Prazeres / Lugares

Já marcou as próximas férias? As viagens ao espaço e ao fundo do mar são a próxima tendência

Poderemos nós ir de férias para o espaço ou passar uma semana sob as ondas dos mares? Mais cedo do que se pensa, aparentemente… Eis aqui o que os peritos dizem.

Do espaço às profundezas do mar: o futuro das viagens está quase aí
10 de novembro de 2022
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Se vai organizar uma cimeira de turismo num destino geralmente considerado um hotspot de férias e escapadelas de lazer, Les Roches Marbella é o tipo de sítio que preenche todos os requisitos. Ali está ele, a menos de 5km a oeste da cidade espanhola costeira com o mesmo nome, pouco mais de quilómetro e meio para o interior a partir da marina dourada de Puerto Banus e praticamente à mesma distância de Puente Romano, o resort de cinco estrelas que resplandece com tantos visitantes de luxo e o ocasional cliente-celebridade.

Mas apesar da sua localização, Les Roches Marbella não é um hotel chique. É, em vez disso, um campus-satélite da Escola Internacional de Gestão Hoteleira de Les Roches, uma universidade privada sediada na Suíça. Nem tão pouco, à cimeira de turismo que ela acolheu no final de setembro, serviu de muito a praia ou a disposição soalheira da Costa del Sol. Em vez disso, a SUTUS tem ambições muito mais elevadas… e profundas. A Cimeira Universal de Turismo Espacial & Subaquático, para usar a sua designação completa, dirige-se àqueles que querem ir bem alto, acima da superfície do planeta, ou descer até uma distância considerável abaixo dela.

Este cenário não foi inteiramente escolhido ao acaso. O país anfitrião está desejoso de se assumir como um ator na corrida à galáxia, a ponto de a Agência Espacial Espanhola ter sido formalmente criada em maio de 2021. Na verdade, esta foi a terceira vez que uma conferência que se autopromove como fomentando o "Turismo Além Fronteiras Naturais" foi realizada neste exato canto da Andaluzia – tendo as duas versões anteriores (em 2019 e 2021) sido interrompidas pela covid.

Esta última edição foi uma tentativa de regresso à normalidade após a interrupção pandémica, com apresentações presenciais e virtuais de grandes nomes de empresas de monta. Na verdade, a normalidade é um conceito relativo numa área de negócio em que os objetivos podem ser tão rarefeitos como o ar que algumas das suas figuras-chave têm esperanças de vir a respirar.

Durante os trabalhos houve momentos de reflexão sobre o passado e sobre experiências arduamente conquistadas, que foram talvez mais bem expressas por Susan Kilrain, uma antiga discípula da NASA que pilotou o vaivém espacial Columbia em duas missões, em meados dos anos 1990. O seu conselho para aqueles que possam desejar seguir as suas "pegadas" foi duro. "É uma viagem muito dinâmica durante a primeira mão-cheia de minutos", disse ela acerca das descolagens para o espaço por que passou. "As forças-G começam a comprimir pesadamente o vosso peito. É como se estivéssemos a ser esmagados." E o desconforto tão pouco termina aqui. "A maioria dos astronautas tende a sentir-se enjoado", admitiu ela. "Há medicamentos que se podem tomar, mas a maioria dos viajantes espaciais sentem náuseas durantes os seus primeiros dias no espaço."

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Não que seja provável que tais confissões preocupem aqueles que estão desejosos de chegar aos céus e mais além – ou perto de uma época em que umas férias no espaço possam ser tão acessíveis como umas passadas em terra firme. "Quero tornar o preço de ir para o espaço comparável ao de umas longas férias internacionais", diz Tim Alatorre, diretor de Operações da empresa sedeada na Califórnia e criadora de tendências Orbital Assembly – um dos oradores principais. A sua empresa está na vanguarda da indústria espacial, construindo estações espaciais privadas – e tem planos para duas versões do seu produto estarem nos céus nas próximas décadas. A primeira, a Pioneer, poderá incluir quatro módulos interligados, cada um lançado individualmente, orbitando a Terra da maneira convencional. Com o tempo, esta poderia ser expandida para uma "roda gigante" de 24 módulos – a Voyager – capaz de gerar a sua própria gravidade artificial por meio de força centrífuga. Por outras palavras, ela irá girar, permitindo aos seus hóspedes andarem de um lado para o outro sem entraves por parte da "microgravidade" (ausência de peso). E além de ter capacidade para alojar astronautas e outros profissionais, conduzindo experiências semelhantes àquelas já ensaiadas na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla inglesa), ela acolheria turistas. "A Voyager terá uma área usada por turistas", explica Alatorre. "Assim, as pessoas podem vir, disputar jogos no espaço, experimentar microgravidade e gravidade artificial, e desfrutar bons momentos."

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De início, estas viagens serão extremamente caras. Alatorre avança o número de 55 milhões de dólares norte-americanos [perto dos 56,5 milhões de euros] para uma estadia de dez dias numa das estações espaciais da sua empresa – embora ele sublinhe que a grande maioria deste montante (cerca de 50 milhões de dólares [aprox. 51,3 milhões de euros]) consista no custo de lá chegar. "O nosso preço para se ficar na estação, na realidade, é bastante reduzido comparado com o montante global", continua ele. "E estes ainda são os primeiros tempos, em que os participantes serão primeiros clientes e indivíduos de elevado património líquido. Nós antecipamos que os preços caiam à medida que as forças do mercado entrem em jogo."

