Começaram por vender gelados, "cachorros quentes", hambúrgueres, pizzas, sanduíches e afins e voltaram-se para as comidas regionais ou étnicas. Hoje podem encontrar-se em cidades cosmopolitas, como Londres, servindo comida confecionada com uma qualidade inequívoca para todos os gostos e bolsas, do sushi aos chocolates. Os veículos de comida mantêm-se como uma boa alternativa para quem não tem muito tempo ou muito dinheiro para despender em restaurantes e similares. À porta do local de trabalho ou estrategicamente colocados perto de estádios de futebol, estes trucks ainda não conseguiram encontrar rivais na chamada comida de rua. A respetiva indústria, de acordo com estudos recentes, serve 2,5 mil milhões de pessoas diariamente em todo o mundo. Curiosamente, só nos Estados Unidos a indústria desses veículos superou os 2,7 mil milhões de dólares de receitas anuais, em 2017. O sucesso é tão grande que há vários negócios que começaram só como veículos de comida e que depois se alargaram a restaurantes e a cadeias inteiras. A origem esteve nos EUA, pelo menos com o mediatismo e impacto que conhecemos. Ao ponto de existirem uma espécie de feiras só com food trucks, onde os fãs podem encontrar todas as suas comidas favoritas. Tudo começou no Texas, onde foi criado, em 1866, o chamado chuckwagon de comida – com estilo semelhante ao que vemos em muitos filmes de western. Na sua origem está Charles Goodnight, um rancheiro que encheu uma carrinha do exército norte-americano com gavetas, comida, material de cozinha e equipamento médico. Na comida incluiu feijões, milho, bacon, carne de porco, bife de vaca e, claro, café, e assim circulava a vender os seus produtos.
Os americanos desde cedo aderiram à venda móvel de comida que faz parte do cenário gastronómico das terras do Tio Sam, há bem mais de um século. Das cidades e dos campos americanos, onde chegaram a ser o método de refeição preferido dos jornalistas em Providence (Rhode Island), os food trucks também atravessaram o Atlântico na II Guerra Mundial. Após a guerra, as populações começaram a mudar-se para os subúrbios das cidades, onde os restaurantes eram raros e caros e os veículos deste tipo surgiram como o modo ideal e económico de servir refeições nessas zonas periféricas.
Nos anos 50 celebrizaram-se, também, as carrinhas de gelados, vistas numa perspetiva de servir doces ou sobremesas. Umas e outras começaram a disseminar-se por zonas de construção civil, fábricas e até por partes da cidade por onde passavam os executivos – em Nova Iorque estes veículos ainda são uma das marcas da cidade. Desde a crise financeira de 2008, os food trucks aumentaram em número, reforçando a tal forma acessível e barata de comer, além de também serem muito usados em eventos especiais que podem incluir casamentos, festivais, gravações de filmes ou eventos corporativos e de marketing. Nesta era digital nunca foi tão fácil saber por onde anda a nossa "banca" de comida preferida. As redes sociais como o Facebook ou o Twitter permitem localizar, em tempo real, onde se encontra ou qual o novo percurso de um determinado food truck. A originalidade e a qualidade da comida é recompensada e tem sido assim que variantes com comida gourmet têm vingado e ganhado milhares de fãs, nos EUA. Um desses exemplos chegou ao Shark Tank sob a forma de um food truck de lagosta, a Cousins Maine Lobster. Após o investimento de Barbara Corcoran no programa, tornaram a ideia em realidade e de apenas uma carrinha passaram a ter 20, espalhadas por 12 cidades norte-americanas. E de um investimento de 55 mil dólares conseguiram transformar o negócio numa máquina com receitas de 20 milhões de dólares ao ano (com meio milhão de clientes).
Os modelos a ter em conta
Em Lisboa, com o turismo a crescer, aumentaram os veículos com comida que também ganharam o nome de carrinhas de street food. Algumas são verdadeiras obras de arte da criatividade de decoração e, claro, da comida, que pode ir dos iogurtes ou bolas de Berlim até às salsichas austríacas. Mas a moda não é assim tão recente: há muito que as tradicionais rulotes de bifanas ou de farturas e de churros são presença constante em Portugal. Mesmo que não tenham o glamour das soluções mais recentes e urbanas, preparadas para festivais de verão e eventos de street food, quem não se lembra das rulotes de pão com chouriço que faziam as delícias dos viajantes numa qualquer rotunda portuguesa? O setor em Portugal foi avaliado em 5,7 milhões de euros ao ano, em 2015, na altura com um crescimento de 81%. Em Portugal, um dos modelos mais populares para pequenos veículos de comida é a adaptação da Piaggio Ape 50, uma mota de três rodas e que é hoje adaptada por algumas empresas para se tornar um "tesouro" de comida ambulante. Essas empresas vendem, inclusive, um kit de iniciação ao negócio que pode ir da pequena Ape 50 às maiores carrinhas Fiat Ducato, as quais já podem ter refeições mais elaboradas. No caso da Ducato, uma adaptação com equipamento incluído pode ficar nos 40 mil euros de investimento – estima-se que o investimento pode ser recuperado, dependendo do sucesso, de nove meses a três anos.
Pequenos, médios ou grandes, mais básicos ou mais gourmet, os food trucks podem não ser recentes, mas são uma tendência atual das cidades trendies e que certamente vieram para ficar, até porque, adaptando a citação famosa de Benjamin Franklin, nada é mais certo neste mundo do que a morte, os impostos… e a comida.