Prazeres / Lugares

Nove praias portuguesas isoladas para umas férias em paz

Com os areais cheios de norte a sul do país, partimos em busca das últimas praias selvagens da costa sul portuguesa.

Foto: Ricardo Pereira / Cofina / Sábado
12 de agosto de 2022 | Miguel Judas
PUB

Um pouco por toda a costa ainda se escondem algumas praias selvagens, sem toldos nem esplanadas, onde o tempo corre ao ritmo das ondas. Quase todas de acesso difícil, mas não impossível, são o paraíso de alguns conhecedores, para quem verão é sinónimo de paz, tranquilidade e isolamento. Apenas há que as procurar, com tempo e paciência, no fim de um caminho de terra batida ou por um trilho na falésia. E se, por acaso, se cruzar com alguém, não é de admirar se o estranho lhe sorrir, como é comum entre pessoas que partilham um segredo…

Brejos da Carregueira, Grândola

Situada entre as muito concorridas localidades da Comporta e do Carvalhal, a aldeia dos Brejos da Carregueira também tem praia, mas, como poucos a conhecem, está quase sempre vazia. Para lá chegar é necessário percorrer a pé os arrozais e depois, junto às árvores, descobrir a passadeira de lajes de cimento, com quase dois quilómetros de extensão, que cruza o pinhal até à praia. Ultrapassada a última duna, apresenta-se um areal quase deserto, vendo-se ao longe a silhueta da serra da Arrábida e o imenso areal que se prolonga para sul, até Sines. A paisagem é idêntica às de Tróia, Comporta ou Carvalhal, mas com algumas diferenças: não tem nadador-salvador nem bares sofisticados, mas tem uma praia como já existem poucas, que compensa tudo o resto.

Foto: Miguel Judas
PUB

Brejo Largo, Odemira

A exigente prova de orientação que é necessário superar para aqui chegar tem como recompensa uma das mais belas e desconhecidas praias do litoral alentejano. Como não existe qualquer indicação, as possibilidades desta praia ser descoberta acidentalmente são quase nulas. No final da localidade da Longueira, depois do depósito de água, segue-se pela estrada de terra no sentido da costa. É só seguir em linha reta, nunca hesitando nos cruzamentos que surgem durante o percurso, sob o risco dos pneus ficarem presos na areia (por vezes está mesmo intransitável, o que obriga a prosseguir a pé). Junto à única casa das redondezas, segue-se a travessia de uma pequena ponte em cimento, escondida debaixo de densa vegetação. Depois, há mesmo que continuar a pé, durante algumas centenas de metros, por uma longa duna no topo da falésia. Chegados à beira da encosta, é ainda necessário descer por uns degraus escavados na rocha – com a ajuda de uma corda. Cá em baixo, apresenta-se um imenso areal, protegido por altas escarpas, das quais escorrem pequenas cascatas de água doce, que se estende para sul por vários quilómetros, quase até à vila de Almograve.

Foto: Ricardo Pereira / Cofina / Sábado

Murração, Vila do Bispo

PUB

Quem passa pela EN 268, entre a Carrapateira e Vila do Bispo, dificilmente imaginará que a apenas cinco quilómetros fica uma das mais belas e isoladas praias da Costa Vicentina. A estrada de terra que parte junto a uma pequena mata, em frente ao parque eólico, até pode despertar a curiosidade, mas o estado do piso é tão desencorajador que o mais certo é nem arriscar. A praia só se deixa ver mesmo no final do percurso, após uma última curva em cotovelo e antes de mais uma descida a pique pela encosta. Com cerca de 500 metros de comprimento e 50 de largura, o extenso areal, em forma de ferradura, estende-se pelo vale, desde a beira-mar até ao leito de um curso de água, que ali desagua no inverno – é sem dúvida uma merecida recompensa à perseverança dos que resistem à tentação de voltar para trás. É limitada, a sul, por uma enorme rocha, enquanto a norte, a falésia, mais rasa, permite caminhar junto ao mar, explorando a pequena baía que aí se forma durante a maré baixa.

Foto: Ricardo Pereira / Cofina / Sábado

Ponta Ruiva, Vila do Bispo

Se, por mero acaso, alguém passar por estes isolados caminhos de terra, não desconfiará que ali, pouco antes do sopé ocidental do cabo de São Vicente, se esconde outra das mais belas e selvagens praias da Costa Vicentina. Deve o nome a uma enorme pedra de cor avermelhada, que contrasta com o negro das altas escarpas xistosas circundantes. A rocha avança mar adentro e junto a ela forma-se uma onda com características únicas, muito procurada pelos surfistas conhecedores da região, que guardam este segredo com um zelo quase religioso. A par de alguns pescadores à linha, são eles os principais frequentadores desta praia. Trata-se de uma praia completamente isolada, como se constata enquanto se desce, a pé, o trilho de acesso ao areal, quase sempre vazio e oferecendo ao visitante uma paisagem deslumbrante, especialmente ao entardecer, quando os últimos raios de sol fazem sobressair a tonalidade ocre da Ponta Ruiva. A partir de Vila do Bispo existem vários acessos não sinalizados, mas para quem vai pela primeira vez aconselha-se o que segue para norte, a partir da estrada entre Sagres e o cabo de São Vicente.

