Prazeres / Sabores

4 vinhos e as suas histórias: dois tintos a Norte e a Sul, uma estreia no Douro e um branco feito por “estrangeiros”

Neste mês em que as plantas começam a rebentar - vides incluídas - há ainda quem faça a poda em verde, ou seja, antes da floração. Ideias para beber e celebrar a chegada da primavera.

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24 de março de 2024 | Augusto Freitas de Sousa
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O Estrangeiro Dão Branco 2022

Pedro Ribeiro enólogo e proprietário da Herdade do Rocim, no Alentejo, não tem dúvidas de que os seus primeiros vinhos do Dão "concretizam finalmente o desejo de produzir numa região muito especial, mas em que somos estrangeiros".

Explica que este branco é elaborado a partir das uvas de "uma vinha velha de Nelas de carácter único" e identifica a principal dificuldade: "O processo de prospeção no terreno até identificar a vinha que considerámos perfeita para a visão do que queríamos que fosse este projeto, mas, mais do que difícil, foi uma aprendizagem que nos deu muito prazer".

Pedro Ribeiro refere que quer o branco, quer o tinto "são field blend destas vinhas velhas", ou seja, uma vinha muito antiga, com dezenas de castas misturadas. Neste caso, colhem e vinificam tudo ao mesmo tempo, apesar das uvas brancas estarem separadas das tintas e independentemente de o estado de maturação das uvas ser diferente entre as castas.

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Para o servir, o responsável aponta entre os 12 e os 14 graus. Quando ao pairing, Pedro garante que "são vinhos que dão imenso prazer a beber e que se podem beber sozinhos". Mas, acrescenta que os seus vinhos "são gastronómicos e estes não são exceção, pelo que o Estrangeiro branco ficará perfeito "com os queijos portugueses ou um peixe da costa".

Com um preço recomendado de 31,50 euros, o enólogo salienta que "todos os vinhos da região têm uma longevidade incrível e, como tal, este pode guardar-se durante vários anos, ganhando uma complexidade acrescida". Relativamente à semelhança com outros vinhos da região, Pedro Ribeiro não esconde que tenta que não seja comparável, uma vez que estes vinhos são a sua interpretação "do que é o Dão". Refere que os destinatários "são todos os amantes de vinho e, o grande objetivo era tentar materializar a paixão que por uma região única, que faz parte da história do vinho português e que, de certeza, vai contribuir muito para o seu sucesso no futuro".

Quinta da Boavista Vinha do Oratório 2020

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Ricardo Macedo, enólogo da Quinta da Boavista recorda que a quinta, datada de 1756, era referenciada como produtora de "vinhos finos de feitoria, os melhores vinhos do Porto produzidos no Douro e destinados à exportação". Acrescenta que a tradição local "atribui ao Barão de Forrester a replantação e tratamento das vinhas no período do surto de oídio, na década de 1850, sendo um dos edifícios da propriedade designado ainda hoje por Casa do Barão".

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Já nas mãos da Sogevinus, o responsável refere que este Vinha do Oratório – nome provém dos terraços ondulados com quase oito metros de altura em forma de oratório – é um vinho cujas uvas provêm de uma só parcela, vindimado manualmente por etapas: "Cada patamar é vindimado em separado e a fermentação das uvas também ocorre separadamente". Depois do estágio em cascos de carvalho francês, durante um período mínimo de 18 meses, o vinho foi engarrafado. Ricardo Macedo salienta que o tinto é composto por "uma mescla de mais de 50 castas do Douro, com uma idade superior a 90 anos".

O enólogo aponta um intervalo entre os 16ºC. e os 18ºC. como temperatura ideal para o servir e, para as refeições, sugere pratos à base de carnes vermelhas, de caça e queijos fortes. O preço de 125 euros é justificado por ser, segundo o responsável, "um vinho único, de extrema qualidade e escassez, só produzido em anos em que se atinge o nível de qualidade definido". Ricardo Macedo garante que é "maioritariamente de guarda, pois trata-se de um vinho de marcante concentração e complexidade", porém já pode ser bebido, uma vez que tem um mínimo de dois anos de estágio em garrafa.

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O responsável pela enologia da Quinta da Boavista sustenta que este Vinhas Velhas é "um regresso ao passado no Douro e um tributo a todos aqueles que contribuíram para que ainda hoje se consiga obter vinhos de terroir numa região tão inóspita".

