cada uma das diferentes parcelas da quinta", diz. "Mudar para melhor é sempre uma boa ideia", conclui, por isso decidimos criar uma adega boutique, tradicional, mas com tecnologia de ponta."