Estamos na cidade das luzes, mas se entre estes dias 5 e 9 de fevereiro tiver oportunidade de passar nos pavilhões do centro de Exposições da Porte de Versailles vai perceber que lá os faróis brilham mais forte. Pelo menos enquanto decorre o Rétromobile, o grande evento dos automóveis clássicos que atrai apaixonados dos quatro cantos do mundo. O evento é de tal forma marcante que nessa semana não se organizam um, mas três leilões de automóveis e memorabilia: dia 5, há o leilão da RM Sotheby’s; no dia 6, o da Bonhams, no Grand Palais; e a 7, o leilão oficial do próprio evento, organizado pela Artcurial. São três dias para gastar um jackpot do euro milhões e sair feliz.
Este ano o Rétromobile acolhe mais de 620 expositores, entre marcas e clubes automóveis, federações e garagens especializadas em restauros. Vão estar mais de 1000 veículos expostos e pode acompanhar workshops regulares sobre colecionismo e restauro ou eventos como o cinquentenário do Citroe¨n GS, marca que celebra também a primeira travessia em automóvel do Sahara. Foi em 1922, há quase 100 anos. Em display estarão 10 protótipos desenhados pela Bertone que nunca viram a luz do dia (incluindo uma Van Lamborghini), ou a coleção de Bernard Guénant, um engenheiro francês que é dos maiores colecionadores de Maseratis do mundo. E ainda vamos ficar a saber tudo sobre o primeiro Porsche elétrico, que ao contrário do que julgam não foi o Taycan, mas um Löhner-Porsche apresentado há mais de 100 anos. Depois, há demonstrações de tanques e tratores, que se revelam a antítese perfeita para a exposição dos desportivos mais icónicos dos anos 1990, ou para a coleção de McLarens F1 trazida pelo relojoeiro Richard Mille.
Para quem gostaria de entrar neste mundo, mas acha que está reservado a milionários, saiba que estão também expostos mais de 160 automóveis para venda – reunidos em parceria com a Catawiki – todos por menos de 25 mil euros! O negócio do século, chamam-lhe. Mas provavelmente os negócios do século serão os que vão realizar-se nos leilões das três grandes casas referidas. Já se quebraram vários recordes em Paris, e não se espera que este ano seja diferente, mas ainda assim não desespere porque nestes mesmos leilões encontramos preciosidades "acessíveis", digamos que pelo preço de um citadino novo. Por isso aqui ficam alguns dos automóveis mais surpreendentes, divertidos ou sobretudo extraordinariamente bonitos que poderá encontrar a leilão:
1929 Mercedes-Benz 710 SS Sport Tourer - Artcurial
Estimativa: 6 000 000 - 8 000 000 euros
O automóvel mais caro em leilão por estes dias — e quando foi lançado também já era o melhor que o dinheiro podia comprar. Feito na Alemanha e vendido para Nova Iorque, ainda regressou à Europa para ter a carroceria personalizada por um dos montadores mais prestigiados da altura, os franceses Fernandez & Darrin.
1966 Porsche 906 – Artcurial
Estimativa 1 400 000 - 1 800 000 euros
Estes Porsche 906, ou Carrera 6 tem uma impressionante história competitiva pilotado por vários "privados" durante os anos 1960 e 1970. Passou as duas décadas seguintes nas mãos de colecionadores e, finalmente, já este século voltou à competição, em provas históricas. Um raro exemplar que conseguiu sobreviver a tanta corrida.
1961 Rolls Royce Silver Cloud II LWB – Artcurial
Estimativa 80 000 - 140 000 euros
Quando um Rolls Royce simplesmente não é chamativo o suficiente – como foi o caso deste para a atriz Zsa Zsa Gabor — envia-se para um especialista em customização. No caso um dos mais famosos, George Barris, criador dos Batmobiles originais, entre outros. Este foi o resultado: um Roll Royce "d’ouro".
