Prazeres / Sabores

4 vinhos e as suas histórias: um rosado além-fronteiras, um vinho viciante e dois tintos do Douro

Julho também é mês de rega, sobretudo das vinhas mais novas. Há as que quase não necessitam, que com as suas raízes profundas procuram os nutrientes. Em destaque, um 100% Alvarinho, um rosé afrancesado, um tinto bio e um reserva que procura a frescura.

Foto: D.R
14 de julho de 2023 | Augusto Freitas de Sousa
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"Comme en Provence": Vinha da Rosa Rosé – Single Vineyard 2022

O desafio foi proposto por um francês amigo de Filipa e João Maria Portugal Ramos, ambos filhos deste produtor. Filipa explica que andava com "vontade de lançar um vinho rosé diferente" e conta que durante um jantar em Estremoz, o repto lançado pelo amigo foi o de fazer vinho rosé estilo Provence no Alentejo. A produtora explica que a decisão foi de que o vinho "deveria ser proveniente das vinhas biológicas, rodeadas pelas roseiras que a serpenteiam". Filipa Portugal Ramos acrescenta que a tradição, mantida pela família, remonta ao tempo dos romanos que associavam as rosas à produção de vinha que, além da beleza e dos aromas, "são também um importante habitat para alguns insetos e funcionam como um sistema de alerta para algumas maleitas da vinha". 

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João Maria explica que as uvas são provenientes do lado voltado a nascente, "menos castigado pelo sol", são vindimadas manualmente e arrefecidas em camara frigorifica. Refere que a fermentação ocorre também a temperaturas baixas em cubas de inox, mas parte do lote fermenta e estagia em barricas usadas de 500 litros. Para o produtor, a maior dificuldade foi "perceber qual o momento certo para conseguir um vinho fresco, com sabor, mas ao mesmo tempo com pouca cor". João Maria salienta que o rosé é feito com as castas Touriga Nacional e Syrah e recomenda o seu consumo entre 10 e 12ºC

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Filipa Portugal Ramos sugere pratos de peixe, aves, ovos e saladas, uma vez que "é um vinho gastronómico", mas conclui que "a sua frescura e vitalidade permite que possa ser bebido "by the glass", como aperitivo". Com um preço aproximado de 16 euros, a produtora refere que idealizaram o rosé "para consumo rápido", apesar de considerar que pode "evoluir na garrafa".

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Os filhos de João Portugal Ramos, Filipa e João Maria, estão atentos ao crescimento exponencial do consumo de rosés nos últimos anos. Filipa garante que "há uma evidente alteração nos hábitos de consumo, com as pessoas a consumirem vinhos mais frescos e menos alcoólicos". João Maria não tem dúvidas que estão "na época perfeita para os amantes deste tipo de vinho: o calor, os dias longos de verão, os fins de semana na praia e jantares ao ar livre são um convite irrecusável a um copo de rosé".

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Um vício chamado Alvarinho: Gran Vicious 2020

Na altura, o enólogo Tiago Macena da Quinta da Vacaria explica que o nome desta edição especial está "intrinsecamente associado a um conceito de desejo e paixão, sugere uma ligação intensa e gratificante, refletindo o carisma inebriante dos vinhos produzidos sob esta marca". Para Tiago Macena o maior desafio foi "a prospeção de terreno e o parceiro de adega". Refere que a vinificação é clássica e que passou por uma maceração pelicular prolongada, enquanto parte da fermentação foi realizada em barricas de carvalho francês, "onde estagiou demoradamente".

O enólogo escolheu a casta Alvarinho uma vez que tem "uma expressão sublime na região de Monção e Melgaço, onde os vinhos são produzidos". O responsável aponta a temperatura ideal para servir o Vicious entre 14°C e 16ºC e garante que pode ser apreciado sozinho ou acompanhando uma refeição. Por exemplo, destaca, "um prato de mariscos frescos, como camarões grelhados ou vieiras, ou outros pratos de peixe". O preço de 275 euros inclui uma ponderação "do custo de produção, o tempo de estágio, a qualidade das uvas, a exclusividade da produção limitada e a reputação da marca"

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Tiago Macena não tem dúvidas que o Grand Vicious pode ser consumido imediatamente, porém, "tem potencial para envelhecer em garrafa e desenvolver maior complexidade ao longo do tempo". Relativamente à região, o enólogo garante que embora partilhe a mesma casta Alvarinho, representa uma procura pela excelência, expressando autenticidade, complexidade e sofisticação". Quanto ao destinatário, o responsável assinala que é destinado a pessoas "que valorizam a qualidade, a autenticidade e a busca pela excelência na produção de vinhos" ou mesmo a colecionadores de vinhos, "dada a sua produção limitada e a capacidade de envelhecimento em garrafa".

