Prazeres / Lugares

Guia. A oeste (sempre) tudo tão novo

De São Pedro de Moel, em pleno Pinhal de Leiria, até à Foz do Sizandro, já no limite sul do concelho de Torres Vedras, são pouco mais de 100 quilómetros, num dos mais bonitos e variados troços do litoral português, que nesta altura do ano, ainda tão distante das enchentes estivais, ganha ainda mais encanto.

Foto: Município da Lourinhã
20 de janeiro de 2023 | Miguel Judas
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Sempre enquadrada pelo azul do mar, esta costa apresenta-se como uma sucessão de diferentes paisagens, no espaço de poucos quilómetros, e que se transfiguram em algo completamente diferente. Seja como um imenso pinhal com vista para o oceano, um desfiladeiro subaquático onde se formam as maiores ondas do mundo ou gigantescas falésias com vestígios de dinossauros, é caso para dizer que a Oeste há sempre algo novo para se ver.

São Pedro de Moel

Aos fins-de-semana, a ciclovia Atlântica, que se prolonga desde o Osso da Baleia, a norte, até São Pedro de Moel, a sul, enche-se de gente de todas as idades, a correr, a caminhar ou a andar de bicicleta. O parque de merendas da Foz do Liz, junto à praia de Vieira de Leiria, é um dos locais mais concorridos, como se comprova pelos animados piqueniques que ocupam a maior parte das mesas. Nos arredores de São Pedro de Moel, o Old Beach Club foi em tempos considerado um dos mais bonitos bares de praia da costa portuguesa e está aberto ao longo de todo o ano, permitindo apreciar, mesmo durante o inverno, o belo areal da praia Velha. A sul, avista-se já o Farol do Penedo da Saudade, ainda em funcionamento e também ele merecedor de olhar atento. Aconselha-se o caminho pela falésia, na qual foram construídos largos passadiços de madeira, de onde se pode descobrir, em segurança, toda a beleza natural desta costa. Reza a lenda que, no mesmo local onde, em 1912, foi construído o farol, e onde chorou a Duquesa de Caminha a morte de seu esposo, o último Marquês de Vila Real e Duque de Caminha, executado em 1641. Desde então, o ermo rochedo passou a ser conhecido como Penedo da Saudade e há quem diga que, por entre o murmúrio das ondas, ainda se conseguem ouvir os prantos da viúva.

Foto: Autoridade Marítima Nacional
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Nazaré

Em tempos lugar de grande devoção, o Sítio da Nazaré continua a atrair multidões vindas um pouco de todo o mundo. A maioria, porém, já não vem para rezar no Santuário da Senhora da Nazaré, por onde passaram Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, antes de se fazerem ao mar, mas sim para ver as ondas gigantes que deram fama mundial à vila. A culpa foi de Garrett McNamara, que em 2012 aqui cavalgou a maior onde até então surfada. Desde então, o surfista norte-americano, que todos aos anos regressa à Nazaré, passou a ser tratado como um verdadeiro filho da terra, e a praia do Norte tornou-se procurada por surfistas do mundo inteiro. O segredo de tamanhas ondas reside no chamado "Canhão da Nazaré", o maior desfiladeiro submerso da Europa, com cerca de 200 km de comprimento e 500 metros de profundidade, que aqui desemboca, junto a um areal quase selvagem e de grande beleza natural.

Foto: D.R
São Martinho do Porto

À saída da Nazaré, logo após o porto de pesca, deve-se seguir a indicação para praia do Salgado, através da estrada panorâmica que percorre a crista salpicada por moinhos da Serra da Pescaria, sempre com vista para o oceano e para a bonita praia já mencionada. Desde aí, já não se demora muito para chegar a São Martinho do Porto, a baía em forma de concha que é um dos postais ilustrados desta costa. Antes, porém, dita-se um novo desvio, até ao miradouro Facho, de onde se pode ver esta paisagem de uma perspetiva completamente diferente. Do lado sul da baía, aconselha-se também um passeio pelos passadiços que, desde a vizinha localidade de Salir do Porto, acompanham a foz do rio Tornada e toda a zona húmida da Concha de São Martinho. Ao longo da marginal, existem inúmeros bares e restaurantes, paredes meias com algumas mansões de início do século XX, que mantêm bem vivo o brilho de outros tempos, quando esta praia era um dos locais de veraneio favorito das classes mais abastadas da região centro e da grande Lisboa. 

