Clássico e tradicional: Chocapalha Reserva Branco 2022
"É considerado um clássico da Quinta de Chocapalha por ser o branco mais antigo produzido pela família, sendo a primeira colheita de 2003". Quem o refere é a enóloga e produtora Sandra Tavares da Silva, também da família dos proprietários. A responsável recorda que a quinta, na Aldeia Galega, em Alenquer, na região demarcada de Lisboa, "é uma propriedade referida desde o séc. XVI pelas suas excelentes vinhas e vinhos que pertenceu, desde os começos do séc. XIX, a Constantino O`Neil". Sandra Tavares da Silva acrescenta que Diogo Duff, fidalgo escocês, recebeu a propriedade em doação e "permaneceu na posse da família até à década de 80 do século passado, altura em que foi adquirida por Alice e Paulo Tavares da Silva. A restruturação e replantação total dos 45 hectares de vinha introduziu novas técnicas e "só na vindima de 2000, momento em que as vinhas atingiram a sua maturidade e qualidade pretendida, se decidiu proceder ao engarrafamento dos melhores vinhos".
A enóloga e produtora adianta que a maior dificuldade deste branco de 2022 "foi descobrir as barricas que melhor se adequavam" antes do estágio que ocorreu durante nove meses "com batonnage". O vinho, refere, "resulta do blend das castas Chardonnay (80%) e Arinto (20%), que são duas castas que para a enóloga "se equilibram na perfeição"
Sandra Tavares da Silva aponta os 12ºC. para servir o reserva branco que considera "com grande aptidão gastronómica, entre outros, com pratos como peixe grelhado, vieiras, lagosta e saladas. Com um preço de venda ao público de 15,50 euros, este vinho pode beber-se já, mas tem potencial de guarda. Sandra não tem dúvidas que os destinatários "são todos aqueles que gostam de vinhos brancos gastronómicos, frescos e elegantes". Recorda que na altura em que lançou o primeiro "foi um enorme desafio pois queria produzir um grande branco em Lisboa com uma das castas internacionais que mais gosto: o Chardonnay".
Em nome da família: Fiuza Sauvignon Blanc
As vinhas foram plantadas pelo fundador da empresa, Joaquim Mascarenhas Fiuza, avô do atual diretor Giovanni Nigra. O diretor avança a hipótese de ter sido, provavelmente, "o primeiro produtor a plantar a casta Sauvignon Blanc em Portugal". Explica que cultivar uma casta que não é autóctone, que não é típica do local onde está a ser plantada (zona do Tejo), "requer sempre algum tempo de adaptação para que adquira o seu potencial máximo". Giovanni Nigra salienta que com a experiência e métodos de vitivinicultura que se foram desenvolvendo ao longo das várias gerações da Fiuza, "conseguiram ultrapassar todas as barreiras".
O diretor revela que a opção pela casta francesa teve como finalidade "desenvolver um vinho com estrutura, bastante acidez e um perfil muito frutado e leve que proporciona uma forte sensação de frescura". Indica entre os 11 e 13ºC. para consumir este branco e garante que combina "com pratos leves típicos do Verão, como peixe grelhado, massas frescas ou saladas". A frescura permite que seja bebido como aperitivo, sozinho, mas também influi na recomendação da casa para que seja bebido até um período máximo de um ano. Com um preço a rondar os sete euros, este vinho, para Giovanni Nigra, diferencia-se por ser "uma casta praticamente única na região do Tejo, apesar de haver outros produtores que têm Sauvignon Blanc, mas em quantidades menores". O diretor recorda que quando foi lançado a primeira vez "era uma novidade no mercado". A casa esperou pela recetividade do consumidor e, salienta, "rapidamente se tornou um dos vinhos mais procurados no portefólio da Fiuza". Este vinho integra a gama de monocastas da casa, juntamente com o vinho branco Chardonnay, o tinto Cabernet Sauvignon e o Rosé Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon."
