Prazeres / Lugares

Roteiro. Que mistérios esconde o Faial? Vale a pena visitar a ilha?

Percorremos, em ritmo de corrida, os mais bonitos trilhos das chamadas ilhas do Triângulo, bastantes próximas umas das outras, mas todas com encantos diferentes. Com tempo e vontade para percorrer longas distâncias, subimos e descemos por onde nenhum carro passa, apenas pelo prazer de lá chegar. Na segunda leva, vamos até ao Faial.

Foto: DR
Ontem às 13:27 | Miguel Judas
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Tudo o que se possa dizer ou escrever sobre os Açores peca por defeito, como depressa se percebe mal se chega a este território, moldado pela força do fogo no meio do Oceano Atlântico e, portanto, muito mais que um mero cenário fotogénico para selfies. Afinal, cada uma destas nove ilhas encerra sobre si todo um mundo de paisagens, histórias e tradições, que não se deixa revelar na efemeridade de uma simples publicação nas rede sociais. Para isso acontecer é preciso tempo e vontade para partir à descoberta destas ilhas, de preferência a pé, como antigamente, pelos inúmeros e imensos trilhos que as cruzam de cima a baixo. A caminhar, mas também a correr, tal como nos propusemos fazer, durante alguns dias pelas chamadas ilhas do Triângulo, compostas por São Jorge, Faial e Pico, talvez o local dos Açores onde melhor se sente o conceito de arquipélago, pela proximidade, mas também e especialmente, pelas muitas diferenças entre cada uma delas.

Foto: DR

FAIAL

Saltitar entre vulcões

A pouco mais de mil metros de altitude, a caldeira do Faial impressiona pela sua dimensão. É aqui que tem início o Trilho dos 10 Vulcões, que, como o nome indica, percorre, ao longo de pouco mais de 20 km, os 10 principais e mais recentes vulcões existentes no alinhamento fissural do Capelo. Formada há cerca de 500 mil anos, esta enorme cratera, com dois quilómetros de diâmetro e 400 metros de profundidade, teve a sua última erupção há "apenas" 1200 anos. Devido a uma tempestade com nome de gente, o interior da caldeira estava invisível neste dia e a ventania, acompanhada de chuva, que se fazia sentir ao longo do estreito trilho que a circunda, não nos permitiu apreciar a paisagem. Por outro lado, tornou o percurso bem mais divertido e desafiante, adjetivos a que se pode também juntar difícil, especialmente a partir do momento em que entrámos na levada, onde o terreno enlameado e as poças de água dificultaram bastante a progressão. Mais ou menos a meio do percurso, o bonito Parque Florestal das Trupes do Capelo serviu de base para comer algo, antes de iniciarmos o troço do Capelo-Capelinhos, um dos mais diversificados em termos de paisagens.

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Sempre num constante sobe e desce, é também um dos mais exigentes em termos físicos, mas merece bem o esforço, para apreciar uma paisagem em tudo idêntica à que os primeiros povoadores encontraram nesta ilha "repleta de aves e com uma densa vegetação", como a descreveu o padre historiador Gaspar Frutuoso. Consta que o primeiro ser humano a habitar a ilha terá sido um eremita, vindo do reino, que aqui viveu com algum gado, algures na primeira metade do século XV. Caminhando por estas serranias, fustigados pelo mau tempo, temos uma pequena noção das dificuldades que o solitário colonizador terá enfrentado em território tão hostil. Percorremos agora alguns dos antigos cones vulcânicos responsáveis pela formação da península do Capelo. Entre estes destaca-se o Cabeço do Fogo, local da primeira erupção histórica do Faial, em 1672. Segue-se o não menos imponente Cabeço Verde, onde se pode fazer um desvio até à Furna Ruim, como é localmente conhecido este algar de uma antiga chaminé vulcânica, com mais de 50 metros de profundidade e totalmente coberta de vegetação. E um pouco mais à frente, encontra-se o Algar do Caldeirão, uma das formações vulcânicas mais antigas desta península.

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Corremos agora sob um túnel formado por um dos mais belos exemplares de vegetação endémica dos Açores, o azevinho, que aqui chega a atingir alturas de 4 metros. Do cimo do Cabeço do Canto avista-se já o Vulcão dos Capelinhos. Depois de atravessar a estrada regional (de alcatrão), corremos mais algumas centenas de metros por cima das cinzas vulcânicas do Costado da Nau, sempre com uma vista soberba sobre o Vulcão dos Capelinhos. É já um lugar-comum, comparar ao imaginário sideral da ficção científica a paisagem dos Capelinhos, local da última grande erupção açoriana, que apenas durante alguns meses, entre 1957 e 1958, acrescentou mais de 2,4 quilómetros quadrados à geografia da ilha, deixando atrás de si um rasto de destruição nas freguesias limítrofes, com casas e campos de cultivo soterrados por cinzas vulcânicas.

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COMER

Peter Café Sport

Rua José Azevedo, 9, Horta. T.: 292292327

Rumar

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Praia do Norte. T. 292 945 170

Cantinho das Provas

Rua Conselheiro Medeiros, 38, Horta. T. 911816139 

DORMIR

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Azul Singular

Rua da Granja, 61, Feteira, Horta. T.: 292945095. Alojamento a partir de 70 euros (pequeno-almoço incluído).

Porto Pim Bay

Rua Nova, 7, Porto Pim, Angústias, Horta. T.: 292391308

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Hotel São Francisco

Rua Conselheiro Medeiros, 13, Horta. T. 292200980 

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Cem quilómetros a correr pelo Triângulo

Teve a primeira edição em 2015 e, desde então, sempre em outubro, o Azores Triangle Adventure atrai até estas ilhas cerca de uma centena de atletas de trail running, uma modalidade de corrida na natureza, para percorrerem, em apenas três dias, 87 quilómetros pelos trilhos de Pico, São Jorge e Faial, por esta ordem. Este ano realiza-se no último fim de semana de outubro, a 25, 26 e 27. "O objetivo principal desta prova é exatamente o de promover os trilhos dos Açores como um produto turístico de excelência", diz o diretor da prova, Mário Leal, que tem conseguido inserir o arquipélago no mapa internacional desta modalidade. Além do Azores Triangle Adventure, Mário já organizou também provas nas Flores, Corvo, Graciosa, Santa Maria e no Faial, a sua ilha natal, onde tudo começou em 2014, com a realização do primeiro Azores Trail Run, que desde então acontece sempre em maio. Na última edição estiveram presentes quase mil atletas de três dezenas de nacionalidades, para participar em provas que vão dos 10 aos 125 quilómetros. "O objetivo é termos distâncias para todo o tipo de praticantes, para que cada um, à sua maneira e ao seu ritmo, possa usufruir destes trilhos únicos", explica.

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Passear a correr

Para quem pretender percorrer estes mesmos trilhos a correr, mas sem ser num registo de competição, a empresa Caminhos d'Alma tem um programa de nove dias pelas ilhas do triângulo, a lançar no próximo ano, que alia a corrida com outras atividades como a observação de cetáceos ou provas de vinhos.

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