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Foto: D.R
Foz do Arelho

É também conhecida como Atlântica, a via que faz a ligação entre Salir do Porto e a Foz do Arelho. A estrada termina no topo da falésia, mesmo junto aos famosos passadiços criados pela arquiteta paisagista Nádia Schilling, que desde a sua inauguração, em 2016, se tornaram num ponto de paragem (e de passeio) obrigatório para quem por aqui passa. No total são cerca de 800 metros de passadiços, que se entrelaçam, a diversas alturas, ao longo da falésia, apenas com o único objetivo de deixar contemplar o mar. Ao longo do percurso, há diversos miradouros, bancos e varandas, locais para se estar em grupo e outros para ficar só, num original projeto que foi selecionado para integrar o Atlas of World Landscape Architecture, publicado pela Braun, uma editora suíça especializada em livros de arquitetura. Mais abaixo, a praia da Foz do Arelho permanece igual ao que sempre foi. Com um largo areal ladeado por uma marginal, é banhada de um lado pelo mar selvagem do oeste e do outro pelas águas bem mais calmas da Lagoa de Óbidos. Ao longo das margens do imenso espelho de água, revelam-se locais como o parque de merendas do Arelho, junto à foz do rio com o mesmo nome, de onde sai um percurso pedonal que conduz a uma torre de observação de aves; ou a aprazível praia fluvial do Covão dos Musaranhos, na qual ainda podem ser vistas algumas bateiras, os tradicionais barcos usados pelos pescadores na lagoa. 

Foto: D.R
Caldas da Rainha

Aqui chegados, impõem-se um pequeno desvio em direção ao interior, de apenas 10 km, para visitar as Caldas da Rainha. Na parte da manhã, todos os caminhos levam à Praça da Fruta, numa tradição que se mantém desde o século XVI, quando o local hoje assim conhecido, bem no centro da cidade, foi cedido pela rainha D. Leonor aos agricultores da região, para ali venderem os seus produtos. Desde então, nunca mais deixou de se realizar e todos os dias, até à hora de almoço, lá estão as coloridas bandas de frutas e legumes, com as simpáticas vendedeiras a elogiar os clientes. Uma imagem de outros tempos que decerto teria agradado ao pintor José Malhoa, o "pai do naturalismo português", também ele natural das Caldas da Rainha e cuja obra pode ser apreciada no museu batizado com o seu nome, que fica no vizinho Parque D. Carlos. Igualmente de visita obrigatória é o Museu da Cerâmica, outra tradição antiga da cidade, elevada à condição de arte pela mestria de Bordalo Pinheiro nas últimas décadas do século XIX. Ambos ficam no Parque D. Carlos, o imenso jardim romântico construído junto às termas, outrora ponto de encontro de gente abastada de todo o país, que ficava hospedada no luxuoso Grand Hotel Lisbonense, entretanto ressuscitado como Silver Coast Hotel. E tal como o velho hotel, que de repente ganhou o brilho de outros tempos, também a cidade voltou a ganhar um lugar central no panorama artístico nacional, com a abertura, no início dos anos 90, da Escola Superior de Arte e Design. Muitos alunos que daí saem, estabelecem-se depois nas Caldas da Rainha, perpetuando toda uma movida artística no dia-a-dia da cidade, em exposições, concertos e performances, mas também, nas lojas, bares e restaurantes.

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Foto: Museu da Cerâmica

Peniche

São sempre às dezenas e por vezes às centenas, os surfistas (ou aspirantes a tal), que se acotovelam na praia do Baleal, a norte de Peniche, um daqueles raros casos em que os banhistas estão simultaneamente de frente e de costas para o mar. A praia fica situada no estreito istmo de areia que liga a ponta do Baleal ao continente e à volta do qual cresceu uma pequena e pitoresca localidade, muito procurada durante todo o ano por surfistas vindos um pouco de todo o mundo. Peniche é hoje uma das mecas mundiais do surf e isso sente-se não só na água, mas também fora dela, em locais como o vizinho Surfers Lodge, um hotel ecológico pensado de raiz para surfistas, onde os hóspedes têm bicicletas e skates à disposição para se deslocarem até à praia. Tudo começou no Medão ou Supertubos, o nome pelo qual esta praia ficou conhecida entre os surfistas, devido à poderosa e única onda tubular, que aqui se forma por influência do vento norte. Uma "onda perfeita", grande e com a forma ideal, que, a partir de 2009, se tornou também conhecida em todo o mundo, depois de Peniche ter começado a receber uma etapa da liga mundial de surf, a prova que reúne a elite dos surfistas mundiais. Mas Peniche não é só surf, é também história, natureza e paisagens de cortar a respiração, como as que se avistam desde o Cabo Carvoeiro, com as suas caprichosas formações rochosas, que nalguns casos parecem desafiar as próprias leis da física. 

