Chegar ao Immerso ao fim de um sábado de inverno é como contemplar um quadro vivo cheio de exemplares desta paisagem inconfundível. Do quarto onde ficamos a dormir, vemos a extensão de arvoredo e de casas desordenadas que se estende até ao mar, e os tons de verde, azul e amarelo do pôr do sol combinam-se na perfeição para, devagarinho, desligarmos do ritmo da cidade. Estamos num vale, naquele que é o primeiro hotel de cinco estrelas da Ericeira. As cadeiras no alpendre, mesmo de frente para a cama, convidam-nos a sentar, mesmo com uma manta sobre as pernas, que deve ser dos gestos mais aconchegantes de que nos lembramos.
Uma consultoria do chef Alexandre Silva e com Paulo Pedro (ex-Fortaleza do Guincho) como partner in crime, o restaurante do Immerso, o Emme, acolhe-nos como se da nossa sala de estar se tratasse. Com lareira (dispensámos, desta vez, a manta) e uma decoração nórdica confortável, privilegiando a madeira, o ferro e o burel (há um painel inteiro ao fundo do restaurante que replica o movimento das ondas do mar), as cadeiras são cómodas e o sommelier prontifica-se a sugerir um espumante Luís Pato Blanc de Blancs. "Há ostras?" perguntamos, curiosos com uma fotografia no Instagram do Immerso. Chegam-nos à mesa com um caril verde (três, €14), um toque do chef. Antes de passarmos à primeira entrada - um pica-pau do mar, bivalves da nossa costa marinados com molho de ervas frescas, pickles de kumquat e funcho (€18) cujos ingredientes se ligam com alguma dificuldade -, é-nos servido um fresquíssimo Pormenor 2021, um branco do Douro, que se vai revelando à medida que o bebemos.
Segue-se uma massada com algas, peixes e moluscos (€28): o chef aposta na cozinha atlântica e nos ingredientes da sua horta biológica, nas traseiras do hotel, integrante do jardim orgânico, e o peixe vai buscá-lo, sobretudo, à Lota de Peniche. Neste dia, o caldo que acompanha a massada não convenceu, mas seguimos firmes para o último prato, umas bochechas de vaca estufadas com vinho tinto do Oeste, milho cremoso, enchidos, cogumelos selvagens e queijo de São Jorge (€22). As sobremesas são as estrelas da carta: uma deliciosa pêra bêbeda, rabanada e creme de especiarias (€7) e a torta queimada de citrinos e creme de baunilha (€7), ambas no ponto de equilíbrio certo no que toca ao doce. Provámos ainda dois Página, um branco Sauvignon Blanc e um tinto Touriga Nacional, por indicação gentil do sommelier, que dedicou bastante tempo a explicar como evoluíram os vinhos do Oeste (estes em particular são DOC Óbidos). Esta experiência termina com um saboroso medronho Arbun Original, da Serra do Caldeirão.
Além da passagem pelo Emme, o Immerso está pensado para desacelerar e usufruir desta localização meio recôndita, com direito a zona de spa (tem sauna, banho turco e chuveiro, ficámos com pena que só existisse piscina exterior). Ao todo, são 37 quartos (dois deles suite) espalhados por três edifícios diferentes, uns mais isolados que outros, pois a extensão do hotel é considerável (podemos, até, percorrer um trilho que nos leva a pequenos miradouros). Há uma preocupação estética que envolve todo o hotel - o edifício foi projetado pelo arquiteto Tiago Silva Dias para se integrar com naturalidade neste vale - e lá dentro a curadoria é da proprietária do hotel, Alexandra Almeida d’Eça, e com a participação da designer Bárbara Neto, da LemonVariance. Mais uma curiosidade? Lourenço Lucena, o único português membro da Sociedade Francesa de Perfumistas, é o responsável pela criação da identidade olfativa do Immerso. Enfim, também não podemos contar tudo: é ir, passear e deixarmo-nos ficar sem pressas nem data de regresso à cidade (num cenário ideal, claro está).
Onde? Rua Bica da Figueira, Marvão, Sto Isidoro, Ericeira Reservas (+351) 261 104 420