Ilha do Pico Terrantez do Pico 2021
O enólogo consultor da Picowines, Bernardo Cabral, revela que foi na colheita de 2017 que fez o primeiro Terrantez do Pico. Conta que ao provar o mosto, a elevada acidez levou a que "se tomasse a decisão de o fermentar numa pipa muito antiga onde estagiaram durante décadas os vinhos licorosos". Não tem dúvidas que "o momento para o fazer era aquele e não mais tarde". Recorda que esteve uma noite inteira a passar o mosto "daquele Terrantez do Pico para a pipa nº28". Foi um risco, uma vez que são as uvas mais caras, mas o sucesso, acrescenta, "foi proporcional ao esforço de todos na sua elaboração".
Bernardo garante que a casta "é a mais difícil do ponto de vista vitícola" e conseguir as uvas para produzir este vinho "tem sido um dos maiores desafios". Refere não ter aumentado mais a produção "porque não tem tido a mesma qualidade nas uvas de outras vinhas diferentes das primeiras". Quanto à elaboração, o enólogo explica que "é fermentado em duas pipas muito antigas de 650 litros (a nº23 e a "mítica" nº28) "permanecendo a estagiar até maio do ano seguinte".
Bernardo Cabral indica os 12ºC. como a temperatura certa para o servir e, "como é um vinho muito gastronómico, sugeria barriga de atum para o acompanhar". O preço de cerca de 50 euros revela "o elevado custo de produção e raridade" num vinho que "melhora muito com os anos".
O enólogo consultor garante que a influência do terroir é muito forte, apontando "o meio do Oceano Atlântico e as vinhas que estão plantadas em solos de pedra vulcânica". Para Bernardo Cabral, "a frescura que o mar oferece sente-se na acidez e tensão que o vinho tem em boca, em notas de iodo e algas". Sugere que a mineralidade e o fumo vulcânico dos solos onde as raízes se estendem e alimentam a planta o leva a concluir que "é, talvez, um dos vinhos que se pode provar no cenário mundial onde se sente mais o terroir".
O responsável conclui que "a raridade e o elevado grau de dificuldade em todas as fases da produção fazem deste um vinho muito especial".
O marinado: Poças Fora da Série SCUBA 2022
SCUBA quer dizer "Self Contained Underwine Breathing Arinto", o que se traduz numa fermentação com o cacho inteiro submerso em mosto da casta Arinto. O enólogo André Pimentel Barbosa salienta que este branco "nasce da vontade de explorar diferentes as dimensões da casta". A ideia foi fazer um vinho que equilibrasse "os arintos muitos frescos, minerais, nervosos e os muito complexos, evoluídos e pesados".
O enólogo da casa Poças explica que o SCUBA foi elaborado apenas esta casta branca, proveniente da Quinta de Vale de Cavalos em Numão, e "resulta de um processo de fermentação inovador, no qual os cachos inteiros são submersos num mosto de Arinto". A fermentação, acrescenta, "decorre em conjunto, e posteriormente, os cachos são separados do mosto que o envolvia e são prensados individualmente, dando origem a um vinho rico e complexo". Após a vinificação, o vinho é submetido a um estágio de nove meses em barricas usadas.
André Pimentel refere que a inspiração para o desenvolvimento desta técnica foi a tradicional "marinada", "onde se submerge um pedaço de carne numa quantidade de líquido para que esta ganhe mais complexidade sem perder as suas características originais". O responsável refere que a escolha da casta tem haver com o trabalho da casa Poças para "encontrar as melhores soluções de combate às alterações climáticas que têm vindo a alterar os perfis dos vinhos e a forma como se faz a gestão as vinhas".
O enólogo aponta os 10 ou 12ºC. como temperatura ideal para o servir e garante que "é um vinho que se pode desfrutar sozinho", mas considera mais interessante "à mesa com um arroz caldoso de lingueirão ou um pargo assado no forno". Com um preço recomendado de €27,50, André assegura que o SCUBA "está perfeitamente bem para ser consumido agora, mas pela sua acidez e equilíbrio tem uma enorme capacidade de envelhecimento". Apesar de ser um duriense puro, o enólogo afirma que é "muito atípico para uma região quente como o Douro e talvez haja mais facilidade em encontrar semelhanças em vinhos da Borgonha".