O Estrangeiro Dão Branco 2022
Pedro Ribeiro enólogo e proprietário da Herdade do Rocim, no Alentejo, não tem dúvidas de que os seus primeiros vinhos do Dão "concretizam finalmente o desejo de produzir numa região muito especial, mas em que somos estrangeiros".
Explica que este branco é elaborado a partir das uvas de "uma vinha velha de Nelas de carácter único" e identifica a principal dificuldade: "O processo de prospeção no terreno até identificar a vinha que considerámos perfeita para a visão do que queríamos que fosse este projeto, mas, mais do que difícil, foi uma aprendizagem que nos deu muito prazer".
Pedro Ribeiro refere que quer o branco, quer o tinto "são field blend destas vinhas velhas", ou seja, uma vinha muito antiga, com dezenas de castas misturadas. Neste caso, colhem e vinificam tudo ao mesmo tempo, apesar das uvas brancas estarem separadas das tintas e independentemente de o estado de maturação das uvas ser diferente entre as castas.
Para o servir, o responsável aponta entre os 12 e os 14 graus. Quando ao pairing, Pedro garante que "são vinhos que dão imenso prazer a beber e que se podem beber sozinhos". Mas, acrescenta que os seus vinhos "são gastronómicos e estes não são exceção, pelo que o Estrangeiro branco ficará perfeito "com os queijos portugueses ou um peixe da costa".
Com um preço recomendado de 31,50 euros, o enólogo salienta que "todos os vinhos da região têm uma longevidade incrível e, como tal, este pode guardar-se durante vários anos, ganhando uma complexidade acrescida". Relativamente à semelhança com outros vinhos da região, Pedro Ribeiro não esconde que tenta que não seja comparável, uma vez que estes vinhos são a sua interpretação "do que é o Dão". Refere que os destinatários "são todos os amantes de vinho e, o grande objetivo era tentar materializar a paixão que por uma região única, que faz parte da história do vinho português e que, de certeza, vai contribuir muito para o seu sucesso no futuro".
Quinta da Boavista Vinha do Oratório 2020
Ricardo Macedo, enólogo da Quinta da Boavista recorda que a quinta, datada de 1756, era referenciada como produtora de "vinhos finos de feitoria, os melhores vinhos do Porto produzidos no Douro e destinados à exportação". Acrescenta que a tradição local "atribui ao Barão de Forrester a replantação e tratamento das vinhas no período do surto de oídio, na década de 1850, sendo um dos edifícios da propriedade designado ainda hoje por Casa do Barão".
Já nas mãos da Sogevinus, o responsável refere que este Vinha do Oratório – nome provém dos terraços ondulados com quase oito metros de altura em forma de oratório – é um vinho cujas uvas provêm de uma só parcela, vindimado manualmente por etapas: "Cada patamar é vindimado em separado e a fermentação das uvas também ocorre separadamente". Depois do estágio em cascos de carvalho francês, durante um período mínimo de 18 meses, o vinho foi engarrafado. Ricardo Macedo salienta que o tinto é composto por "uma mescla de mais de 50 castas do Douro, com uma idade superior a 90 anos".
O enólogo aponta um intervalo entre os 16ºC. e os 18ºC. como temperatura ideal para o servir e, para as refeições, sugere pratos à base de carnes vermelhas, de caça e queijos fortes. O preço de 125 euros é justificado por ser, segundo o responsável, "um vinho único, de extrema qualidade e escassez, só produzido em anos em que se atinge o nível de qualidade definido". Ricardo Macedo garante que é "maioritariamente de guarda, pois trata-se de um vinho de marcante concentração e complexidade", porém já pode ser bebido, uma vez que tem um mínimo de dois anos de estágio em garrafa.
O responsável pela enologia da Quinta da Boavista sustenta que este Vinhas Velhas é "um regresso ao passado no Douro e um tributo a todos aqueles que contribuíram para que ainda hoje se consiga obter vinhos de terroir numa região tão inóspita".
