Última estação: Trans Douro Express – Cima Corgo 2021
O produtor e enólogo Mateus Nicolau de Almeida apresenta este tinto como se fosse uma viagem pelo Douro, até porque faz parte de "de um conjunto de três vinhos, cada um representando o clima e características de cada sub-região". O produtor, descendente do histórico enólogo do Barca Velha, refere que "a base do Douro é o xisto, mas o clima muda muito". Explica que no Baixo Corgo se define por "mediterrâneo-atlântico, no Cima Corgo por mediterrâneo e no Douro Superior, mediterrâneo-continental".
Mateus Nicolau de Almeida salienta que "apesar de estarem dentro da mesma DOC Douro, têm características muito distintas", e pensa "que deveriam ser, cada uma, mais potenciadas e demonstradas ao consumidor". De resto, acrescenta, "deveriam cada uma ter denominações de origem próprias, englobadas na grande DOC Douro". Mateus dá como exemplo que "não se imagina dizer que um St. Emilion é a mesma coisa que um Medoc, e são DOC diferentes dentro da grande DOC Bordeaux.
O produtor refere que usa diversas parcelas para poder representar bem cada sub-região, e "a dificuldade está em encontrar todas as parcelas". A vinificação é igual nos três, ou seja é "desengaçado, depois fermentado em cubas de cimento abertas durante quatro a cinco dias e, depois de acabar de fermentar, estagia durante oito meses em cubas de cimento".
As castas são uma mistura "para eliminar o efeito casta e privilegiar o efeito clima", refere. O produtor salienta que deve ser bebido a 16ºC e acompanhado de uma refeição. O preço está nos 15 euros e Mateus Nicolau de Almeida sugere que deve ser consumido no máximo em dez anos, mas refere que "o melhor é beber novo para sentir bem a característica da sub-região". O enólogo esclarece que o Trans Douro Express se dirige a um consumidor "interessado em descobrir de onde vêm os vinhos, as características do sítio e conhecer a região através da prova". Conclui que "o interessante é provar os três em conjunto".
Uma francesa no Douro: Phenomena 2022
Os enólogos Jorge Alves e Celso Pereira são os autores deste rosé duriense que já conta com várias edições. Jorge Alves explica que além das tendências dos mercados nacional e internacional e da intuição que é a acumulação do saber adquirido, ambos entenderam que "estavam criadas as condições naturais para que no habitat natural – Planalto de Alijó – cujos solos delgados e graníticos ou mesmo de transição, com ventos atlânticos e com as castas certas, se pudesse criar um projeto inovador e diferenciador a nível de rosés". Celso Pereira explica que o vinho é feito a partir da casta francesa Pinot Noir, "vindimado manualmente para caixas de 20 quilos, acabando as uvas por serem submetidas a choque térmico durante 24 horas". A prensagem, acrescenta, "é efetuada com a uva inteira a uma temperatura de 10ºC.". Neste rosé, 50% do lote total fermenta em cubas inox e os restantes 50% em barricas novas de 500 litros e de 225 litros já usadas.
Jorge Alves garante que o Phenomena é feito 100% a partir da casta Pinot Noir, plantada no planalto de Alijó, a uma altitude de 600 metros, "onde acaba por mostrar todo o seu potencial na produção de rosé de excelente qualidade". Os enólogos apontam a temperatura ideal para ser servido entre os 10ºC os 12ºC e sugerem que pode ser degustado sozinho ou "acompanhado por tábuas de frios, queijos, frutos do mar, aves grelhadas, sushi, sashimi ou salmão grelhado". O preço ronda os 26,90 euros que Celso justifica "dada a sua qualidade e produção limitada". Celso Pereira salienta que pode ser bebido imediatamente, mas "dada a sua estrutura e acidez tem capacidade de envelhecimento". Jorge Alves indica que a "elegância tanto no nariz como na boca, mineralidade, coloração, complexidade aromática e estrutura, próprios da casta Pinot Noir, acabam por imprimir uma textura diferenciadora em relação a outros rosés da mesma região". Quanto aos destinatários ambos os responsáveis esclarecem que "este vinho foi feito a pensar em todas as gerações, mas com uma maior incidência na geração do milénio, assim como os baby boomers".
