Prazeres / Lugares

Na Tasca da Memória “come-se à grande e à portuguesa”

O Porto tem uma nova morada gastronómica, onde os pratos tradicionais recebem um toque mais sofisticado, por vezes até surpreendente. E, mesmo quando falham, nunca pecam por falta de generosidade.

Foto: DR
18 de outubro de 2024 | Bruno Lobo
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Sabemos que as doses não são pequenas quando, depois da refeição, só nos apetece ir dar uma volta a pé. Foi o que nos aconteceu na Tasca da Memória, o novo fine dining do Porto, aberto desde o primeiro dia de outubro. 

O restaurante traz um selo já conhecido pelos lisboetas, entre a Igreja da Memória e Belém. Ambos partilham o nome e a casa – o Wine & Books Hotel, membro da Small Luxury Hotels of the World – assim como a filosofia: ambiente sofisticado, gastronomia tradicional. Fora isso, são dois espaços totalmente independentes, com carta própria. No Porto, já com a direção criativa de Osvalde Stange Silva, antigo chef executivo do Pine Cliffs e do Conrad, no Algarve. Osvalde assumiu o cargo de diretor de F&B neste grupo, e a Tasca da Memória é o seu bebé mais novo. Em breve, seguir-se-á o Wine & Books Sintra, e a mão do chef é bem visível na preparação e no cuidado com o empratamento, pois são realmente bonitos.

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Já a carta parece retirada de uma lista dos "pratos mais típicos da gastronomia portuguesa". A saber: jaquinzinhos com arroz de tomate frito, caldeirada de peixe, bacalhau à Zé do Pipo (com uma maionese de wasabi que faz a diferença), peixe da costa, açorda, frango de churrasco (com um pani puri indiano, uma bolinha recheada com batata e grão), arroz de pato (com queijo da ilha), cabrito assado, carne de porco à alentejana e o bife à portuguesa, um naco da vazia com ovo e batata frita. 

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Para quem preferir, há três opções vegetarianas: um arroz cremoso de abóbora (não é risoto, porque é Carolino), uma pasta fresca com cogumelos, espargos e molho de caril, ou uma couve-flor com castanha e chips de tubérculos.

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Se gosta de comida típica, é provável que já esteja a salivar. Mas sabemos que os chefs – Osvalde Silva está muito bem representado na cozinha por Henrique Vilarinho – têm mais algumas surpresas na manga. Na nossa experiência, provámos dois pratos que não estão na carta atualmente: uma feijoada de casulas com lírio grelhado, super saborosa, e um leitão com batatas e laranja, que só pecou por não ter a pele tão estaladiça quanto merecia. Corrigida essa questão, acreditamos que ambos encontrarão o seu lugar ao sol.

À sobremesa – por favor, guarde um pouco de espaço para as sobremesas –, continuam os clássicos revisitados: Rabanada (com miso e tamarindo), pão de ló (com gelado de queijo da ilha), tarte tatin (de pera rocha fermentada e fava tonka), mousse de chocolate (com azeite infusionado a laranja) e um pudim abade de priscos com gengibre e sorbet de yuzu. Estes dois últimos trazem acidez e frescura à doçura do abade de priscos, e foi o ponto alto da refeição. 

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Falta falar das entradas, que deixámos propositadamente para o fim. Provámos apenas uma da carta, o ovo BT (a baixa temperatura) com chouriço de porco preto, ervilhas e pão frito, que não nos impressionou pela positiva. As pipocas decorativas eram perfeitamente dispensáveis e a experiência algo enjoativa. Não queremos ser injustos com a sopa de peixe, nem com a xara, mas se o tempo estiver agradável e o bar do rooftop aberto, aproveite antes para tomar um cocktail lá em cima (também há snacks) com vista para o Porto e para o Largo do Moinho de Vento, onde se pode admirar um bonito painel de azulejos de Joana Vasconcelos.

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Como estamos num hotel chamado Wine & Books e acabámos de ter uma longa refeição com pairing de vinhos, não resistimos a fazer um trocadilho com o nosso segundo maior poeta e perguntar: "tudo vale a pena quando as doses não são pequenas?" 

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Não vale a pena subir a A1 toda só para experimentar, mas se já estiver pelas redondezas, pode inscrever esta nova morada na lista de restaurantes a visitar (muito) em breve. 

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