Moscatel do Douro Reserva 2015
O enólogo da Adega de Favaios, Miguel Ferreira, explica que depois do processo de criação de novas categorias no Douro onde se insere o moscatel de Favaios, passou a haver, entre outras, a categoria reserva. Explica que este vinho apenas se vinifica "nos anos em que as uvas demonstram ter uma qualidade excecional", tal como aconteceu em 2015.
O responsável aponta a vindima manual e a fermentação em curtimenta durante cerca de seis dias antes de ser adicionada a aguardente vínica. O vinho esteve em barricas velhas de carvalho onde estagiou durante cinco anos. A casta utilizada foi o Moscatel Galego Roxo – em Favaios também há o Moscatel Galego Branco – o primeiro Moscatel elaborado a 100% da variante roxa.
Miguel Ferreira sugere que seja servido frio, entre 8 e 10ºC. e acrescenta que se pode apreciar sozinho ou "a acompanhar queijos curados, presunto, frutos secos e salmão, ou nas sobremesas de preferência doçaria conventual".
Com um preço recomendado de 13 euros, este Moscatel está pronto a consumir, no entanto, o responsável salienta que "desde que a garrafa seja guardada na vertical, em local fresco e seco, preserva as suas características durante alguns anos".
O enólogo refere que comparando com o perfil mais tradicional dos moscatéis do Douro, "este apresenta um perfil menos oxidativo e menos caramelizado e com a tonalidade um pouco mais alaranjada e menos dourada", criado para o consumidor típico de Moscatel de Favaios, mas que procura um vinho com maior intensidade e complexidade.
O responsável destaca o terroir como sendo "quase tudo neste vinho". Explica que no Planalto de Favaios os solos são mais férteis quando comparados com a generalidade dos solos do Douro, as temperaturas médias, apesar de elevadas, são também abaixo da média da região e a pluviosidade é maior". Para Miguel Ferreira, são caraterísticas que tornam a zona perfeita para a produção de vinhos licorosos onde "as uvas crescem e amadurecem na vinha com mais equilíbrio".
Rafeiro Sem Trela Tinto
A ideia por trás do vinho é explicada pelo enólogo José Figueiredo que recorda que o administrador Acácio Teixeira "gostava de ter um vinho aromático, fácil de beber, um pouco à semelhança dos vinhos que se bebiam nas décadas de 70-80, sem os teores alcoólicos exagerados que tornam as refeições pesadas". Explica que em 2021 fez um levantamento de algumas parcelas com base em imagens de satélite e separou alguns pequenos talhões com a ajuda de mapas NVDI (Índice De Vegetação Por Diferença Normalizada). Dessa escolha colheram as uvas que viriam a fermentar durante cinco dias e a estagiar durante nove meses.
Na Herdade do Monte Branco, de onde provém este vinho, o enólogo conta que escolheram não fazer referência às castas, por considerar "que é um desafio extra para o provador", mas adianta que parte do lote contém Alfrocheiro, Touriga Nacional e Tinta Miúda.
José Figueiredo sugere os 16ºC. para degustar o tinto e, uma vez que o considera "um vinho muito gastronómico" aponta para guisados, por terem alguma gordura, onde este vinho tem um comportamento excecional, assim como em pizzas de queijos mais fortes". Acrescenta a comida de forno porque "a frescura e equilíbrio ajuda a torná-los mais confortáveis".
O preço de 15 euros reporta-se, segundo o responsável, "ao trabalho envolvido de viticultura, ao estágio e naturalmente à qualidade, e porque não vai ser fácil conseguir repetir novamente este resultado". O vinho foi para o mercado com um ano e meio de estágio de garrafa, e os responsáveis garantem que ainda tem muitos anos para ser bebido.
O enólogo refere que o Rafeiro Sem Trela "sai um pouco do que é habitual no Alentejo, pelo seu mais baixo teor alcoólico e também sem qualquer estágio de madeira". Para o responsável de enologia, estes Rafeiro Sem Trela, "são vinhos de paixão, que saem um pouco do comum e do padrão dos consumidores normais, mas a verdade é que ao longo dos anos se têm vindo a pedir vinhos com teores alcoólicos mais baixos e este acaba por ser uma resposta a esses consumidores".