Sinais dos tempos
Estamos no ano da graça de 1982: Olivia Newton-John lidera os ‘tops’ musicais com Physical (mas Eye of the Tiger, dos Survivors, não anda longe), a febre do Naranjito e do Mundial de Futebol, realizado em Espanha, domina as atenções do lado do Desporto, enquanto Leonid Brezhnev morre, lançando a URSS num raro período de instabilidade governativa. Karol Wojtyla é papa (João Paulo II), na sua Polónia natal o sindicalista Lech Walesa é libertado, enquanto "lá em baixo", nas longínquas paragens das Falklands, a Argentina e o Reino Unido travam uma guerra por umas ilhas Malvinas que pouca gente sabia (e ainda agora poucos saberão) localizar num mapa.
As vendas do Opel City (que não é mais do que o Kadett C) já não conseguem acompanhar a tendência de uma preferência crescente que os mercados revelam por automóveis mais modernos, mais económicos, que aliem a versatilidade de um carro de família com a necessidade de afirmação individual (estilo, status económico-social, preocupações com... com quê? com nada!). Carros que se desloquem à vontade tanto em cidade como na estrada, e que apresentem melhor design e melhor equipamento, numa sociedade cada vez mais consumista e sedenta de coisas novas – o Compact Disc está aí mesmo a aparecer e o computador pessoal já está em marcha – triunfal – para o completo domínio do nosso mundo e das nossas vidas.
Do lado do fabricante de Rüsselsheim, todas as atenções se focam num novíssimo modelo, o Corsa, que se prepara para dar início a uma corrida que envolve toda a sua concorrência, ela igualmente empenhada em preparar os seus novos modelos. Vai ser uma guerra, nos anos que se seguem, neste que se passou a chamar o segmento B do mercado automóvel: Fiat Uno, Renault Super 5, Peugeot 205, Ford Fiesta 2ª geração, Nissan Micra, VW Polo Mk2, etc., etc., quase todos os fabricantes que contam posicionam-se nos blocos de partida.
Corsa, a revolução silenciosa
Foi a Opel que deu o tiro de partida dessa corrida. Baseada na tecnologia colocada à sua disposição pelo gigante General Motors – de que é o ponta de lança europeu – a Opel rasgou com o passado e lançou em setembro de 1982 um modelo completamente novo. Tração dianteira, uma estreia na marca, medidas reduzidas (3.62 m de comprimento, 1.53 m de largura, 1.36 m de altura, distância entre eixos de 2.34 m e um peso comedido de 735 kg em vazio – curioso como o peso dos automóveis tem evoluído sempre para cima nas últimas décadas), duas carroçarias: um hatchback de três portas e um sedan de duas. Dois anos depois chegariam as versões de, respetivamente, cinco e quatro portas. Do lado das motorizações, nada de muito novo: motores a gasolina 4-cilindros de 1000 cm3 com 45 cavalos, 1.2 de 55 e 1.3 de 70 cavalos. Mais tarde surgiria um diesel 1500 cm3, fabricado pela Isuzu, que desenvolvia 67 cavalos – começava a adivinhar-se o crescimento das motorizações a gasóleo nos segmentos mais populares e não apenas nos transportes de pessoas e mercadorias. Também mais tarde, com o passar dos anos, apareceriam motores de maior cilindrada, tecnologia e prestações: alimentação por injeção em vez de carburadores, cilindradas de 1400 cm3 (82 cavalos) a 1600 cm3 (98 cavalos).
Gerações seguintes
Onze anos depois do lançamento, surgia em 1993 a segunda geração do Corsa. Mais maduro e adulto, o pequeno Opel – que começava a deixar de ser assim tãoo pequeno – continuava a afirmar-se como o ‘best-seller’ da marca e um dos modelos de maior sucesso do mercado europeu, leia-se mundial. Em 1998, era mesmo o mais vendido em todo o mundo, com mais de 910 mil unidades a saírem de fábricas da GM em quatro continentes, e comercializado sob cinco marcas diferentes.
O presente e o futuro
Ao longo da vida do Opel Corsa, muita água correu debaixo das pontes, e o fabricante alemão sofreu algumas (muitas) pequenas (grandes) revoluções. Logo à partida, a sua propriedade. Fundada em 1862 para fabricar máquinas de costura e bicicletas, a Opel integrou o império da General Motors entre 1929 e 2017. Nesta segunda data, o gigante norte-americano decidiu vender a marca alemã (e a sua "irmã" britânica Vauxhall) à PSA, detentora da Peugeot, da Citroën e da DS. O grupo francês, liderado pelo português Carlos Tavares, entraria logo de seguida na criação do Grupo Stellantis, e num curto espaço de tempo a Opel viu-se englobada num enorme conglomerado de marcas que, teoricamente, eram (são) suas concorrentes. Não vos preocupeis, fiéis fãs da marca, terá afirmado Monsieur Tavares: a Opel continuará a fabricar automóveis, mas a partir de 2028, apenas.. elétricos.