Prazeres / Drive

Novo Tesla Model 3 Performance: era preciso tanto?

Era. Convenhamos, cavalos nunca são a mais e estes 460 da variante Performance cumprem muito bem a sua missão: fazer do Tesla Model 3 um lobo em pele de cordeiro.

Foto: Tesla
16 de agosto de 2024 | Luís Merca
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Escalar o Evereste? Porquê?

Porque ele está ali. Foi a resposta que o montanhista George Mallory deu em 1923 quando lhe fizeram essa pergunta. Passa-se mais ou menos o mesmo com a Tesla, ainda por cima sabendo-se quem é o CEO da marca americana. Mais e melhor é o lema e a constante meta a atingir pela Tesla e por Elon Musk. No caso patente deste Model 3 Performance, a ideia é muito simples: lançar uma versão que peça meças a supercarros, superdesportivos, de altas prestações, mas com o aspecto de um sedan familiar. E por uma fração do preço, já agora.

Foto: Tesla

"Novo" Model 3

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O Tesla Model 3 já de si era um sucesso, quer do ponto de vista comercial – o EV mais vendido no mundo – quer nas vertentes técnica e dinâmica. Ainda mais nesta segunda geração, que mudou (‘ma non troppo’) o design exterior. E não só. E aqui entra uma particularidade dos veículos elétricos e concretamente da Tesla: as evoluções técnicas e de prestações vão sendo introduzidas a cada atualização de software – ao contrário de determinado fabricante de telemóveis, a cada atualização há uma verdadeira evolução e melhoria do automóvel, e não um retrocesso. Fica a "bicada". Não obsta que em 2023, seis anos depois do seu lançamento, o Model 3 tenha recebido alterações mais profundas: estéticas, logo à partida, com novas assinaturas luminosas nos faróis dianteiros e traseiros. Mas também funcionais: melhor aerodinâmica, aumento da autonomia, suspensão otimizada – resultando num comportamento em estrada de (ainda) melhor nível – tudo isto a juntar a alterações no interior.

Foto: Tesla

Onde estão as manetes dos piscas? E das luzes? E do limpa-vidros?

Não há. Desapareceram. O volante está agora sozinho, sem uma manete de cada lado. Todas as funções acima referidas têm atalhos no centro do volante e também podem ser acedidas e controladas no ecrã central, de resto como tudo o que tenha a ver com... bem, com tudo. Tal como a cerveja, primeiro estranha-se, depois entranha-se. Pode custar um pouco a habituar, principalmente fazer o pisca sempre que se muda de direção, mas ao fim de alguns minutos até parece que as ditas manetes nunca existiram. E o design clean e minimalista do habitáculo do Model 3 está ainda mais clean e minimalista.

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Mas... é verdade: então e o seletor da caixa de velocidades? Como se engrena o D, o R, o P? Muito simples: no ecrã. Uma linha vertical onde se faz swipe up para andar para a frente, swipe down para fazer marcha-atrás, carrega-se no centro dessa linha e o P entra em ação. O Model 3 fica travado eletronicamente e, tal como já acontecia anteriormente, nem é preciso carregar no botão start/stop porque, pura e simplesmente... não existe. É sair do carro e afastar-se dele para o fecho central o trancar. Uma app fácil de instalar no smartphone e de operar, mesmo à distância, (quase) permite "arquivar" o cartão-tipo-crédito que substitui a chave. Admirável mundo novo! 

Foto: Tesla

E, concretamente, esta versão Performance?

Pois é tão-só um lobo em pele de cordeiro. Um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde. Um sedan familiar, capaz de transportar cinco adultos num conforto irrepreensível, de ir às compras e de levar os filhos à escola, mas que, mediante uma pressão mais forte no pedal do acelerador, nos transporta para acelerações de fazer colar as costas ao banco e de criar aquele efeito visual em que parece que o mundo fica blurred e desaparece a uma velocidade estonteante, de cada lado do nosso campo de visão. Isto deve-se aos 460 cavalos debitados e à aceleração dos 0 aos 100 km/h nuns meros 3.1 segundos – algo só à disposição dos acima referidos supercarros, superdesportivos. A velocidade máxima é de 262 km/h e a autonomia fica-se pelos 528 km, o que, convenhamos, não está nada mal. Claro que não será atingida a essas velocidades e com essas acelerações, mas fica de novo o registo de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

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Ao volante

O tal que não tem manetes, exatamente. Pé no travão, swipe up no ecrã, acelerador, e a caminho de um test-drive que incluiu uns quilómetros em estrada de montanha, para medir as acelerações e recuperações, e um troço de auto-estrada, o grande inimigo dos EV. Acelerações de cortar a respiração, travagem de muito bom nível, de novo acelerador e de novo uma aceleração de criar rugas nas bochechas. Comportamento em estrada exemplar, suspensões ativas a impedirem qualquer rolamento e inclinação da carroçaria, algo que aumenta ainda mais a sensação de rapidez, dir-se-ia mesmo de repentismo. 

Foto: Tesla

Auto-estrada, então: quer abaixo, quer principalmente acima da velocidade máxima permitida, o débito de energia e consequente esvaziamento da bateria parece não afetar muito o Model 3 Performance, de resto uma característica comum à gama da Tesla. Claro que não a 262 à hora, até porque parece que não é permitido, mas a velocidades minimamente aceitáveis consegue-se uma autonomia em auto-estrada que não põe restrições ao condutor. Só não foi possível testar o carregamento de alto débito porque todos os postos, à ida e à volta, estavam completamente cheios e com filas de meia dúzia de veículos para cada posto.

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Com prestações destas, o preço deve ser astronómico

Pois a questão é que... não é. O Tesla Model 3 Performance custa €57.490 (sim, não é engano, são mesmo cinquenta e sete mil euros, por extenso), o que, no caso das empresas, significa que, IVA recuperado, este supercarro, superdesportivo, fica nuns €47.750 que o deixam a anos-luz dos outros super... isso mesmo. E continua dentro do limite de preço que lhe permite beneficiar das vantagens fiscais com que as empresas são bafejadas. De resto, com a versão Long Range (tração integral) a custar €50.490, a questão coloca-se de outra forma: não irá o Performance "canibalizar" o seu próprio irmão... primo... amigo... da onça?

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