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Foto: Boeing

A Space X – o colosso aeroespacial fundado pelo multimilionário das tecnológicas Elon Musk – será crucial nesta área. A Starship, a sua nova geração de veículos de lançamento de carga pesada, tem um teste de voo orbital previsto para o final deste ano e deve, no futuro, ter uma capacidade considerável de transporte de passageiros. Alatorre tem esperanças semelhantes relativamente ao Starliner da Boeing, que tem agendado o seu primeiro voo tripulado para fevereiro; esperança suficiente para que, à chegada do ano de 2040, o turismo orbital deva ser a preços acessíveis para muitos mais pessoas do que as que compõem a faixa demográfica dos multimilionários. "Idealmente, por volta de 2040, o custo de uma semana num hotel espacial será menos de 10.000 euros", diz entusiasmado. "É esse o preço que gostaríamos de atingir."

Se fugir aos limites da gravidade planetária dá a sensação de ser uma fronteira intransponível, independentemente do preço para o fazer, então há sempre a alternativa de seguir na direção oposta. Para baixo.

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Dos oradores principais inscritos para fazerem apresentações no SUTUS 2022, o mais atrativo, talvez, foi Fabien Cousteau. Se lhe soa algo familiar no nome, é natural que assim seja. Trata-se do neto do famoso oceanógrafo francês Jacques Cousteau – um homem que dá continuidade ao "negócio da família", mas uma autoridade na exploração subaquática por direito próprio.

No seu mais recente projeto, Cousteau está a construir o que descreve como a "Estação Espacial Internacional do mar". Esboçado de modo a estar operacional já em 2025, o Proteus ficará fixado no fundo do oceano, alguns vinte metros abaixo das ondas dos mares, por entre os recifes e a rica biodiversidade das águas, mesmo ao largo de Curaçau. Será uma proeza e tanto: uma unidade de investigação subaquática em que os especialistas nos seus respetivos campos poderão estudar tudo, desde a vida marinha e padrões do clima, às alterações climáticas e potenciais avanços na Medicina. Mas a par deste objetivo principal, Proteus terá também um elemento turístico, com pelo menos dois dos seus 12 beliches atribuídos a "cidadãos-cientistas", para um tipo muito diferente de "férias" nas Caraíbas.

Esta não será uma empreitada nada fácil, exigindo que os visitantes passem pela saturação – o lento processo de permitir que o corpo se ajuste às pressões e gases envolvidos numa prolongada estadia debaixo de água. "O treino será o mesmo que é dado aos especialistas das missões: todos os parâmetros físicos e psicológicos serão os mesmos", explica Cousteau. "Tornaremos isto tão simples e seguro quanto possível, mas há riscos inerentes ao ‘espaço interior’, tal como os há quanto ao espaço. Dito isto, dependendo do seu treino, os hóspedes deverão ser capazes de participar [nas missões] enquanto estiverem no Proteus. Nós gostaríamos que eles participassem como qualquer outro especialista da missão."

Comparativamente, os custos de viagem garantem que, embora os procedimentos possam ser tão exigentes sobre a mente e o corpo como uma viagem para uma estação espacial privada, uma expedição subaquática será, pelo menos, "mais barata". Cousteau recusa-se a comprometer-se, por enquanto, com uma quantia exata, mas argumenta que a experiência trará valor acrescentado. "O Proteus não vai ser um empreendimento barato só porque nós não vamos usar foguetões", diz ele. "O custo de gerir um habitat subaquático é bastante considerável. Mas fazer parte dele não será tão caro como ir ao espaço por 14 minutos. Aqui, você vai lá para baixo durante uma semana ou assim e depois é aproveitar o seu tempo."

Não há um ponto intermédio? Um compromisso algures entre a termosfera e o fundo do mar, entre o ultracaro e o preço plausível? Jose Mariano López Urdiales insiste que há. O CEO da Zero 2 Infinity foi outro dos oradores principais na SUTUS 2022, que foi lá para delinear a visão de uma empresa sediada na Andaluzia que pretende levar turistas para o alto, bem alto e avante, evitando ao mesmo tempo o elefante em capacete de astronauta na sala de partidas lustrosamente apainelada da indústria de viagens espaciais. Os seus efeitos ambientais.

Como? Com balões. Ou, pelo menos, com "o bloon" – uma aeronave de zero-emissões que usará hélio para se elevar até uma altura de 35 quilómetros acima do nível do mar. Uma sondagem da empresa junto de potenciais clientes revelou que a oportunidade de ver a Terra lá do alto é a principal motivação dos aspirantes a turistas espaciais (63% daqueles a quem foi perguntado responderam isso). Urdiales argumenta que o "bloon" irá tornar realidade este sonho, sem adicionar gases com efeito de estufa à atmosfera.

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Quatro passageiros (e dois pilotos) passarão duas horas a subir até à altitude de cruzeiro numa cápsula e outras duas apreciando a vista, antes da descida por meio de paraquedas e airbags. "Nós acreditamos que o caminho para avançar é usando balões", disse ele na cimeira. "Eu estou otimista de que o turismo espacial vai ser em grande – mas temos de pensar no impacto ambiental."

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Chris Leadbeater/The Telegraph/Atlântico Press

Tradução: Adelaide Cabral

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