"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce." Neste caso em concreto, Deus talvez não quisesse, ou teria tratado do assunto. Mas o homem certamente que andava a sonhar e foi assim que nasceu uma praia em Manhattan, na península de Gansevoort, uma área com cerca de 22 mil metros quadrados que dá para o rio Hudson. A beleza é inegável, mas há um pequeno problema: é uma praia de banhos, sim, mas de banhos de sol. Os banhos a sério estão interditos – seria o mesmo que dar um mergulho no Cais das Colunas –, mas pode-se praticar desportos náuticos, como caiaque, ou ler um livro confortavelmente sentado numa cadeira de praia, debaixo de um chapéu de sol, com vista para os arranha-céus de Nova Iorque. A praia abriu no início de outubro e, tal como nós, os nova-iorquinos têm andado a aproveitar os últimos raios de sol deste verão tardio.
Para a construção, foram precisas 1200 toneladas de areia além da praia. O projeto custou 73 milhões de dólares (quase 70 milhões de euros) e foi levado a cabo pelo escritório de arquitetura FieldOperations. Inclui um cais para caiaques e pequenas embarcações, um campo desportivo multiusos, e um parque com um bosque de pinheiros, jardins, bancos, caminhos pedonais, miradouros, amplo relvado (para mais banhos de sol) e zona de piqueniques.
A praia da península de Gansevoort tem ainda uma componente ecológica uma vez que, na área de rio em seu redor, foram colocadas 20 milhões de ostras jovens, que ajudarão a equilibrar o ecossistema. As piscinas criadas pelas marés e o pântano de água salgada vão, também, promover uma aproximação entre os visitantes e a natureza e um maior interesse da população pela fauna e flora da zona, num local perfeito para descansar, mas também para aprender.
A praia tem uma zona onde os veraneantes podem ser borrifados com uma bruma fresca para conseguirem aguentar os longos dias de calor do verão nova-iorquino. Para quem vive espremido numa das zonas urbanas com maior densidade do mundo, rodeado de arranha-céus e trânsito caótico, uma praia, a única na ilha de Manhattan, vem mesmo a calhar. Mesmo que não dê para ir a banhos.