1965 Ferrari 275 GTB 6 Carburateurs – Artcurial
Estimativa 2 000 000 - 3 000 000 euros
Os Ferrari atraem sempre muita atenção, especialmente as grandes berlinettas dos anos 1960. Este GTB junta ainda um currículo competitivo impressionante, com mais de 40 corridas e a vitória nos 1000 km de Monza em 66.
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1963 Amphicar DWM Schwimmwagen – Artcurial
Estimativa 55.000 – 75.000 euros
Para quem quer fugir ao trânsito da ponte e às greves da Transtejo, tem aqui a solução: um carro anfíbio idealizado na Alemanha. E este Schwimmwagen continua totalmente pronto para navegar, especialmente depois do restauro completo entre 2012 e 2014.
1931 Bugatti Type 55 Two-Seat Supersport – Bonhams
Estimativa: 4.000.000 – 7.000.000 euros
A Bonhams leva ao Grande Palais uma coleção importante de Bugattis, onde se destaca este Type 55, encomendado especificamente para as 24 horas de Le Mans e entregue uma semana antes da corrida de 1932. Seguia em 5º quando ficou sem gasolina, porque uma pedra furou o tanque de combustível. Foi depois enviado para a Carosserie Figoni, em Paris, e totalmente customizado.
1955 Alfa Romeo 1900C SZ Coupé – Bonhams
Estimativa: 750.000 – 1.000.000 euros
Um Alfa raro, porque comprado pela Carrozzeria Zagato e preparado para a competição pelos também italianos Conrero. Participou em provas em Espanha, Suíça, Estados Unidos e agora regressou à sua Itália natal, onde depois de uma extensa recuperação – praticamente 400 horas apenas na mecânica – voltou a correr em provas de clássicas, como as Mille Miglia.
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1938 Delahaye 135 M – Bonhams
Estimativa: 200.000 – 300.000 euros
É justo que em França estejam vários Delahaye em licitação, em homenagem a grandes marcas francesas com a Delage, a Panhard et Levassor ou a Talbot, entretanto desparecidas. Este 135 é, sem dúvida, um dos melhores desportivos de todos os tempos, capaz de vencer nas pistas e nos concursos de elegância. Algo que tem sucedido com bastante frequência nos últimos 15 anos.
1955 Jaguar D-Type – RM Sothebys
Estimativa: 5.900.000 – 6.400.000 euros
Um dos automóveis a gerar mais interesse é este Jaguar, "apenas" o sétimo Type D jamais produzido. Um dos mais famosos modelos da história automóvel. No seu tempo teve uma bela vida competitiva na Austrália, e era o carro pessoal de Richard Attwood nos anos 1970, quando venceu Le Mans. A sua manutenção está há anos entregue a um dos mais respeitados especialistas mundiais da marca.
1958 BMW 507 Roadster Series II – RM Sothebys
Estimativa: 1.750.000 – 2.250,000 euros
O 507 é provavelmente o mais famoso BMW de antigamente, apesar de terem sido produzidos pouco mais de 250 unidades. Mas transformou a marca, que no pós-guerra fabricava pequenos utilitários, em algo sensual. 32 unidades foram parar aos Estados Unidos e a mais famosa às mãos de Elvis Presley. Este modelo foi responsável por um jovem William Young se apaixonar pela BMW e se tornar no maior colecionador da marca desse lado do atlântico. Anos mais tarde consegui encontra-lo (sabia o número do chassis) e juntar à coleção. Foi agora totalmente restaurado pela própria BMW, a primeira grande restauração da sua vida.
1946 Delahaye 135 Cabriolet – RM Sothebys
Estimativa: 350.,000 – 450.000
Mais um importante Delahaye 135, desta vez com carroceria Figoni et Falaschi. O modelo fazia parte da coleção Dayes, da qual a Sothebys leva à praça mais alguns exemplares, mas este 135 era uma das peças mais queridas, de tal forma que pintaram um Land Rover Defender nas mesmas cores. O Defender de 1993 também está à venda (8 a 10 mil euros de estimativa) e na sua condição de cavalo de trabalho original, ao contrário do Delahaye, minuciosamente restaurado e cuidado.