No cimo de uma colina lisboeta, entre Santos e Alcântara e depois de um caminho daqueles que o GPS diz seis minutos, mas parece uma eternidade pela inclinação, encontramos, numa casa amarela, o Come Prima. O restaurante italiano conta já com 25 anos de história às mãos do chef Tanka Sapkota, natural do Nepal, mas residente em Portugal desde 1996, onde abriu quatro restaurantes.
Dos 25 anos de Come Prima, 18 deles contaram com um menu especial de Trufa Branca d’Alba no mês de novembro. O chef é de tal forma experiente a trabalhar com este ingrediente raro que mereceu, em 2018, o título de "Cavaleiro das Trufas Brancas de Alba", pela Ordem dos Cavaleiros do Tartufo de Alba – o único em Portugal e um dos 20 do mundo. Foi ainda nesse ano que trouxe para Portugal a maior trufa branca da década, com 1,153 kg. Todos os anos, o chef viaja até Piemonte, em Itália, onde nascem estas trufas raras já que, conta, "torna possível que chegue ao melhor produto". Para si, é um verdadeiro privilégio, "para quem aprecia tanto a excelência das trufas como eu, é sempre um momento especial e feliz do ano".
A cronologia do restaurante vê-se nas paredes e nas janelas de entrada que servem como uma montra. Artigos de todos os meios de comunicação (internacionais e nacionais), prémios e fotografias são expostos em molduras douradas e preenchem as paredes, transportando-nos imediatamente para uma taberna familiar italiana. Essa viagem é facilitada pela madeira escura e a decoração com loiça siciliana, mas também pela amabilidade do chef e da sua equipa.
As trufas, prontas para a refeição, não precisam de anúncio quando chegam à sala e são pousadas numa mesa de aparo. O seu aroma precede-lhes. O chef partilha que "num dia bom" serve-se um quilograma de trufa branca d’Alba e acrescenta: "Quando comecei ninguém acreditava que se vendia um quilo de trufa em Portugal". Certamente estariam enganados já que, segundo o chef Tanka, desde que anunciaram o regresso deste menu a semana passada já receberam centenas de reservas.
O primeiro prato chega à mesa e já muitos o reconhecem. É o ovo cozinhado a baixas temperaturas. Tão baixas que para o pedir deve ligar pelo menos uma hora antes para a cozinha ter tempo de o preparar. O chef cobre o ovo com uma quantidade generosa de trufa já que "é uma semana de festa" e não se poupa no ingrediente rei. A trufa não é pesada nem medida, o chef vai fatiando e fatiando até que a quantidade e os aromas o satisfaçam. O menu apresenta ainda outras duas opções de entrada.
De seguida chega-nos uma pasta fresca cabelo de anjo, com manteiga dos Açores, também coberta de lascas da delicada Trufa Branca d’Alba, que rapidamente nos relembra que o Come Prima é um restaurante italiano. No menu pode-se encontrar ainda os raviolis para primeiro prato.
Entre as duas opções de vitela, o segundo prato escolhido foi medalhões de lombo de vitela, com creme de castanha e batata-doce. À medida que o chef cobria os pratos de trufa recomendava que se começasse a comer, sem esperar pelos outros, para que não ficasse frio. "Primeiro as senhoras" nunca soube tão bem.
Por fim, para rematar a refeição o zabaione com creme de castanhas e ricotta de cabra, um doce típico italiano, foi também revestido por trufa e acompanhado por Vinho do Porto. O doce simples e outonal oferece um sabor suficientemente passivo para que a trufa brilhe. Afinal, é dela o papel principal.
No final da refeição o chef deixou já uma provocação que, apesar da curta época em que este menu estará disponível, a trufa voltará em força no fim de abril e maio, mas vinda de solo português. No fim de contas, foi o próprio que encontrou trufas negras de verão em Portugal. Este ano já teve um menu sazonal de trufa portuguesa e deixou, neste almoço, a promessa que voltará em 2025.
O menu está disponível apenas ao jantar, entre as 18h e as 22h30, e é pedido ao prato.
Quando? De 20 a 30 de novembro, ao jantar (fechado ao domingo) Onde? Come Prima, Rua do Olival 258, Lisboa Reserva obrigatória