Prazeres / Lugares

Edições especiais, azeites e rótulos: a Herdade Grande, a tradição e o progresso

Uma visita à emblemática e centenária propriedade do Baixo Alentejo permitiu descobrir algumas novidades que resultam do seu constante rejuvenescimento.

Foto: DR
16 de agosto de 2024 | Diego Armés
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Um lenço em torno de um rosto - um rosto que, não estando lá, pode ser qualquer um, desde que encaixe no perfil que aquele lenço sugere: um perfil de mulher do Alentejo, que traga as faces emolduradas pelo magnífico lenço tradicional alentejano, que, por sua vez, tem em cima a adorná-lo um chapéu de palha, num caso, e um arranjo de flores, no outro. "A ideia era simples", diz Mariana Lança, "queríamos que tanto um rótulo como o outro prestassem tributo à mulher alentejana." 

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O rosto que não está lá, agora, nos rótulos do novo azeite virgem extra da Herdade Grande (lançado em finais de 2023) e do novíssimo vinho Herdade Grande Rosé (lançado já este ano), existe mesmo. Contudo, assim, deixado vago o espaço, aquele pode ser o rosto de todas as mulheres alentejanas, especialmente as mulheres do campo, que são evocadas pelas vestes tradicionais. "Eu queria fazer qualquer coisa assim, com estes elementos", explica Mariana, "mas não tinha, por exemplo, lenços típicos do Alentejo". Foi então que se lembrou de pedir à D. Teresa, a incansável e talentosa cozinheira da Herdade Grande, se não tinha lá em casa alguns lenços que não usasse. "Respondeu-me logo ‘se tenho? Não tenho é poucos!’ No dia seguinte, trouxe-me uma carrada de lenços." Mariana selecionou aqueles que estavam em melhores condições e, depois, escolheu os que considerou mais bonitos. No fim, ficaram os dois que embelezam os rótulos do azeite do vinho rosé. 

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Estas - e outras - revelações aconteceram no decorrer de uma visita recente à Herdade Grande, durante a qual tivemos a oportunidade e o privilégio de conversar, à mesa de refeições, com Mariana e António Lança, filha e pai, as duas forças e as duas cabeças por trás - ou à frente - da emblemática propriedade vinícola do Baixo Alentejo e um dos principais nomes da sub-região alentejana da Vidigueira. Numa altura em que António, grande mentor da modernização da Herdade, vai passando o testemunho à filha Mariana, garantindo que a 4.ª geração da família Lança continua a respeitar tradições sem perder de vista o futuro, é importante descobrir que novidades têm surgido com as inconfundíveis iniciais HG no rótulo. 

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NOVIDADES 

O Rosé é, sem dúvida, uma dessas novidades que merecem destaque. Um blend de Aragonês, Touriga Nacional e Trincadeira que se transforma numa deliciosa expressão da frescura que é imagem de marca dos vinhos da Vidigueira. Elegante e equilibrado, é um vinho ideal para os dias quentes de verão ou para acompanhar a frescura de pratos tão simples como sofisticados, como sushi, por exemplo.  

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Já o azeite acaba por ser a continuação natural do trabalho e da produção da Herdade, que sempre produziu azeitona e cujo olival se foi expandido ao longo da sua história mais que centenária - importa lembrar que a Herdade foi fundada em 1920. As variedades de azeitona Cobrançosa e Galega conferem ao Virgem Extra da Herdade Grande os sabores e os aromas que lhe são característicos. 

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EDIÇÕES ESPECIAIS 

"O Cacau recebia as pessoas com uma alegria contagiante. Sem querer, foi-se tornando, aos poucos, um símbolo, uma mascote da Herdade Grande." A perda recente de Cacau nota-se que ainda dói um bocadinho a Mariana quando fala do seu cão adorado. Cacau era um Labrador Retriever simpático, afável e brincalhão, que adoeceu e acabou por morrer em junho de 2022. Mas a sua memória continua bem presente. A celebrar a vida e o amor de Cacau, o cão da Herdade e da família, foi lançado recentemente um vinho tinto em sua memória. Chama-se Cacau, simplesmente, e é um tinto "guloso, doce e irreverente", o que constitui uma homenagem perfeita ao cão amoroso que lhe deu o nome. 

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A homenagem da Herdade Grande ao Cacau não se fica por aí. Numa altura em que são contabilizados aproximadamente 42 mil abandonos de animais domésticos por ano (!), o lançamento da imagem renovada de Cacau pretende não só chamar a atenção do público para este flagelo, mas também contribuir para o abrigo de animais, com 1% do valor de cada garrafa a reverter a favor da Associação Francisco de Assis, de Cascais, cuja missão consiste em recolher e abrigar animais de companhia até que voltem a ser adotados.  

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Outra edição especial - e outra homenagem à mulher, em especial, à mulher alentejana - é o vinho Dama do Monte. Lançado em exclusivo para o canal Horeca, o Dama do Monte tem a particularidade de exibir, tal como aconteceu no projeto Génese de Baco - cujos rótulos resultaram de trabalhos do artista António Saiote -, rótulos da autoria de um artista plástico. Desta vez, a parceria foi feita com Alcides Malaika, que já havia colaborado com a Herdade numa edição especial de vinhos destinados ao mercado angolano. 

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O Dama do Monte surge em duas referências: um tinto com 12 meses de estágio em barrica e um branco fresco e elegante, como é característico dos brancos da sub-região da Vidigueira. O Dama do Monte Tinto 2018, vinho de cor granada e um perfil aromático onde se encontram aromas de cacau, mentol, figo em passa e tabaco, resulta de uma blend de castas em que se encontram Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Touriga Franca. Já o Dama do Monte Branco 2020 apresenta uma cor amarela cristalina, com tons esverdeados. Tem aromas cítricos, com subtis notas de ananás. No palato, é cheio de caráter, com fruta bem integrada, realçada pela frescura. Resulta de um blend de castas com Verdelho, Viosinho e Antão Vaz. 

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PRESENTE E FUTURO 

António Lança passou a gerir a Herdade Grande em 1980. Desde então, a propriedade tem sabido crescer, sempre respeitando o difícil equilíbrio entre a preservação das tradições, o respeito pelos métodos ancestrais e pela natureza, e os desafios da modernidade e o progresso. A reconfiguração da vinha e a expansão do olival são apenas duas das reformas substanciais que introduziu na Herdade. A chegada primeiro da filha, Mariana Lança, em 2011, e depois do enólogo Diogo Lopes, em 2018, vieram ajudar consubstanciar esta visão inovadora, que sempre soube encarar o progresso respeitando a herança. 

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A aposta nos vinhos de talha - os Amphora - ou no futuro, que passará inevitavelmente pelos biológicos - em 2017, foram plantados 3 hectares de vinha destinada à produção de vinhos biológicos; a primeira edição será lançada este ano - são só dois exemplos do que vai evoluindo na Herdade Grande, sempre com tempo e em sossego, como pertence no bom Baixo Alentejo. 

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