Moscatel do Douro Reserva 2015

O enólogo da Adega de Favaios, Miguel Ferreira, explica que depois do processo de criação de novas categorias no Douro onde se insere o moscatel de Favaios, passou a haver, entre outras, a categoria reserva. Explica que este vinho apenas se vinifica "nos anos em que as uvas demonstram ter uma qualidade excecional", tal como aconteceu em 2015.

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O responsável aponta a vindima manual e a fermentação em curtimenta durante cerca de seis dias antes de ser adicionada a aguardente vínica. O vinho esteve em barricas velhas de carvalho onde estagiou durante cinco anos. A casta utilizada foi o Moscatel Galego Roxo – em Favaios também há o Moscatel Galego Branco – o primeiro Moscatel elaborado a 100% da variante roxa.

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Miguel Ferreira sugere que seja servido frio, entre 8 e 10ºC. e acrescenta que se pode apreciar sozinho ou "a acompanhar queijos curados, presunto, frutos secos e salmão, ou nas sobremesas de preferência doçaria conventual".

Com um preço recomendado de 13 euros, este Moscatel está pronto a consumir, no entanto, o responsável salienta que "desde que a garrafa seja guardada na vertical, em local fresco e seco, preserva as suas características durante alguns anos".

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O enólogo refere que comparando com o perfil mais tradicional dos moscatéis do Douro, "este apresenta um perfil menos oxidativo e menos caramelizado e com a tonalidade um pouco mais alaranjada e menos dourada", criado para o consumidor típico de Moscatel de Favaios, mas que procura um vinho com maior intensidade e complexidade.

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O responsável destaca o terroir como sendo "quase tudo neste vinho". Explica que no Planalto de Favaios os solos são mais férteis quando comparados com a generalidade dos solos do Douro, as temperaturas médias, apesar de elevadas, são também abaixo da média da região e a pluviosidade é maior". Para Miguel Ferreira, são caraterísticas que tornam a zona perfeita para a produção de vinhos licorosos onde "as uvas crescem e amadurecem na vinha com mais equilíbrio".

Rafeiro Sem Trela Tinto

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A ideia por trás do vinho é explicada pelo enólogo José Figueiredo que recorda que o administrador Acácio Teixeira "gostava de ter um vinho aromático, fácil de beber, um pouco à semelhança dos vinhos que se bebiam nas décadas de 70-80, sem os teores alcoólicos exagerados que tornam as refeições pesadas". Explica que em 2021 fez um levantamento de algumas parcelas com base em imagens de satélite e separou alguns pequenos talhões com a ajuda de mapas NVDI (Índice De Vegetação Por Diferença Normalizada). Dessa escolha colheram as uvas que viriam a fermentar durante cinco dias e a estagiar durante nove meses.

Na Herdade do Monte Branco, de onde provém este vinho, o enólogo conta que escolheram não fazer referência às castas, por considerar "que é um desafio extra para o provador", mas adianta que parte do lote contém Alfrocheiro, Touriga Nacional e Tinta Miúda.

José Figueiredo sugere os 16ºC. para degustar o tinto e, uma vez que o considera "um vinho muito gastronómico" aponta para guisados, por terem alguma gordura, onde este vinho tem um comportamento excecional, assim como em pizzas de queijos mais fortes". Acrescenta a comida de forno porque "a frescura e equilíbrio ajuda a torná-los mais confortáveis".

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O preço de 15 euros reporta-se, segundo o responsável, "ao trabalho envolvido de viticultura, ao estágio e naturalmente à qualidade, e porque não vai ser fácil conseguir repetir novamente este resultado". O vinho foi para o mercado com um ano e meio de estágio de garrafa, e os responsáveis garantem que ainda tem muitos anos para ser bebido.

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O enólogo refere que o Rafeiro Sem Trela "sai um pouco do que é habitual no Alentejo, pelo seu mais baixo teor alcoólico e também sem qualquer estágio de madeira". Para o responsável de enologia, estes Rafeiro Sem Trela, "são vinhos de paixão, que saem um pouco do comum e do padrão dos consumidores normais, mas a verdade é que ao longo dos anos se têm vindo a pedir vinhos com teores alcoólicos mais baixos e este acaba por ser uma resposta a esses consumidores".

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