Jorge Alves e Celso Pereira não têm dúvida que o esforço sobre-humano das gerações passadas, que contribuíram para que a região tenha sido património mundial da UNESCO, "acabaram por moldar o terroir do Douro de uma forma em que os vinhos aí elaborados tenham poros e feições".
Certificado de origem: Costa Boal Moscatel Galego Branco 2022
O produtor António Boal explica que este vinho branco já não era produzido na casa desde 2015, e "é o primeiro com a marca Costa Boal". Adianta que a casta "faz parte da história da região, tendo em conta a proximidade com Alijó", na qual também estão inseridos, concelho onde se produz a maior parte do Moscatel Galego. No que diz respeito à vinificação, António esclarece que "as uvas são pré-selecionadas e colhidas manualmente durante as primeiras horas da manhã, transportadas em caixas de 16 quilos e posteriormente prensadas suavemente em ambiente inerte seguindo-se uma decantação estática a frio". Quanto à fermentação, é feita com temperatura controlada em cuba de inox. A maior dificuldade, refere, está na escolha da data para a vindima para "encontrar o equilíbrio correto entre o nível de acidez e de açúcar nos cachos".
Relativamente à casta, o produtor garante que quer preservar as origens e apresentar vinhos com o melhor que têm para oferecer "em vinhas numa zona de exposição e altitude favorável à produção de qualidade". Quanto à temperatura ideal para o servir, António Boal sugere entre 8ºC a 10ºC, sozinho ou numa refeição leve, com pratos de peixes ou carnes brancas, frios ou quentes. O preço de 18 euros parece-lhe "o equilíbrio perfeito entre o valor do vinho e os custos de produção". O produtor refere que, "de modo a preservar a sua frescura, pode ser bebido brevemente ou guardar nos próximos três a quatro anos".
O vinho, salienta, é destinado "a qualquer pessoa que admire vinhos frescos e aromáticos, feito com a finalidade de manter esta casta como parte do portefólio e também para manter a tradição". O terroir, conclui António Boal, "devido à sua altitude e mineralidade do solo, permite obter vinhos mais frescos e com maturações mais equilibradas".
Biodiversidade: Mont’Alegre Clarete 2020
O produtor, enólogo e mentor do projeto FGwines, Francisco Gonçalves, não tem dúvidas que todos os vinhos da sua marca mantêm o respeito pela tradição e cultura da região. O produtor explica que a motivação para a produção deste vinho "foi recriar aquilo que se fazia antigamente". Explica que "dentro de uma única parcela, foram colhidas uvas brancas e tintas conferindo uma identidade única ao vinho, com uma cor mais aberta com suavidade e maior frescura". As características, acrescenta, "são conferidas pela maturação distinta entre a uva branca e tinta", o que recria um conceito e uma prática antiga que faz parte do património genético.
As uvas do clarete foram prensadas ligeiramente, antes de uma decantação estática de 24 horas. Fermentou a 14°C e após fermentação foi colocado em barrica de carvalho francês usada durante 12 meses. Relativamente às castas, Francisco revela que "é uma mistura de castas típicas da região provenientes de vinhas com mais de 40 anos".
O enólogo aponta os 14ºC como ideal para servir o vinho e refere que se trata de um vinho gastronómico e, portanto, "combina com uma grande variedade de pratos". Francisco Gonçalves refere-o como "um vinho curioso, multifacetado e que pode permitir agradáveis surpresas nas mais distintas e improváveis combinações". Com um preço de 17 euros, o vinho DOC Trás-os-Montes pode ser bebido brevemente mas tem, segundo o produtor, "alguma capacidade de envelhecimento". Comparado com os vinhos da região, Francisco Gonçalves destaca a semelhança "pela sua frescura e caráter e, ao mesmo tempo, distingue-se pela sua identidade tão única". Sugere ainda que é "o vinho ideal para consumidores e/ou apreciadores curiosos, que procuram diferenciação".
No que diz respeito ao terroir, que Francisco identifica como "particular e complexo", resulta "num clarete com frescura, caráter, personalidade, mineralidade e complexidade". O enólogo conclui que, "numa só garrafa, apresenta-se o DNA de uma região e até mesmo a preservação da biodiversidade sociocultural".