Mazda, o mundo ao contrário
Talvez por ser um dos últimos fabricantes automóveis da velha guarda a não fazer parte de um grupo, e por isso poder tomar decisões sem interferências externas, a Mazda Motor Corporation sempre teve uma forma muito própria de atuar. Exemplo: na mobilidade elétrica, deixou-se ficar para trás durante algum tempo, certa de que a sua aposta é que era a correta – motores de combustão de última geração, a gasolina e a gasóleo, reunidos sob o "guarda-chuva" tecnológico SKYACTIV.
Quando se aperceberam que, se calhar, seria boa ideia seguir os novos ventos, os Senhores que dirigem a marca japonesa puseram mãos à obra e lançaram o MX-30 EV, totalmente elétrico. Com uma autonomia algo reduzida (mais uma vez, a Mazda achou não haver lógica em oferecer autonomias enormes, com os consequentes aumentos do peso da bateria e dos custos de produção), o modelo sofreu de imediato a falta de autonomia em comparação com a concorrência.
Híbrido, sim, mas também aí diferente dos outros
De novo ao contrário dos seus concorrentes, a seguir ao primeiro Mazda 100% elétrico veio o primeiro Mazda híbrido PHEV. Só para relembrar o leitor e situá-lo no cerne do tema, motorização híbrida é a junção de um motor de combustão interna com outro(s) elétrico(s), e uma bateria de maior capacidade que permite, no limite, mover o veículo de modo 100% elétrico durante determinada distância. O referido motor dito "térmico" pode ser a gasolina ou a gasóleo (no caso patente, a Mazda escolheu o primeiro combustível) e o carregamento dessa bateria pode ser feito apenas em andamento, na desaceleração e travagem, ou ligando-a a um carregador, doméstico ou público.
Até aqui tudo normal. Só que a Mazda tinha de fazer diferente: o motor a combustão não é um vulgar "cilindros em linha" – nem em V, já agora – e é, sim, do tipo Wankel, dito rotativo, no qual um pistão roda (logo, é rotativo) no interior da câmara de combustão, e nesse movimento dá-se todo o ciclo: admissão, compressão, explosão e escape. Outra característica diferente – sim, que a Mazda não se poderia ficar por apenas uma – é o motor Wankel (o tal rotativo) se destinar apenas a gerar energia que é convertida em eletricidade para carregar a bateria. Trocando por miúdos, o motor Wankel não está ligado às rodas; o que está, sim, é apenas o motor elétrico, alimentado pela bateria que o motor Wankel carregou. Ou o motor Wankel, ou então o carregador plug-in, doméstico ou público.
Ao volante
O Mazda MX-30 e-SKYACTIV R-EV (outra característica da marca, o nomes são compridos) apanha a boleia da moda global dos SUV, mas – ainda e sempre! – não é um SUV como os outros, pelo menos no que respeita às portas. As de trás são as chamadas portas "assassinas", um nome algo exagerado: abrem ao contrário das da frente – sendo que só abrem quando as da frente estiverem abertas, a segurança acima de tudo. O acesso aos lugares traseiros não é assim o mais facilitado, mas vive-se bem com isso. Já os lugares dianteiros são fáceis de aceder, espaçosos, e proporcionam uma ambiência luminosa, de qualidade de materiais e acabamentos, equipamento completo, boa posição de condução. Um Mazda, portanto.
Botão start/stop premido, silêncio, o arranque dá-se sempre em modo elétrico, caixa em D, e primeiras impressões: comportamento muito são e neutro, a suspensão filtra bem as imperfeições da estrada e o motor elétrico permite acelerações de bom nível. Coisa normal quando se fala do binário de um elétrico. Uma aceleração mais forte faz acordar o motor rotativo, na sua função de criar mais eletricidade para a bateria, por sua vez, transmitir mais potência às rodas. Com este sistema híbrido elétrico/combustão, o MX-30 plug-in proporciona uma bela autonomia 100% elétrica de 85 km, o que, somado ao ao depósito que gasolina que alimenta o motor Wankel, dará uma autonomia total de cerca de 600 km.
Em termos dinâmicos, a velocidade máxima está limitada aos 140 km/h, com o 0-100 km/h cumprido em 9.1 segundos. Os consumos ponderados prometem 1.0 (sim, um litro) de combustível aos 100, enquanto o motor elétrico aponta para os 17.5 kWh também aos 100 km. Tudo valores da marca, que teremos oportunidade de conferir em breve num test-drive mais alargado.
E o preço? – perguntará o interessado leitor
Começa nos €40927 e sobe até aos €46427, consoante as linhas de equipamento disponíveis (Exclusive-Line, Advantage, Makoto e Edition R). Terá bons argumentos para singrar no mercado nacional? Sem dúvida que sim, e o problema da Mazda Portugal até poderá ser a falta de unidades para entrega, algo que se verifica sempre no primeiro ano de comercialização de um modelo. Até breve, Mazda MX-30 e-SKYACTIV R-EV.