A Alemanha, ainda dividida, organizou o Campeonato do Mundo de Futebol de 1974, com a selecção da República Federal da Alemanha (RFA) a derrotar, na final, a fantástica Holanda de Johan Cruijff, com golos de Breitner e Gerd Müller. Mas dois meses antes, em maio, já outro acontecimento contribuía para que este fosse um ano a destacar na história daquele país: falamos do lançamento do Volkswagen Golf, sucessor do mítico VW Beetle.
O Golf foi um sucesso imediato e rapidamente se lançou à conquista do mundo. Agora, 46 anos mais tarde, já soma mais de 35 milhões de unidades vendidas, número que diz bem da importância deste modelo para o setor automóvel mundial.
A oitava geração do Golf acaba de chegar ao mercado português e, para assinalar o momento, falámos em exclusivo com Nuno Serra, Director de Marketing da Volkswagen, que nos ajudou a perceber a importância deste automóvel para a marca de Wolfsburgo, cuja história considera que pode ser "contada" em três modelos distintos: o Beetle, o Golf e o ID.3, o primeiro eléctrico de produção da marca germânica.
Entre o Golf original e a sua mais recente geração, a oitava, passaram-se 46 anos, um espaço temporal que não só viu este modelo afirmar-se como um autêntico ícone da indústria como também o viu tornar-se num espaço de histórias pessoais, contadas e vividas a bordo de diferentes versões: todos nós temos um familiar ou um amigo que tem ou já teve um Golf, certo?
Mas se a imagem do Golf foi evoluindo ao longo destas mais de quatro décadas, desde as arestas mais vincadas do Golf Mk1 até aos painéis mais arredondados e arrojados do novo Golf Mk8, há uma coisa que Nuno Serra considera nunca ter mudado, a identidade. "Basta olharmos de relance e sabemos que é um Golf. As linhas exteriores e interiores evoluem, mas um Golf passa por nós e sabemos de que carro se trata", confessa, antes de dizer que não há nada melhor para provar a confiança das pessoas neste modelo do que ter clientes a trocar de carro e a dizer que querem continuar a ter um Golf.
Mk1. Tudo começou com Giorgio Giugiaro…
O Golf original será sempre um marco na indústria automóvel. Ao final de dois anos já tinha ultrapassado a barreira do milhão de unidades vendidas e mesmo agora, passados todos estes anos, continuamos a olhá-lo com admiração, aplaudindo as linhas desenhadas por Giorgio Giugiaro. Ainda assim, é difícil apontar o Mk1 como o Golf mais revolucionário de sempre, já que é impossível esquecer as tecnologias inovadores apresentadas no Mk2, a inclusão dos airbags frontais no Mk3, o design intemporal do Mk4, a estreia do airbag de joelhos para o condutor do Mk6 ou, mais recentemente, o Mk8, que sofreu a maior evolução tecnológica de sempre neste modelo. Para Nuno Serra, "todas as gerações Golf conseguem ter algo que as caracteriza e sempre com um conceito de inovação", lembrando a aposta na conectividade feita na oitava geração, que se afirma como um modelo 100% digital e que representa a nova imagem de marca da Volkswagen.
Depois de uma era em que o Beetle dominou, com uma configuração de motor traseiro e tração traseira, o Golf deu continuidade ao que já acontecia com o Scirocco e com o Passat, adoptando um motor em posição frontal montado entre o eixo dianteiro.
As expectativas eram grandes e o Golf tinha um longo caminho pela frente, já que o Beetle era, nessa época, o automóvel mais vendido de sempre. Mas a imagem futurista, a unidade motriz moderna e a flexibilidade garantida pelo banco traseiro rebatível fizeram com que este modelo rapidamente conquistasse o seu espaço. A primeira geração do Golf vendeu uns impressionantes 6.99 milhões de exemplares, número que ajudou a esquecer o Beetle.
Mk2. A marca dos 10 milhões
O Golf Mk2 foi apresentado em 1983 e era maior e mais aerodinâmico. Foi o primeiro carro de produção em massa a ser construído com painéis galvanizados e em 1988 atingiu a marca das 10 milhões de unidades vendidas.
Esta geração mostrou ainda uma maior versatilidade, com o aparecimento das versões Syncro e Country, com quatro rodas motrizes e com um "look" aventureiro, quase como se de um pequeno crossover se tratasse. A segunda geração do Golf deixou de ser produzida no verão de 1991, poucos meses antes da chegada do Golf Mk3, que se destacou pela evolução no campo da segurança.
Mk3. O primeiro Golf com airbag frontal
O Golf Mk3 foi apresentado como o primeiro Volkswagen Golf com airbag frontal e o novo design da carroçaria permitiu-lhe registar grandes evoluções ao nível da proteção dos ocupantes em caso de acidente.
Além das melhorias ao nível da segurança passiva, esta geração do Golf ficou ainda marcada pela introdução do motor VR6 de seis cilindros, do sistema de cruise-control, do primeiro motor diesel com injecção directa e dos primeiros airbags laterais.
Em maio de 1994 a marca com sede em Wolfsburgo celebrou 15 milhões de exemplares produzidos do Golf, antes desta geração deixar de ser produzida, em 1997.
Mk4. Um ícone de design
Os anos passam mas o Golf Mk4, apresentado em 1997, continua a ser um ícone de estilo entre os especialistas, com a Volkswagen a apresentar padrões de qualidade nunca antes vistos no segmento.
A envolvência dos interiores e a qualidade dos materiais distanciavam este Golf Mk4 da concorrência, sendo que este foi, a partir de 1999, o primeiro modelo da gama a oferecer o ESP de série.
