Talvez não exista uma maneira fácil de chegar à Quinta de Guimarães, mas existe certamente pelo menos uma que é deslumbrante. Vindo de sul, descendo a Serra de Montemuro, vamos contemplando aos poucos a aproximação lenta ao rio Douro, com os pequenos povoados numa margem e na outra, empoleirados sobre o vale, que é íngreme, como se espreitassem lá para baixo. Cada quilómetro de asfalto é feito de curva e contracurva, numa estrada que serpenteia até lá abaixo para depois trepar a encosta norte, sempre aos ziguezagues. A caminho de Santa Marinha do Zêzere, não se vai para lá, seguem-se as curvas noutra direção e eis que, ao fim de mais um percurso labiríntico, avistamos os portões do solar que procuramos.
Chegar à Quinta de Guimarães não é exatamente como chegar a um alojamento convencional. Não há um concièrge fardado à espera para nos abrir as portas ou carregar as malas. Entrar na Quinta é chegar a uma casa de família. Os cães da casa virão, mais cedo ou mais tarde, dar-nos as boas-vindas. O pessoal que cuida da casa e da Quinta fazem-no como se tratassem da própria casa, cumprimentam-nos com naturalidade e prosseguem com as suas tarefas. Lá dentro, na monumental cozinha deste solar setecentista, D. Fernanda - cozinheira de mão-cheia, entre outros atributos e funções determinantes na Quinta de Guimarães - prepara o almoço para a equipa e para os convidados. Os convidados são os hóspedes, mas os hóspedes sentem-se verdadeiramente convidados da família.
Construído no século XVIII, o solar ocupa o lugar central da Quinta de Guimarães. De frente para o elegante jardim de buxo, é na casa principal que ficam quatro dos quartos - três deles com acesso direto ao jardim -, além dos salões, do terraço e da cozinha.
Detemo-nos um pouco na cozinha, porque é um sítio que merece contemplação. Enorme, espaçosa, com bancadas e lava-loiças em pedra, armários de madeira possivelmente centenários, uma mesa longa e paredes revestidas de azulejos notoriamente antigos, mas visivelmente preservados e estimados. Um regalo para os sentidos de quem lá entra, já que, se os olhos se deleitam, o nariz faz perceber o que aí vem, despertando o palato e fazendo salivar qualquer visitante.
É uma cozinha de porta aberta, onde D. Fernanda recebe quem tiver curiosidade - ou um pedido especial, ou simplesmente aquele apetite pré-almoço, que ainda não é bem fome mas já pede um snack para entreter. E é notável a disponibilidade que D. Fernanda apresenta, fazendo tudo com gosto, dir-se-ia com amor, como alguém para quem o maior prazer da vida é cuidar e bem-receber. A Quinta de Guimarães é única em vários aspetos, mas esta familiaridade, esta relação de verdadeiro afeto entre anfitriões e convidados é do domínio da raridade.
Deixemos a cozinha, há mais para conhecer. Ainda no edifício principal, existe uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Foi nessa capela que casaram os três filhos dos atuais proprietários, a família Cunha Coutinho, o que demonstra a ligação e o apego da família pela quinta.
Há outros edifícios distribuídos pelo espaço - há muito espaço, são 40 hectares de propriedade, 25 dos quais dedicados à produção de Vinho Verde, exclusivamente dedicados à casta Avesso, mas lá chegaremos. Primeiro, os edifícios. A Casa da Mata, afastada da zona central da Quinta e da casa principal, possui quatro quartos duplos e é uma casa independente com uma soberba vista para o Douro. Também a Casa da Vinha é independente, dispondo de cozinha e três quartos. Foi reabilitada recentemente e dispõe de uma decoração mais contemporânea. Fica a 150 metros da casa principal. Por fim, temos a Casa da Piscina. Com apenas dois quartos, situa-se próxima da casa principal e, como o nome deixa adivinhar, ao lado da piscina.
A piscina, que confina com o jardim de buxo, é um espaço privilegiado, com uma vista fabulosa sobre o vale do Douro e para a serra de Montemuro. Nas imediações da piscina, há tudo o que se pode desejar para uma tarde de relaxamento a desfrutar do sítio e do momento, dos vinhos da casa e dos cozinhados da D. Fernanda.
Para lá da piscina, a Quinta de Guimarães dispõe de campo de volei e court de ténis, além de providenciar passeios de bicicleta ou a pé pela mata da Quinta. E, para quem preferir atividades dentro de casa, também há sala de jogos, com mesa de ping-pong, matraquilhos e diversos jogos de tabuleiro.
Os convidados podem desfrutar de refeições caseiras, preparadas na cozinha da casa principal, mediante encomenda prévia. As refeições são servidas no salão do solar, cujo terraço é sobranceiro ao jardim e onde a vista é ainda mais impressionante do que no piso térreo. Além das refeições principais, é possível encomendar um cesto de piquenique, com produtos locais e os vinhos da Quinta, os Cazas Novas.
Os 25 hectares de vinha da Quinta de Guimarães, onde encontramos unicamente uva da casta Avesso, têm como finalidade produzir os vinhos Cazas Novas. O nome vem de uma das quintas centenárias dos Cunha Coutinho, a Casa do Reguengo das Cazas Novas, na família há sete gerações.
Os vinhos Cazas Novas são exclusivamente produzidos a partir da casta Avesso porque esta é "uma das mais enigmáticas castas brancas portuguesas", segundo a descrição dos produtores. As vinhas que lhe dão origem estão plantadas no sudeste da região demarcada dos Vinhos Verdes, já em pleno vale do Douro, potenciando a maior área do País onde a casta existe, na sub-região de Baião. O nascimento dos vinhos Cazas Novas resulta do interesse e da paixão de quatro amigos - Carlos Coutinho (sétima geração da família Cunha Coutinho), Diogo Lopes (enólogo), Vasco Magalhães (marketing e vendas) e André Miranda (produção) - e pelo Avesso.
O primeiro vinho lançado foi o Cazas Novas Colheita 2022, um "vinho de aprendizagem", nas palavras do enólogo Diogo Lopes. Seguiram-se os Cazas Novas Pure, obtido a partir das uvas criadas em altitude, e Cazas Novas Origem, a "interpretação mais especial do Avesso", com fermentação das melhores parcelas em barricas de carvalho francês.
Uma estadia na Quinta de Guimarães, por mais curta que seja, é sempre um privilégio. O ambiente campestre, a elegância dos edifícios, o cuidado com os detalhes harmoniosamente conjugado com a simplicidade, a descontração e a familiaridade quase desconcertante dos anfitriões, leva-nos para um refúgio paradisíaco a todos os níveis. A espantosa paisagem é só um cartão de visita para tudo o resto que podemos encontrar para lá daqueles portões, escondidos entre as curvas e contra-curvas que nos levam até este maravilhoso recanto. A envolvência, o sossego e o conforto, acrescidos da gastronomia e dos vinhos de excelência, deixam a promessa de uma experiência inesquecível, quer seja num retiro em família ou numa escapadinha romântica.