Prazeres / Drive

O Honda e:Ny1 não é qualquer um

Logo à partida, o mistério do nome pouco comum, mas que quer dizer algo. Depois, o facto de ser um 100% elétrico pertencente ao maior fabricante mundial de motores de combustão.

O Honda e:Ny1 não é qualquer um
23 de fevereiro de 2024 | Luís Merca
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Os anglófonos irão ler e:Ny1 com pronúncia de Shakespeare. O que dá "anyone" – ou seja, "qualquer um", na língua de Camões. Mas não deixa de ser uma "contradiction in terms", já que o Honda e:Ny1 pode ser tudo menos qualquer um. Trata-se de um SUV compacto (vá, não muito grande) que se assume como a versão 100% elétrica da terceira geração do HR-V. O que nos leva à segunda parte: a Honda é o maior fabricante mundial de motores de combustão (para automóveis, indústrias várias, navegação e, não esquecer, geradores – sim, daqueles de produzir eletricidade). Acaba por ser uma nota com alguma piada, mas não mais do que isso. E a adesão da Honda à vaga da mobilidade elétrica é apenas uma confirmação de que esta é inexorável (a vaga da mobilidade elétrica, bem entendido).

Foto: DR

Tecnicalidades

O Honda e:Ny1 baseia-se na plataforma ‘e:N architecture F’ do construtor japonês e apresenta um motor de 204 cavalos sobre o eixo dianteiro. A bateria tem uma capacidade de 68.8 kWh, que permite uma autonomia de 382 km. Pode não ser este mundo e o outro, mas está em linha com o que a concorrência faz e permite uma poupança dupla que não é de desdenhar: poupança nos custos e no peso do conjunto. Por falar nisso, 1752 kg em vazio é quanto acusa na balança. As medidas comprovam o que foi dito lá em cima (não é muito grande): 4.39m de comprimento, por 1.87m de largura e 1.58m de altura. A distância entre eixos é de 2.61m, o que é bem percecionado no interior, que é espaçoso e generoso para cinco ocupantes mais bagagem (344 litros ou 1136 com os bancos traseiros rebatidos).

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Foto: DR

Ao volante

Confirma-se o que acaba de ser escrito – há espaço no interior para alugar (em vez de dar e vender). Posição de condução fácil de obter, embora o assento do condutor ganhasse em ser um pouco mais profundo. Ou então se tivesse uma extensão (elétrica, como todos os comandos) que o levasse até à dobra posterior do joelho. Tirando isso, está-se bem a bordo, muito obrigado. O equipamento é mais do que suficiente e a qualidade de materiais e acabamentos não merece a mínima crítica.

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Botão start/stop, acelerador, e os 204 cavalos (mais os 310 newton-metros de binário) revelam-se mais que suficientes para pegar nos 1752 kg (a vantagem de ser leve) e deslocá-los com agilidade, quer em cidade, quer em estrada. O problema da auto-estrada é o mesmo de todos os outros EV. Para a referida agilidade contribui muito, para além do peso, o trabalho eficiente da suspensão e o facto de as quatro rodas estarem posicionadas quase nos quatro cantos da plataforma. A colocação da bateria por baixo do piso contribui para baixar o centro de gravidade e proporciona um comportamento muito são: o e:Ny1 curva quase sem inclinação da carroçaria e, mesmo em encadeamentos de curva-contracurva, o desempenho é de muito bom nível.

Parece tudo muito bem, sim, mas quanto custa?

Bom, o preço do Honda e:Ny1 começa nos € 57.750, ou seja, está estrategicamente posicionado para beneficiar dos incentivos fiscais que o Estado português confere às empresas que adquiram VEs. E o cliente particular, no meio disso? Aí há, de facto, um problema com que se depara o mercado nacional, e não tanto um problema da Honda. Esse problema só deverá ficar resolvido quando se popularizarem e democratizarem as novas tendências da mobilidade: por exemplo, usar o automóvel como um serviço e não tanto deter a sua propriedade.

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