Esta geração acabaria por atingir todo o seu esplendor em 2002, com o lançamento da versão R32, alimentada por um bloco V6 de 3.2 litros com 241 cv que deixava o Golf acelerar até aos 250 km/h. Mais tarde, em 2003, o R32 ainda serviu como plataforma de estreia para a caixa DSG, de dupla embraiagem.
O Mk5 voltou a elevar a fasquia…
Se olhamos para o Golf Mk4 e destacamos a evolução registada ao nível dos acabamentos e dos interiores, o Mk5 - apresentado em 2003 - primou pela melhoria ao nível da dinâmica e do "feeling" de condução.
Graças a uma nova configuração de suspensão e a uma nova afinação do chassis, desde cedo mostrou dotes dinâmicos semelhantes aos de propostas de outros segmentos. Tais qualidades associadas a um reforço no campo da segurança fizeram com que este Golf fosse mais um best-seller. Em 2007 saía da fábrica da VW a unidade número "25 milhões" do Golf.
Mk6. O regresso do Golf Cabrio
A sexta geração do Golf - distinguida com o prémio de "Carro do Ano" de 2009 - ficou marcada por um novo reforço da oferta de segurança, com a introdução de uma nova geração de ESP e de airbags para os joelhos como parte do equipamento de série.
Mas foram inovações como o chassis auto-adaptativo ou o estacionamento automático que mais impressionaram. Porém, foi o regresso do Golf Cabriolet, agora sem arco de segurança, que mais surpresa gerou, a par do primeiro Golf GTI descapotável da história do modelo.
Mk7. Golf R com 300 cv fica para a história
O sétimo capítulo desta história arrancou em 2012, com o lançamento de um Golf que não só introduzia uma família de motores a gasolina totalmente nova como apresentava, pela primeira vez, uma versão eléctrica e uma variante híbrida plug-in.
Esta geração introduziu ainda os sistemas "start & stop" e de recuperação de energia, e festejou, em 2016, o 40.º aniversário do Golf GTI.
Para a história fica o Volkswagen Golf R, com um bloco TSI de 300 cv, e o Golf GTI TCR, com 290 cv, que pode ser visto como a derradeira evolução do modelo.
Golf Mk8, o mais tecnológico de sempre
Durante a apresentação do Golf Mk8, Herbert Diess, CEO da Volkswagen, afirmou que "o futuro da Volkswagen começa no novo Golf", mas isso não significa uma quebra com o passado, muito pelo contrário. Se o primeiro Golf representou um corte completo com o Beetle, desde então, a palavra de ordem tem sido: evolução.
A silhueta de dois volumes, com um pilar traseiro muito robusto, continua cá, tal como já acontecia com o primeiro modelo, em 1974, mas o novo Golf está muito mais crescido - mede 4,284 metros de comprimento, um sinal claro dos tempos. Quem deixar um Golf Mk7 para entrar num Mk8 vai sentir-se "em casa", mas ninguém tem dúvidas em afirmar que esta é um "casa" melhor.
Por fora, e além da nova assinatura luminosa, o novo Golf conta com uma linha muito vincada em toda a sua volta, unindo a dianteira e a traseira, um detalhe visual que os designers da Volkswagen apelidam de "Tornado Line".
Esta solução visual acrescenta mais dinamismo e agressividade ao Golf, conferindo-lhe uma imagem mais tecnológica. E esta aposta "casa" na perfeição com a revolução digital que a Volkswagen operou no habitáculo do Golf, que conta, de série, com o Digital Cockpit (10,25’’), que complementa o ecrã central táctil de 8,25’’, terminal para o sistema de info-entretenimento. A forma como estes dois painéis estão incorporados na consola faz com que pareçam unidos, criando uma experiência visual assinalável, acentuada pelo sistema de iluminação ambiente (permite escolher entre 32 cores) e, em opção, por sistema que projeta várias informações no pára-brisas.
Mas há mais, muito mais. A partir de agora quem quiser abrir ou fechar o teto panorâmico pode fazê-lo através de um "slider" tátil, quase como se de uma operação no smartphone se tratasse, e controlar as luzes ou ativar o desembaciador dos vidros são tarefas feitas num pequeno painel digital que surge à esquerda do painel de instrumentos.
Se na imagem exterior ainda podemos encontrar vários pontos de ligação com o Golf original, o interior foi alvo de uma completa revolução, que também chegou à mecânica. A aposta na eletrificação foi reforçada, com a VW a duplicar o número de versões híbridas plug-in disponíveis e a introduzir, pela primeira vez, variantes semi-híbridas, equipadas com um sistema elétrico de 48V.
A aposta na digitalização continua com a tecnologia Car2X, que permite ao Golf estar em ligação constante com o que o rodeia, podendo receber e transmitir informações de tráfego ou de outros veículos, e com a assistente pessoal Alexa, da Amazon, que permite executar uma série de ações sem nunca tirar as mãos do volante.
Com preços a começar nos 26.467 euros em Portugal, a oitava geração do Golf quer respeitar a tradição e afirmar-se entre os modelos preferidos dos portugueses. É certo que ainda é cedo para "fazer contas", sobretudo porque o mercado de automóveis em Portugal atravessa dias difíceis, por culpa da pandemia da covid-19, mas para Nuno Serra as expetativas são altas. É sempre assim quando se fala de um Golf, "afinal este é um ícone do mercado automóvel com um carácter revolucionário e com uma história de mais de 200 mil unidades. Queremos que este Golf 8 seja uma oferta premium acessível a todos os clientes, que seja uma referência pela sua inovação a todos os níveis, num mercado automóvel que está numa fase de enorme evolução, que é transversal a todas as marcas. Não podemos olhar para a tradição como algo do passado, o peso do nome Golf é histórico, tanto para a marca como para o mundo automóvel, mas também olhamos para o presente e para o futuro e o Golf faz certamente parte do presente e do futuro de todos nós".