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Tiago Macena conclui que o terroir da região de Monção e Melgaço "tem uma influência significativa na produção dos vinhos". Mas além desses efeitos, o enólogo também tenta encontrar diferenças em cada parcela, razão pela qual escolheu "uma vinha de encosta, virada a Norte e menos produtiva para elaborar o Gran Vicious".

Biodiversidade e preocupação ambiental: Terras do Grifo Bio tinto Reserva 2021

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A empresa Rozès já tinha convertido anteriormente parte das vinhas da Quinta da Veiga Redonda em produção biológica. Com a enologia de Manuel Henrique, Luciano Madureira e Jorgina Quintela, chegaram o branco e o rosé bio e, este ano, o tinto, também biológico. Manuel Henrique explica que a história deste vinho começou em 2000, na altura em que a empresa comprou a quinta no Douro Superior, "onde habitam os grifos, aves majestosas e guardiãs ancestrais das vinhas". Refere que 2021 foi o início do primeiro vinho biológico, com "uma grande preocupação na sustentabilidade ambiental e defesa da biodiversidade."

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Jorgina Quintela aponta uma vinificação semelhante aos restantes, embora totalmente autónoma para evitar qualquer tipo de contaminação, "o que se torna complexo em termos de organização do trabalho na adega e na receção de uvas de outras quintas". A equipa escolheu as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão e Tinto Cão. O enólogo Luciano Madureira garante que este tinto "é um reserva muito encorpado cheio de fruta preta e caráter do Douro Superior", que pede obrigatoriamente "pratos cheios, nomeadamente o cabrito, borrego e cozido de carnes de porco, fumeiros e queijos fumados muito fortes".

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O preço de 16,50 euros incorpora, além dos impostos, os custos de produção associados e integração de uma margem que permita à empresa criar valor para poder reinvestir na região do Douro Superior. A enóloga Jorgina Quintela considera que continua a haver "uma boa relação preço-qualidade junto do consumidor, apresentando assim ao mercado um produto de alta qualidade, mas com preço muito competitivo".

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Para Manuel Henrique, o tinto está pronto para ser desfrutado, mas vai continuar a evoluir na garrafa. O enólogo, que recomenda que se beba a uma temperatura ligeiramente fresca, entre os 14º C e os 16º C, confessa que quer continuar com o estilo que os clientes apreciam "e conquistar novos clientes, em particular os que procuram esta categoria reserva, agora com uma alternativa biológica".

Família Touriga: Quinta do Pessegueiro Reserva Tinto 2021

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A filosofia da quinta passa pela descoberta e curiosidade no estudo do maior número de castas existentes, do tipo de poda, e diferentes densidades de plantações entre outros aspetos. A explicação é do diretor técnico de viticultura e enologia da Quinta do Pessegueiro, Hugo Helena, que aponta 2012 como a altura em que foram plantadas novas parcelas apenas com uma casta, "como por exemplo, a Tinta Amarela, Rufete, Tinto Cão e Tinta da Barca, entre outras". No que diz respeito ao vinho, o responsável salienta que, "sabendo que a casta Touriga Nacional é o pai da Tinta da Barca e da Touriga Franca, provado geneticamente, surgiu a ideia de fazer um blend com o pai e as duas filhas".

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O primeiro lançamento foi em 2021 com o reserva de 2019 e, segundo o enólogo, as maiores dificuldades estão na viticultura para conseguir "uma boa matéria-prima" e na precisão da data de vindima. Os dois pontos fundamentais, acrescenta, para que depois haja "um mínimo de intervenção com produtos enológicos". Hugo explica que as uvas passam entre 12 e 16 horas numa câmara frigorifica, antes da vinificação, "feita com leveduras indígenas em balseiros de madeira e envelhecimento em barricas de 225 litros e pipos de 600 litros usados. 

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O responsável pela viticultura e enologia indica 16ºC para o consumo e, apesar de ser um vinho para acompanhar uma refeição, principalmente pratos de carne, "não se deve pôr de lado os de peixe como por exemplo o atum". Na opinião de Hugo Helena, o vinho, com um preço de 17,50 euros, "está pronto para beber, mas tem muito potencial de guarda, isto porque apesar da sua complexidade e textura, tem uma grande frescura e vivacidade".

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O enólogo chama "autêntico" a um vinho "que representa bem as castas que incorpora, com a complexidade da Touriga Franca, com a textura e aroma da Touriga Nacional e finalizando com a frescura da Tinta da Barca". Hugo Helena conclui que este reserva provém de duas parcelas, "uma parte da Quinta do Pessegueiro virada a poente que traz a untuosidade e a concentração e a outra parte da Quinta da Teixeira com a textura e a frescura".

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