PUB
Foto: Ricardo Pereira / Cofina / Sábado

Barranco, Vila do Bispo

Ao contrário das vizinhas (e mais concorridas) praias da Ingrina e do Zavial, o areal do Barranco raramente tem gente. Da aldeia da Raposeira, junto à EN 125, no concelho de Vila do Bispo, não existe qualquer indicação para a praia, mas o caminho não tem nada que enganar – é só seguir pela estrada de terra que parte da localidade, à esquerda, e parar junto ao mar. São só cinco quilómetros, mas parecem muito mais. Há sempre mais uma subida, uma descida ou outra curva. O mar tarda em aparecer, mas quando finalmente se chega à praia, no final de um imenso vale, decorado de figueiras e alfarrobeiras, apresenta-se um extenso areal a rodear uma baía de águas calmas, ladeada por duas enormes falésias. Aqui e ali vêem-se pequenos muros de pedra, construídos pelos banhistas para se abrigarem do vento, que por vezes é bastante forte. Por baixo do azul transparente do mar, o fundo tem bastantes rochas e refúgios para a vida marítima, o que faz do Barranco um local perfeito para a prática de snorkeling.

Foto: Ricardo Pereira / Cofina / Sábado
PUB

Barranco Martinho, Lagos

Terá sido esta, afinal, a praia que em 2014 tanto espantou os jornalistas do portal norte-americano Huffington Post, ao ponto de elegerem a Ponta da Piedade, em Lagos, como "provavelmente, a mais bonita (praia) do mundo". Como todos por aqui sabem, a Ponta da Piedade não é propriamente uma praia, mas sim um monumento natural, composto por várias formações rochosas, entre grutas e falésias, que nalguns locais chegam aos 30 metros de altura. Gralhas geográficas à parte, a verdade é que toda esta zona merece tal distinção, mas no que a praias diz respeito, a do Barranco Martinho bate com grande distância toda a concorrência. Apesar da proximidade de Lagos e de alguns grandes empreendimentos turísticos, ainda é ignorada pela maioria dos veraneantes que passam férias na zona. Para além da opção barco, o outro modo de lá chegar é a pé, por um carreiro que percorre a falésia, desde o farol da Ponta da Piedade, e depois por uma inclinada vereda, que termina no areal. O acesso difícil, numa zona pejada de areais com todas as mordomias balneares, ajudará a explicar o relativo desconhecimento, mas lá que é um luxo encontrar um local assim, em pleno coração do Algarve, isso é.

Almargem e Cavalo Preto, Loulé

Este pequeno paraíso ainda é um segredo para muitos, que não esperam encontrar um lugar assim entre a confusão urbanística de Quarteira e o luxo do exclusivo empreendimento de Vale do Lobo. Situada junto à lagoa da Foz do Almargem, uma zona húmida protegida, onde nidificam diversas espécies de aves, é uma praia de grande beleza natural e com quase nenhuma construção à vista. Na margem leste da lagoa, junto a uma das maiores manchas de pinheiro manso da costa algarvia, fica a praia do Cavalo Preto, que ao contrário da vizinha Almargem, não tem apoios balneares, apresentando-se num estado quase selvagem.

PUB

Ilha Barreta ou Deserta, Faro

De todas as ilhas-barreira da Ria Formosa, a Barreta é a única não habitada e, por isso, a que melhor preserva o riquíssimo ecossistema da região. Como o acesso só é possível por mar, existe uma carreira regular desde Faro, que liga a cidade à ilha três vezes ao dia – o último regresso é às 18h. A viagem, com o barco a serpentear por entre os canais, vale só por si, em especial durante a maré baixa, quando a ria explode de vida. Desde o porto de desembarque sai um percurso pedonal de interpretação da ria e das dunas, que se estende cerca de dois quilómetros ilha adentro, até ao cabo de Santa Maria, o ponto mais a sul de Portugal continental. Os primeiros duzentos metros da praia estão concessionados, dispondo de nadadores-salvadores e as habituais mordomias balneares, como toldos ou espreguiçadeiras. O resto são mais de nove quilómetros de areia virgem, feitos de silêncio, tranquilidade e paz.

Foto: Correio da Manhã

Barril, Tavira

PUB

O acesso faz-se através de um pequeno comboio, que faz as delícias dos mais novos, enquanto atravessa aos tremeliques as dunas e os bancos de vaza, afugentando os milhares de caranguejos que aí vivem. A praia fica junto a uma antiga armação de atum. Os edifícios onde os pescadores viviam e trabalhavam durante a faina, de maio a setembro, mantêm a traça original, mas foram reconvertidos em bares, lojas e restaurantes. Os testemunhos desses velhos tempos estão também presentes numa duna próxima, onde dezenas de enormes âncoras – que serviam para aprisionar o atum junto à costa – desenham uma original instalação artística. Devido à sua enorme extensão, é sempre possível conseguir algum isolamento, mesmo nos dias de maior enchente. Caminhando em direção ao extremo ocidental, chega-se à zona conhecida como praia do Homem Nu, um areal quase deserto e em estado semisselvagem, que foi a primeira praia naturista oficializada em Portugal. No sentido oposto atinge-se a praia da Terra Estreita, situada a meio da ilha barreira de Tavira e assim chamada por se situar no preciso local onde "a terra se estreita".

Foto: Ricardo Pereira / Cofina / Sábado
PUB