Electric dreams, a nova Harley elétrica é mesmo um sonho
Rebeldia, liberdade à americana, tradição e, agora, eletricidade. A Harley-Davidson estreou, este ano, a sua primeira mota totalmente elétrica, a LiveWire. Como se não bastasse de estreias modernas, lançou também o seu primeiro modelo de aventura, a imponente Pan America. A lendária Harley está viva e recomenda-se.
Aquilo de que os sonhos são feitos. Ou, na frase original, the stuff that dreams are made of. A expressão pertence ao filme noir Relíquia Macabra, assinado por John Huston, em 1941, e é proferida por Humphrey Bogart. Com mais de um século de existência, a Harley-Davidson é, há muito, o objeto de desejo de motards e de motards ‘wannabe’. O estilo selvagem norte-americano ficou bem espelhado em filmes como o lendário Easy Rider, de Dennis Hopper, de 1969, com esse ator e realizador e com Peter Fonda nos papéis de rebeldes motards prontos para tudo. Fonda conduziu no filme uma Harley-Davidson que ganhou o nome de Capitão América e que esteve exposta, durante 12 anos, num museu no Iowa e que, em 2014, foi vendida por um milhão de dólares. Desde aquele clássico do cinema dos anos 60, o estilo das motas personalizadas chopper, conduzidas com os braços e as pernas bem abertos, tornou-se um fenómeno mundial. Partindo dos EUA, nos anos de 1970, o estilo chopper chegou ao Japão, que começou a produzir motas desse tipo.
Fundada em 1903, na cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin, a Harley-Davidson continua a ter a sua sede naquela que é, curiosamente, a "capital da cerveja" nos EUA, tendo nela fundado o Harley-Davidson Museum, depois de 116 anos vividos por entre crises, sucessos e guerras. Tudo começou com dois jovens amigos, Arthur Davidson e William Harley, um engenheiro e um gestor, respetivamente, que quiseram colocar um motor numa bicicleta para ajudar a subir as colinas do Milwaukee. O resto é história. A Harley-Davidson foi, na verdade, uma das duas marcas que sobreviveu à Grande Depressão, nos EUA, em conjunto com a menos conhecida Indian. A primeira fábrica criada fora dos States foi no Brasil e perante o sucesso dos últimos anos já existe uma fábrica na Tailândia.
Agora, a mítica marca está a variar em modelos e a mostrar que não está parada e que está atenta às novas tendências. O motivo? A sua sobrevivência e a sua pujança, sempre com a canção Born To Be Wild, interpretada pelos Steppenwolf e popularizada em Easy Rider, como tema de fundo.
Foi no início deste ano que a Harley mostrou que não está cristalizada, apresentando a sua primeira mota elétrica, a LiveWire. Mais recentemente, estreou-se noutro domínio, ao mostrar a sua primeira mota de aventura, pronta para as grandes viagens e para rivalizar com a BMW e companhia, a destemida Pan America, que só será colocada à venda no próximo ano.
Abram alas à eletricidade
Pode uma marca tradicional reinventar-se? A Harley-Davidson considera que sim. A primeira mostra de como a empresa consegue sair da sua tradição e mostrar algo verdadeiramente único é a elegante e arrojada LiveWire. O motor elétrico faz com que não haja mudanças, tal como numa scooter. No entanto, esta não é uma scooter. Silenciosa, a LiveWire chega aos 100 km/h em apenas três segundos e promete uma autonomia com um só carregamento elétrico de 235 km dentro da cidade e 158 km fora dela (a bateria elétrica carrega 80% em modo rápido em 40 minutos). O modelo que tem 153 km/h de velocidade máxima foi criado em parceria com a Panasonic e permite, por exemplo, controlar a informação vital da mota através de uma app, em mais um sinal que o mundo digital também chega a uma marca tradicional. A Harley-Davidson admite que este é o primeiro modelo de uma ofensiva ‘elétrica’ bem mais ampla da empresa que deve incluir scooters e, eventualmente, bicicletas elétricas. A ironia dessa aposta é que, ao contrário do que muitos pensam, esse é também um regresso às origens, já que foi com bicicletas com pequenos motores (a combustão) que a empresa começou, em 1903, antes de ser conhecida pelos imponentes modelos nos anos de 1960.
A LiveWire chegou oficialmente este verão aos EUA com um preço a rondar os 30 mil dólares e também já chegou à Europa. Em Portugal, as pré-vendas começam em breve, mas é preciso abrir ainda mais os cordões à bolsa: a LiveWire ‘à portuguesa’ custa 34.500 euros.
A mostrar que a Harley-Davidson quer, ainda mais, abrir os seus horizontes, a empresa anunciou em novembro deste ano o seu primeiro modelo de aventura, preparado para todo o terreno. A Pan America só fica à venda no próximo ano, mas já é possível contemplar as fotografias e as características de um modelo desejado há muito tempo. Projetada para permitir que os motociclistas consigam aventurar-se por todo o tipo de terrenos e avancem por onde o destino os levar, a Harley-Davidson contou com uma importante parceria com a Brembo (especialista em travões) e com a Michelin (pneus) para garantir que esses componentes vitais fossem otimizados para o conjunto de potencialidades deste veículo todo-o-terreno. O preço deve ficar acima dos 20 mil euros, mas não nos podemos esquecer: uma Harley é sempre uma Harley.
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