MG? Morris Garages?
A MG "original", chamemos-lhe assim, foi fundada em 1924. Celebra este ano, por isso, o centenário. Foi responsável por alguns dos mais icónicos modelos nascidos na Velha Albion, com especial destaque para os pequenos ‘roadsters’ dos anos 60 e 70 do século passado, os MGA, nas suas diversas "gerações" (embora na altura o termo não fosse utilizado). E não esquecer – como esquecer? – o famosíssimo MGB, o coupé que, passadas cinco décadas, continua a liderar as licitações de muitos, tantos leilões de automóveis clássicos.
Mas faça-se ‘fast forward’ para o último quartel do século XX: a MG tinha sido englobada naquela amálgama a que se chamou BMC (British Motor Corporation), depois foi a British Leyland também de má memória e, finalmente, o Rover Group. Não tendo tido a mesma sorte de outras famosas marcas inglesas, a MG abriria falência em 2005, com dívidas de 1400 milhões de libras.
A segunda vida no Império do Meio
Entra em cena a SAIC Motor (ex-Shanghai Automotive Industry Corporation), pertencente ao Estado chinês. Compra a marca MG, mantém-lhe o nome, o logótipo também, a sede comercial continua a ser em Londres, mas terminam aqui as semelhanças. Agora a MG é uma marca chinesa, fabrica os seus carros na China, na Tailândia e na Indonésia, e dedica-se em exclusivo às viaturas elétricas e eletrificadas. E parece não se estar a dar nada mal com a mudança, tendo em conta o ritmo a que lança para o mercado novos modelos.
MG4
Pronto, como nome de modelo é, convenhamos, algo lacónico. Minimalista, vá. No seu lançamento, na China, chamava-se Mulan, mas também por lá adotou posteriormente o nome MG4. Estreia a plataforma Modular Scalable Platform da SAIC (chama-se Nebula na China) e foi concebido com o mercado europeu como primeiro alvo.
Calhou-nos testar um MG4 XPower, uma versão de dois motores (logo, de tração integral), que foi lançada em julho de 2023. A potência total é de 429 cavalos e o binário de 600 Nm. Nada mal para um carro que mede 4.29m de comprimento por 1.84m de largura e 1.50m de altura. E, principalmente, que pesa 1665 kg. Com valores destes, não admira que o MG4 acelere dos zero aos 100 km/h em apenas 3.8 segundos, uma marca que só está ao alcance de desportivos com D grande. Em termos visuais, no exterior, distingue-se pela cor Hunter Green, de belo efeito, e pelas jantes de 18 polegadas, com "XPower" pintado a laranja nas pinças dos travões.
Lá dentro
Com uma distância entre eixos de 2.71m, o espaço interior acolhe bem quatro adultos, sendo que os dois de trás não convém jogarem basquetebol a "poste". Ainda assim, o espaço está longe de ser acanhado e mesmo a bagageira é bastante aceitável. Nota especial para as baterias, que contribuem para este espaço a bordo: são do tipo "One Pack", mais finas (medem apenas 110mm de altura), o que não prejudica muito o espaço interior nem obriga a aumentar a altura do carro.
Uma pequena interrupção (técnica) para voltar às baterias. A já referida plataforma permite duas voltagens para o carregamento: 400 e 800 volts. Nesta última, em apenas cinco (5) minutos, carrega-se 200 km de autonomia; e em 15 minutos atinge-se 80% da capacidade. O total, os 100% dessa capacidade (64 kWh), dão para percorrer até 385 km, segundo a norma WLTP.
Voltando à descrição do interior: a eletrónica embarcada está ao nível do que de melhor se faz nesta altura do campeonato. A qualidade apercebida de materiais e acabamentos é elevada – já lá vai o tempo em que os construtores chineses não estavam à altura neste departamento. Agora já têm uma imagem a defender e defendem-na bem. A ambiência interior tem um ar desportivo que vai bem com a estética exterior e tudo isto prova que o mercado europeu foi mesmo a preocupação primordial da marca.
Ao volante
Botão start/stop não há. Se alguém se sentou no banco do condutor, colocou o pé no travão e selecionou D no seletor da caixa de velocidades, é porque quer andar, certo? Então o start é redundante. E quando pára e seleciona P, aciona o travão e bloqueia as rodas... para quê o stop? Já o acelerador, quando é pressionado, revela a agilidade do MG4. Agilidade é mesmo a palavra-chave, mas segurança também não falta à chamada. A suspensão deste XPower foi reforçada e endurecida em relação às versões "normais" e a travagem é progressiva q.b. A posição de condução, fácil de obter, ajuda a que a experiência de conduzir um MG4 seja bastante prazerosa, coisa que há uns anos não se poderia mencionar ao falar de um EV. Acelerações de muito bom nível e, principalmente, um "pisar" bastante são, que nem as curvas mais apertadas coloca em xeque.
Quanto custa?
Por falar em cheque, mas este com "ch", os preços começam nos 26 mil euros e uns pozinhos, mas a nossa versão XPower, o topo da gama, fica-se pelos 39.600, ou seja, abaixo dos 40 mil. Faz lembrar algo, não faz? Faz lembrar aquela marca americana que vende que se farta o seu modelo bestseller...