Foto: Surfers Lodge Peniche
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Areia Branca e Porto Dinheiro

À medida que se avança para sul, os férteis campos agrícolas do oeste começam a dominar a paisagem. Nalguns casos prolongando-se mesmo quase até às falésias, como acontece junto às praias de São Bernardino e de Paimogo, onde o velho forte com o mesmo nome dá um toque de mistério ao cenário. Desde aí já se avista a Areia Branca, à qual se acede por uma bonita estrada que percorre a falésia. Uma das mais concorridas praias desta zona durante o verão, ganha por esta altura do ano outro encanto, mais plácido, enquanto se percorre, a pé, o percurso que a liga à vizinha praia do Areal. É também a pé que, a partir da praia de Porto Dinheiro, se pode percorrer a pequena Rota dos Dinossauros à Rocha, que desvenda alguns dos segredos desta zona, bastante rica em fósseis do período Jurássico Superior e cujo nome já foi dado a duas espécies, cujos fósseis aqui foram encontrados pela primeira vez: o dinossauro Dinheirosaurus lourinhanensis e o mamífero roedor Portopinheirodon asymmetricus. Também bem raro, mas ainda por cá, é o Ruivaco-do-oeste, um pequeno peixe autóctone, atualmente à beira da extinção, que ainda pode ser visto na foz do rio Alcabrichel, junto à praia do Porto Novo, onde em 1808 o Duque de Wellington desembarcou o exército inglês que venceu as tropas de Napoleão na batalha do Vimeiro. Hoje, partem deste mesmo local os passadiços das Escarpas, um percurso pedonal e vista panorâmica para as Escarpas da Maceira, o Rio Alcabrichel e a Praia de Porto Novo, que permite viajar milhões de anos no tempo em apenas dois km (ida e volta).

Foto: Município da Lourinhã

Foz do Sizandro

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Desde a praia de Santa Cruz até à Foz do Sizandro, no limite sul do concelho de Torres Vedras, a estrada corre sempre paralela ao mar. Ao longo do caminho, sucedem-se os miradouros, como o da capela de Santa Helena ou o do Alto da Vela, de onde se avista toda a costa até Peniche e às Berlengas. Continuando para sul, chega-se rapidamente à praia Azul, uma das mais amplas da região e também por isso uma das mais concorridas durante a época balnear, ao contrário do que acontece no inverno, quando está quase sempre vazia, revelando-se em todo o seu encanto. Caminhando pela areia, chega-se à praia da Foz do Sizandro, também ela deserta, à exceção de algumas garças e de uns corvos-marinhos que se banham no pequeno estuário. 

Foto: D.R
Comer e Beber

Old Beach Club(Canto do Ribeiro, Praia Velha, São Pedro de Moel, Marinha Grande). Contacto: 244599157

Taberna Marginal (Marginal 26J, São Martinho do Porto).Contacto: 937717319

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Maria dos Cacos – Petiscaria, Bar e Atelier (Rua General Queirós, 48, Caldas da Rainha). Contacto: 914128223

Casa Antero (Beco do Forno, 7, Caldas das Rainha). Contacto: 262835089

Restaurante Maratona (Praça 25 de Abril, 15, Caldas da Rainha). Contactos: 262841483

Cabaret Voltaire Lounge (Rua Alexandre Herculano, 21, Caldas da Rainha). Contacto: 926 370 095

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Restaurante Profresco (Estrada Marginal Norte, Peniche). Contacto: 262785186

Pizzaria da Praia (Rua Pôr do Sol, 2 r/c dto, Praia da Areia Branca, Lourinhã). Contacto: 261471048

Tasca do Marquitos (Travessa do Marquitos, 1, Silveira, Torres Vedras). Contacto: 261932399


Dormir

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19 Tile Ceramic Concept Hotel (Rua General Queirós, 46, Caldas da Rainha). Contactos: 910435284

Sana Silver Coast Hotel (Avenida D. Manuel Figueira Freire da Câmara, Caldas da Rainha). Contacto: 262000600

Bukubaki Eco Surf Resort (Rua do Juncal 6, Casais Mestre Mendo, Atouguia da Baleia, Peniche). Contacto: 262249 830

Surfers Lodge (Do Mar, 132, Casais do Baleal, Ferrel, Peniche9. Contacto: 262700030

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Areias do Seixo Hotel (Praceta do Atlântico, Mexilhoeira, Póvoa de Penafirme, A-Dos-Cunhados, Torres Vedras). Contacto: 261936350

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